7.09.2018

NEM TANTO NEM TÃO POUCO

O Brasil saiu da copa e pronto. Foi-se o efeito do ópio nacional. Parece que não foi só a copa que acabou para nós: o mundo acabou. Eis que um juiz de direito resolve dar uma mãozinha. O caos é aqui. Nem tanto nem tão pouco. Já faz um tempo que o executivo e o legislativo, em grande parte, invadiram o espaço do crime, e o judiciário ocupou o espaço político, legislando, tomando partido, trazendo à tona disputas, intrigas e reviravoltas típicas do mundo político. Prato cheio para salvadores da pátria, mártires, e o pior, fascistas. O que particularmente me impressiona é que pessoas de gerações que abriram, ajudaram a abrir ou encontraram abertas as portas para o até que o amor nos separe, o sexo sem culpa e com proteção, o convívio e a empatia entre diferentes façam coro ao que de pior o fascismo pátrio e universal já produziu. Provavelmente muitos deles, dos que se dizem eleitores do fascismo, dirão que não são fascistas, e que nem seu candidato o é. Pois nada mais fácil que provar que o citado é fascista, assim como o foram Hitler e Mussolini, do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães e do Partido Fascista Nacional italiano. Vamos lá. Tive a oportunidade de conhecer quilombolas no interior de Goiás, da etnia kalunga. O que hoje é um nome comercial, sim, ainda é uma comunidade quilombola, que provavelmente não ganha royalties por isso. Por que me lembrei deles? Porque são trabalhadores. Conheci um, inclusive, que de tanto trabalhar passou a ser dono de terras produtivas. O candidato do fascismo afirma que quilombolas são vagabundos, em clara demonstração de racismo e preconceito, este já manifesto pelo mesmo indivíduo das mais diferentes formas. Fez elogios a um torturador, justifica atos de um regime autoritário, que foi muito além em matéria de arbítrio e crueldade do que poderiam imaginar seus então defensores, agride mulheres a ponto de dar a entender que as que sejam belas ao seu olhar fascista seriam dignas de estupro, e repete a célebre frase bandido bom é bandido morto. Voltemos à Itália. Bandido vem de banido. No Brasil, banimos antes, durante e depois. Dizer a tal frase é se considerar superior. Diga-se, superior à maioria, de banidos. Eis a receita do fascismo com todos os seus ingredientes. Em vez de poderes democráticos e todos os seus defeitos, a perfeição da força e a de quem a tenha e ostente. A supremacia, a eugenia, a xenofobia, a homofobia, o machismo, o racismo, o gosto pelo autoritarismo, o nome disso tudo é, sim, fascismo. Para quem vê comunismo em toda parte, atenção. Este, aliado ao capital, derrotou o fascismo - e não o contrário. O que o fascismo fez foi destruir gerações. Agora, uma pergunta a quem pensa em votar no candidato do fascismo. Se você fosse obrigado a comer do lixo alheio e dormir na rua, roubaria? Mataria? Se drogaria? Traficaria? Claro que não: você é correto. E superior. Uma segunda pergunta. Se estivesse passando por aquele tipo de necessidade, com fome, ao relento, se estivesse ao lado de alguém com características entre as que você considera inaceitáveis, deitado sobre o último papelão da rua, você pediria um pedacinho do papelão para dormir? Ou chutaria o outro desgraçado dali? E quem seria o bandido desta vez? Há candidatas e candidatos para as mais diversas correntes econômicas e políticas. Escolha. Menos o fascismo. Derrote o que você quiser com seu voto, seu grito, sua revolta, mas não com o fascismo, entre outras coisas já historicamente derrotado. Não seja fascista, porque, mais cedo ou mais tarde, necessariamente, a vítima será você.