12.13.2015

O encontro de Don Manolo com Cervantes (na morte do meu sogro)

O encontro de Don Manolo com Cervantes (na morte do meu sogro)

Don Manolo, hombre de pocas palabras y plácido sonriso
Amante de las motos
Profundo conocedor de los vehículos y mucho más
De las gentes
Saudoso de su Galicia y toda su España
En sueño profundo se fue al encuentro de Cervantes
Para decirle, Miguel, los molinos de vientos se quedan
Como Don Quijote los encontró
Las gentes permanecen olvidadas de las palabras y mucho más
De los silencios.
Cervantes acarició sus propias barbas y bigotes
Salió a caminar como se fuera un loco
Miró Don Manolo profundamente dentro de sus ojos
Suspiró y finalmente respondió al recen llegado.
Manuel, dejemos las personas con sus molinos de viento
Vamos nosotros al encuentro del propio viento.
Al comando de Cervantes
Los dos inspiraran y después soplaran todo el galáctico viento.
Fue cuando las gentes si sorprendieron con la lluvia
De meteoritos. 


 





9.12.2015

REALIDADE, SONHOS, VIAGENS

Nesses tempos de governo, para dizer o mínimo, irresponsável, perdido e negligente, com nosso tão duramente conquistado real perdendo valor, para não se ensimesmar em turvos pensamentos é preciso perder o juízo, sonhar e viajar. Foi o que Rosa e eu fizemos, em rápidos e inesquecíveis dez dias.

Nelson Rodrigues dizia que o único inglês de verdade era o Antônio Callado. Quase conheci um segundo no ano passado em Londres, mas, por um detalhe, deu pra ver que Nelson como sempre estava certo: o sósia de John Hurt – que tampouco é de verdade, porque só faz personagens e sempre brilhantemente – lia, mas em um tablet. Há reis e rainhas, mas são realeza, não realidade. Desta vez, tomamos café da manhã em um lugar que também não existe, chamado Café Mignon, na City of Westminster, perto da Victoria Station. Lá tem um jardim interno onde chove enquanto lá fora faz sol, uma inglesa que fala alemão, mas que pode ser uma alemã que fala inglês, um libanês, e uma provavelmente inglesa a quase contrariar Nelson. No Convent Garden, uma banda de violinos e violoncelos tocava e cantava e dançava, enquanto bebíamos vinho branco. Perto do Café Mignon, jantamos pizza servidos por uma furiosa jovem italiana, enquanto outra, não sei de que nacionalidade, me olhou de cara feia porque espirrei. Claro: Antônio Callado jamais espirrou.

Fomos de trem a Manchester, onde apresentei um segundo trabalho em coautoria com meus amigos Baltazar Guerra, PhD nascido em Portugal radicado no Brasil, e Alek Suni, economista americano descendente de finlandeses, no Simpósio Internacional de Adaptação às Mudanças Climáticas, na Manchester Metropolitan University. Como era tudo um sonho, erramos de vagão no trem, mas ninguém nos expulsou. Fomos de ônibus a Notting Hill, escrito errado por eles de propósito, porque o certo seria Nothing Hill, pois é lá que fica Portobello Road, que só existe em canções. Em outro trem, fomos a Chester, que também não existe, já que é medieval e tem uma loja de City Tan, de bronzeamento artificial, que confundi com City Tour, para desespero das atendentes e da Rosa. Em Chester foi que aprendi que Manchester é pró e paroxítona: se pronuncia MAN-Chés-ter. Na França, seria oxítona; mas era Paris, outro lugar inexistente.

Hemingway a chamou de festa móvel, e quem se atreveria a dizer que ele estava errado? Lá, passeamos de dia e com sol e de noite e com sol. Visitamos jardins, andamos a pé e de barco e de triciclo, nos perdemos e nos achamos. Em um show de Gospel na igreja de Saint Julien le Pauvre, um casal muito jovem ficou noivo no final do espetáculo, e Rosa tirou nossas alianças da bolsa. Disse a ela que as guardasse, porque nossa festa seria somente nossa, assim como aquela seria somente dos dois no altar, tendo os músicos ao seu redor. E assim foi: no Closeries des Lilas, restaurante que era frequentado pelo mesmo Hemingway, pedi ao pianista que tocasse Tom e Vinicius. Em frente ao piano, ao som de Eu sei que vou te amar, trocamos nossas alianças, e o emocionado pianista me disse ter sido a primeira vez em sua experiente carreira que isso acontecia. Sem nunca termos nos separado, vamos nos casar outra vez, agora com direito a juiz de paz.

Termino voltando ao mundo real e parafraseando Fernando Pessoa. Na Europa, a tão duramente conquistada paz se funde com o drama dos imigrantes. No Brasil, o Governo mente. Mente tão descaradamente, que finge ser mentira a mentira que deveras mente.


Sigamos, enfrentando a realidade, sonhando, viajando. Bons sonhos, boas viagens, bom sábado.

8.22.2015

7.05.2015

DEZ ANOS DE O DIÁRIO DE UM MARIO

O nome, claro, é uma brincadeira com o livro do Paulo Coelho. O blog O Diário de um Mario nasceu com dois propósitos: divulgar meus textos e criar uma disciplina para minha atividade de escritor. No começo, funcionou: todos os capítulos de A Revolução do Silêncio nasceram no blog, quando o romance ainda se chamava A Dinastia de Ricardo Coração dos Outros; e toda terça-feira eu publicava uma crônica ou um poema. Com o tempo, a disciplina desapareceu, e os livros e o Face Book foram tomando espaço do blog. Mas hoje, não: este texto foi criado para o blog e depois copiado para o FB.

O tema do Terceiro Sarau do Mario, ainda sem local, mas com data – 22 de agosto -, será exatamente este: Dez anos de O Diário de um Mario. A ideia surgiu de um comentário de Luiza Kons, que me entrevistou em seu programa Conversa de Lado, da Rádio UFSC.
Eu e minha garage band - Carine Bergmann, seu marido Ramon e Lucas Ferreira -, fazemos nosso planejamento quinzenal no pub Blue Bird, na Rua Mauro Ramos, em Florianópolis. É o mais inusitado pub que conheço: só abre para almoço; à noite, só para nós. O dono, Nicolai, dorme lá e é poeta. Nas paredes, poemas de Paulo Leminski, José Régio e, a pedido do Nicolai, passou a ter um trecho do meu Os Olhos Delas, que deu título ao livro que publiquei ano passado. Lá, no mesmo Blue Bird, foi ensaiada, por Cassiano e Dilmara, uma canção minha - Cervantes, o Bar, que fiz quando ainda morava no Rio e frequentava o Bar Cervantes na esquina de Prado Junior com Barata Ribeiro, lá pelo final dos anos oitenta. Observar alguns frequentadores e a redondeza inspirou o refrão: “olhando no fundo do copo”.

Dia desses, comecei a ler algumas das crônicas da coletânea As Cem Melhores Crônicas Brasileiras, de Joaquim Ferreira dos Santos, publicada em 2007. Uma delas se chama Morreu o Valete de Copas, de um certo João Antônio, segundo o qual Esdra Passaes, o valete falecido, "dizia que a verdade, se existe uma, mora nos olhos das mulheres e no fundo dos copos".

Inspiração é isso: uma nuvem passando ao alcance das mãos de quem tiver a curiosidade de saber que textura e gosto uma nuvem tem.

Minhas boas vindas às comemorações dos dez anos de O Diário de um Mario.

Bom domingo. Boa semana.

4.18.2015

A QUE TRABALHAVA FORA

Nasceu em um meio e tempo em que mulher trabalhar fora era feio,
Sinal de que o marido não tinha ou não ganhava o bastante.
Cedo ficou órfã de pai e mãe, e foi trabalhar - trabalhar fora.
Trabalhou em rádio, foi chefe de seção no Ministério.
Pelo Ministério, foi trabalhar fora - Nova Iorque.

Cartas
apaixonadas bem escritas cartas
a trouxeram de volta ao Brasil.


Casou-se, criou os filhos. De dia, trabalhava no Ministério.
À noite, traduzia livros
de mistério.
Já doente, me disse uma vez,

Eu sou uma mulher medíocre.

A mim coube a benção de dizer a ela o óbvio.

Muitas mulheres do seu meio e tempo poderiam se achar medíocres.
Não você.

(Os olhos delas, Bênçãos)


Livrarias Catarinense, 16 de abril de 2015 - roda de poetas e autógrafos do livro Os olhos delas.

3.15.2015

Ter estado lá


Estive no comício das Diretas Já. Depois – santa ingenuidade -, estava na orla de Ipanema participando da campanha do Lula contra o Collor. Não estive entre os Caras Pintadas – hoje, gostaria de ter estado. Hoje, estive, estava, estou. De corpo, cara e alma lavados.
 

3.01.2015

ALIENAÇÕES


Há gente importando carne maturada em cerveja do Japão. Japonês quando vem a uma churrascaria brasileira tira fotos das peças de carne. Todo mundo sabe que o Brasil é exportador de carne. Quem importa carne do Japão provavelmente está importando carne brasileira. Quem faz esse tipo de coisa vive em outro planeta e faz questão de mostrar que seu planeta é outro; um caso típico de alienação.

Há pessoas alienadas porque alijadas da informação e educação, como há quem se aliene lendo e ouvindo exclusivamente aquilo que pertença a uma única doutrina, e a tudo defende com base nos mantras que ouve e repete, às vezes com ares de superioridade, não raro com grosseria. Esses, em breve, estarão mais que alienados: isolados, porque ninguém aguenta chatos por muito tempo.

No governo, há vários ministros alienados dos seus ministérios, e três com destaque: o dos esportes, o da educação e o da ciência e tecnologia. Já a presidente é alienada do país que pretensamente governa e isolada do ministério, do congresso e da população; até de seus eleitores se isolou.

Serão os que querem o impeachment alienados?

Quais são os maiores interessados no impeachment? No exclusivamente da presidente, Michel Temer; no de ambos, uma extensa lista, que começa com Lula, passa por Aécio e Marina e vai até Bolsonaro. Os provisórios – presidente da câmara, do senado e do STF – são também interessados, especialmente em recursos capazes de tornar provisoriedade permanência.

O que se podia querer é um governo que se interessasse e tivesse respeito pelo país. Por exemplo, um ministério com 2/3 dos 39 ministros que o compõem facilitaria um bocado a tarefa do Mãos de Tesoura. Ministros afinados com seus ministérios trariam credibilidade e fariam jus ao dinheiro que investimos nos seus salários e suas funções. Aqui no Brasil, vira e mexe se esquece de que eles que governam são pagos por nós, e não o contrário. Se não estamos satisfeitos, mandar embora, pedir a troca, é nosso direito. A presidente deve ter notado que sua maldita base já deixou de ser base há tempos; então porque não despacha logo os incompetentes, canastrões e vis? Se ela for refém de alguma coisa, que acuse a condição e peça socorro. Se for cúmplice, aí a história é outra; se assim for provado, e a depender do quê, vamos, sim, querer mandá-la embora, e nos restará escolher entre os que se apresentarem. Sempre bom lembrar que na democracia os patrões somos nós. Sempre bom não esquecer que intervenção militar são fuzis apontados para dentro de casa, para nossas caras, nossos narizes.

 

2.22.2015

ALMADA


O momento é de tristeza, mas ele não iria gostar disso. Nós nos conhecemos na Internacional de Engenharia, em 1984, ambos vindos de casamentos desfeitos. Após uma aula de um curso no centro do Rio, ele me convidou para um chope. Foi o primeiro de muitos, em muitas ocasiões. Uma vez, saiu para comprar cigarro e trocou de carro. Em outra, recebeu um telefonema, demitiu-se e foi morar e trabalhar em São Paulo. Depois, por causa de um projeto em Angra I, foi morar lá, em uma casa muito simples, à qual acrescentou uma enorme varanda com piscina e vista para o mar, e eu dizia que era o primeiro barracão com varandão e piscina que eu conhecia. Casou-se com Ângela, e os dois se mudaram para Cabo Frio. Eu já estava com a Rosa; numa das vezes em que fomos visitá-los, o pneu do meu carro furou; Anete, uma mulher de verdade, percebendo minha falta de jeito, trocou o pneu. Chegamos exaustos, mas qualquer cansaço desaparecia na companhia deles. Mais ou menos na mesma época, meu namoro com Rosa fazia um mês, e ele me chamou para um chope no Belmonte do Flamengo; depois, fomos à casa dos pais do André assistir ao jogo de despedida da seleção do Lazaroni. Acabamos a noite no Zepelim, que nessa época ficava em São Conrado. Inspirado por aquele sujeito de rompantes geniais, avisei à Rosa que me casaria com ela. No dia seguinte, telefonei a ela, e disse, Não se assuste, não estou pedindo você em casamento, apenas avisando que vamos nos casar. Fomos ao casamento de Almada e Ângela em São João Nepomuceno. Os dois foram morar em Juiz de Fora, nós, em Florianópolis. Falávamo-nos pouco por telefone, até que ele virou o furacão do Facebook, criando um grupo próprio, sempre publicando coisas interessantes. Faz uns dias, me ligou para saber de amigos dos tempos da Internacional de Engenharia. Falei da Sandra, no Facebook, e ele me disse que viria nos visitar, aqui, em Floripa. Ângela virá, espero que em breve. Ele fica na nossa memória, para sempre, nosso querido Almada.

2.14.2015

SER BOTAFOGUENSE

SER BOTAFOGUENSE
Gostamos de títulos, claro, e temos poucos, todos sabem. Poucos e bons. Sim, somos bissextos, o que não deixa de ser especial. Mais que títulos, nos agradam a arte e a história.

Heleno de Freitas, sua elegância, sua fúria e loucura.

Uma cortina que foi esquecida aberta, alguém que corre para fechá-la; um cachorro chamado Biriba.

Um drible de Garrincha em Newton Santos no treino em que o anjo das pernas tortas – assim o chamava o botafoguense Vinicius – se tornou titular da camisa sete com a estrela solitária, astro das seleções pioneiras de títulos mundiais e da bela biografia que mereceu, de quem, além de flamengo, era Garrincha, ele mesmo, Ruy Castro.

Um passe de Gerson e um gol de placa de Jairzinho, único a fazer gol em todas as partidas de setenta. Há ou houve outro na história do futebol que tenha feito isso? Que me digam os estudiosos.
Um gol e uma saudável presepada de Túlio Maravilha.

Um drible de Seedorf, uma defesa de Jéferson.

Não nos importam segunda nem terceira (que, ao contrário de alguns, ainda não frequentamos – e teremos a sorte de não frequentar). Não há divisões para nós, somos que nem nossa estrela: viajamos no tempo, meteóricos e atemporais, visitando a arte, contando a história.

O resto é tabela. O resto é calendário.

2.06.2015

PEQUENOS DETALHES DE NÓS TODOS

O ex-ministro estava certo, eu é que não tinha percebido a sutileza. O PT não dá luz aos fatos. O PT dá à luz os fatos.
 
O Brasil é um avião com rota incerta, sobrecarregado, com pouco combustível, mal pilotado, mal tripulado. Só nos resta alertar aos que estão dormindo: apertem os cintos, que o piloto não sumiu.
 
Estamos todos sofrendo billing. E bullying.
 
Não por falta de aviso.

1.26.2015

LONGAS E CURTAS


Longas e curtas

Agradáveis e competentes: A família Bélier e Belle. Gostei mais do primeiro, mas o segundo também vale. De dez anos atrás, nem sempre agradável, mas da categoria filmaço, Apocalypto do Mel Gibson, falado em maia. Assisti com legendas.

***

Chegando de Cancun antes da tragédia com o brasileiro de Jaraguá do Sul, hora e pouco antes de o avião chegar ao Galeão, uma moça atrás de mim disse que o piloto tinha mudado de rota. Ela e a Rosa foram à cabine, e em poucos minutos o comandante avisou que não havia combustível suficiente para chegar, por causa do peso e dos ventos. Antes de decolar, ofereceram 400 dólares para quem não tivesse bagagem e se dispusesse a sair do avião e viajar mais tarde. Copa Airlines. O avião pousou em Campinas para abastecer e depois seguiu para o Rio. Na parada em Viracopos, avisaram para desligar os celulares e deixar o corredor livre enquanto abasteciam. Um bacana carioca ficou plantado atrás de outros e outras bacanas de diversas partes da bacanidade (assim diria Sérgio Porto). O bonitão me puxa o celular dele do bolso e taca a dedilhar. Pedi que ele respeitasse as recomendações de segurança. Ele me disse que não iria desligar e que eu fosse de poltrona em poltrona falando pra todos desligarem seus aparelhos. Não é minha função, eu respondi. Então, porque me abordou? - perguntou. Porque estou preocupado com a segurança dela (minha filha), dele (alguém da frente), etc. Mas eu não vou desligar não - ele, taxativo. Que cidadão exemplar! - exclamei. Ele me disse que não estava preocupado com meu juízo a respeito dele. Claro - argumentei -, você não está preocupado nem com a própria segurança! E aí o cara ensaiou me ofender e a tal moça de trás interveio e eu dei uma gargalhada. Pouco depois, a comissária repetiu o aviso, e o que fez bacana? Dirigiu-se à poltrona que ocupava, sentou-se, desligou o celular e olhou para a janela, com - suponho -íum tremendo ar de bacana.

***

O entregador do sanduíche me pergunta por que o nome do cadastro é Maria. Minha filha, respondo. Pensei que fosse sua esposa. Ela se chama Rosamaria, eu esclareço.  E o senhor? Mario. Ah, então aqui é tudo na base do M. Na minha casa, por causa do meu pai, é tudo com W. Aí eu pergunto, Ah, e qual é o seu nome?

André.

***

Globo News Painel. Alguém diz que há muito tempo na Europa limpam, convertem e aproveitam água de esgoto para uso industrial. Por que não aqui? Chama o Aldo, ora.

***

Meu irmão postou reportagem do Pedro Dória – o mesmo autor de 1565, enquanto o Brasil nascia -, reportagem e livro sobre nossos antepassados Sás. Sugiro ao Luiz que convide o Dória para fazer parte do clã, como Sá honorário. Desde que não em substituição a mim. Nem em troca de um honorário Dória.
Ou chamo o Groucho.
***

Boa semana.

 

1.07.2015

ALUSÕES, CITAÇÕES E CONSIDERAÇÕES, SUPOSTO POEMA EM PROSA, QUEM DERA ALUCINAÇÃO, MUITO ESPECIALMENTE PARA FERREIRA GULLAR

De um guia de turismo no México: Mas, afinal, o que são 39 dólares para brasileiros? Petrobrás, mais quatro anos de Dilma...

Nunca vou deixar de admirar o talento de Chico Buarque, sua sensibilidade, seu humor, sua persistente, poética e musical crítica à ditadura. O que dói não é vê-lo defender o que sempre defendeu – uma ideologia. Que se foi com estátuas e muros derrubados, que se despede com a mão fantasma estendida ao suposto contrário, tosco espalmado sonho de liberdade fincado em outra ilha. Dói é não haver um único Renato, Cazuza ou Chico que cante contra a volta da piada no exterior, do puteiro para se ganhar dinheiro, das tenebrosas transações.

Sempre fui de esquerda sem nunca ter sido marxista. Se você acha isso impossível, não leu ou viveu o bastante. Muita vida, muita leitura pra você.

Sim, somos o outro lado. Nem Machado nem Sartre. Somos o inferno; somos os outros. Do mesmo lado que você, que pensa ter vencido e levou para casa as batatas.

Se eles montassem a estratégia de poder eterno comprando votos para sempre com o dinheiro deles já seria uma ofensa. Com o nosso e além de tudo, falta de educação.

Esporte é arte, é educação. Educação é...

Senhores desejosos do controle do que pensamos, constatamos e dizemos, será vosso ídolo o que prendia e arrebentava os que não fossem democratas como ele?

Amigos petistas, continuem nos atirando suas pedras: elas não nos atingem: as que nos ferem são feitas de um ouro escuro, roubado de quem nunca o teve. Nem nunca terá. Ou a ficha ainda não caiu?

Eu não dou uma esmola a um pobre que é são, ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão. Aos que pensamos assim – não é, Gonzaguinha? -, que nos chamem de imbecis: sempre tivemos um fraco por elogios. Que Manoel de Barros nos abençoe.

Ao invés de 39 ministérios e seus ministros, 39 ministros e seus ministérios.

Nunca na história deste país um eleitorado foi tão bem enganado como o deste do PT, tanto dos desinformados quanto dos informados. Não por falta de aviso, mas por excesso de paixão, cartilha gasta e tantas vezes sequer lida, berros roucos tanto quanto falsos, scripts mal lidos, mal decorados, tudo disfarçado de argumento; de razão.

A razão é de todos ou não é de ninguém, Jorge Luís Borges.

Mais importante que a razão é a felicidade, Ferreira Gullar.

Borges, Felizes os felizes.

E O prazer do poema, tal como pesquisado, colecionado e reproduzido no livro de Ferreira Gullar.

O resto é o resto, quem dera alucinação.