5.13.2007

O DIÁRIO DE UM MARIO

MEU QUERIDO DIÁRIO,

o pit-bull perdeu: para duas cirurgias, muita paciência da Rosa, fotos da vítima estampadas no chamado papel de parede do computador da Maria Luiza antes da mordida e meu grito de liberdade, ainda que tardia. Bolinha, quatro meses de prótese na mandíbula, abajur no pescoço, papinhas as mais variadas e caixas e mais caixas de lenços de papel, deixado em manhã precoce na clínica e tomado de volta à tardinha do mesmo dia, foi ressuscitado. Recuperou o pelo, o peso, o apetite, o abanar do rabo desproporcional, o latido fora de hora e as necessidades absolutamente desnecessárias, enfim, o canino senso do inoportunismo. É um cachorro, outra vez.

O Botafogo ganhou e perdeu. Tem um bom time, um técnico que pode não ser um mestre mas é Cuca e fala parecido com o Felipão. Ganhou a Taça Rio e foi vice-campeão estadual do Rio de Janeiro. Deixou de ser campeão por conta de um impedimento inexistente, um apito inaudível, uma expulsão associada a um não-acréscimo de tempo e uma recorrente incompetência para bater pênaltis. Segue, porém, candidato a seguir na Copa do Brasil, e ganhou do gaúcho Internacional, na casa do adversário, na sua estréia no Brasileirão. Aventurar-me-ei a assisti-lo quarta-feira que vem contra o Figueirense, no estádio deste, ainda pela Copa do Brasil, sendo que Maria Luiza quer ir junto, junto com seus treze anos. A vida é assim: um mar de intranqüilidade.

Sigo escritor e engenheiro, levando tudo muito a sério – o que é muito sério. E grave.

Continuo tendo amigos que persistem em assim se manterem: meus amigos. E permaneço casado com mulher que persiste em me modificar – o que me faz pensar que meu casamento vai muito bem. Isso também deve ser grave. E é sério.

Maria Luiza e Rosa continuam se amando, em sua condição de, respectivamente, filha e mãe da filha, necessariamente nesta ordem. Amam-se e brigam calorosamente, especialmente frente a frente. Ao computador e a um tal de orkut. Bolinha me pergunta: - Por quê? E eu, categórico, respondo: - Não sei. E ele – só ele – me compreende.

O Brasil vai mal. E vai bem. Como sempre. A questão é saber em que lado você está: no que vai bem, ou...

Mas você é só um diário – o diário de um Mario - e não de um mago. Apenas um Mario a mais, a brincar com palavras, a tentar desvendar a Física e dela um pouco fazer modesta Engenharia. Desta, extrair o que resta de criativo, como pão, como hóstia pagã, como ciência humana – essencialmente, a anti-ciência; o empirismo nosso de cada dia. Lidar com gente e não com a mãe - a Física. Escrever como quem desenha; digitar como quem toca piano.

E é só, meu querido diário.

Florianópolis, Dia das Mães de 2007, Mario Benevides.