10.05.2005

CIDADE ADULTA

Há Roma, de Fellini, cidade aberta, de Rosselini, como há Cidade oculta, com Carla Camurati - a São Paulo onde Fernando Pessoa toma ritmo e conteúdo especiais com Arrigo Barnabé: Nunca conheci ninguém que tivesse levado porrada. Haverá também para sempre Olha a pista chegando e vamos nós, com Tom Jobim.

Para quem não sabe, Florianópolis, em boa parte, é uma ilha açoriana cercada de restaurantes italianos por todos os lados.

Da sua porção insular, por trás dos prédios que ficam bisbilhotando o contorno dos morros continentais do lado de lá da baía e ouvindo a zoeira incessante de motos e automóveis ensandecidos na Avenida Beira Mar, há coisa-muito-boa à vista.

Pizza Mia.

Há muitos pingüins no lugar onde eles vivem; um deles será aquele a olhar nos olhos do estranho que vai parar por lá, a dar de cara com muitos pingüins que vivem na terra dos pingüins e percebe o olhar de um só deles, o pingüim afim, com afinidade no olhar com o olhar do estranho que chega por lá.

As pizzas do Pizza Mia são daquelas de massa fininha. A cobertura é sempre delicada, às vezes doce, outras, salgada, mais comumente salgada e doce ao mesmo tempo, e sempre leve, de bom gosto e gosto bom. Os vinhos, competentes, como o são as sobremesas. Quem serve é mais: bem educado; gentil; oportuno.

De uma tela de Modigliani, sai a flutuar no ambiente sua regente - cujo nome só será desvendado quando o artista que a inventou assim o quiser.

Para jamais esquecer que a vida há de ser feita de poesia, os banheiros do Pizza Mia ficam por trás e à esquerda de uma porta com escotilha e se distinguem um do outro por sutis e angelicais carinhas, que ocupam cada qual um dos quadrantes de respectivos quadrinhos com ares infantis. Como se fossem os morros do outro lado da baía entre a ilha e o continente, olhando por trás da escotilha à procura do pingüim afim, lá está um quadro que Modigliani gostaria muito de ter pintado, assinado por Karem, datado de 2005.

Vá lá - e veja e admire duas figuras femininas a deixar pingüins a ver navios; e homens e mulheres a ver o que há de belo e poesia.

Floripa, cidade adulta, teu nome é Pizza Mia.

Um comentário:

Anônimo disse...

Caro Mário,

Estive por aqui, a conhecer o Diário com rima e tudo.
Voltarei a partir de algum computador mais veloz e de uma conexão menos grambeliana, logo que tiver uma oportunidade.
Vantagem é que dificilmente se ouve dizer que alguém tenha desaprendido um caminho. Quem sabe porque os caminhos não se localizam apenas na memória, mas se entranham nos sentimentos, nas pernas, nos olhos e são quase tão importantes quanto o sítio em que se pretende chegar.
Um abraço e que o Diário, seja sempre crescente como seus ditongos e que receba as alvíssaras que merece por dispor ao mundo as sempre boas novas da literatura!

Um abraço,
Aldo Votto