10.31.2005

O HOMEM, A MULHER E SEUS SUBS

Mulher é o engenheiro do homem.

Homem gosta da mulher.
Mulher gosta do projeto.
Ao ver um homem do seu agrado
A mulher dirá

ESSE TEM CHANCE
PODE FICAR DO JEITINHO QUE EU GOSTO.

O homem
Percebendo o interesse da fêmea
Sendo humano - isso é: tolo -
Encherá o peito e pensará

ESSA TÁ NO PAPO.

Namoro iniciado e
Principalmente
Continuado

Desde seus sapatos
Á barriga
Passando pela quantidade do que bebe e come
Chegando ao caráter
À vontade de vencer
Que antes nem era tanta
Ao penteado e à pasta de dentes

Tudo será modificado.

Ao perceber o interesse da mulher
O homem não deverá jamais se achar o tal.
Melhor fará se pendurar uma placa no próprio peito
Onde esteja escrito

EM OBRAS.

Assim e só assim
- Inacabado -
O homem será desejado pela mulher.

Ou será mero interesse
Da sub-mulher
Pelo sub-homem.

10.29.2005

A DINASTIA DE RICARDO CORAÇÃO DOS OUTROS: UM BRASIL QUE LIMA BARRETO IMAGINOU E QUASE ADIVINHOU

Romance Inédito de Mario Benevides - Brasil, 2005

- CAPÍTULO TRINTA E DOIS –

Naqueles dias de 2005, de crise política e referendo à proibição das armas – amplamente recusado -, as sensações variavam do espanto à revolta, passando pela indiferença pela repetição das reportagens e cenas de acareações e interrogatórios conduzidos pela comissão parlamentar mista de inquérito então constituída. Quanto ao referendo, houve quem dissesse que o “não”, que venceu ao “sim”, não fosse restrito à proibição da venda de armas, mas significando também repulsa à “caixa dois” - a própria caixa de Pandora, que foi a primeira mulher feita por Zeus e entregue a Epimeteu, que possuía a misteriosa caixa, que Pandora abriu, sem saber que assim deixaria escapar da caixa a inveja, a vingança e o reumatismo, deixando lá dentro somente a esperança - a mesma da população brasileira de quinze anos antes desse relato, de que a política se transformasse, ainda que ruidosa, tediosa e dolorosamente. Sabe-se agora que a conhecida e por vezes desprezada esperança brasileira – não tão diferente da de outros povos, como os gregos - não foi em vão: hoje, em 2020, a política, a partir e por conta da revolução pacífica de 2017, mantém-se elevada.

Dez anos antes da revolução, Giulio Vincenzo, o falso Vincenzo Scarpini, assumira estratégia semelhante ao daquele “our man in Havana”, de Graham Greene – com muito menos imaginação. Como não encontrava mais o que dizer sobre seu vigiado, passou a enviar aos seus chefes nos Estados Unidos relatórios inventados; como este, por exemplo (já com a ortografia e a gramática corrigidas):

“R V continua dizendo à polícia que está escrevendo sobre turismo no cerrado. Tive acesso aos seus escritos em arriscada operação. Está marcando regiões em mapas de Goiás e Tocantins, que, na verdade, comunidades americanas vão ocupar, criando novas fronteiras dentro do Brasil. Abadiânia e Cavalcante são as mais riscadas a caneta hidrográfica, em vermelho e amarelo, mas também em azul.”

Ricardo V depois contaria à mulher e ao filho que simulara telefonemas em código de seu celular a supostos cúmplices enquanto dava suas caminhadas, notoriamente seguido por Giulio Vincenzo, sempre na garupa de uma moto-taxi. Dizia, por exemplo, assim:

“Para os mórmons, há boas terras no trajeto de Cavalcante a Minaçu. Já para a Third Millennium Civilization, que acredita que o calor dos trópicos seja a única força capaz de arrancar o demônio dos corpos, já adquiri duas em Palmeirópolis. Há projetos de hidrelétricas em andamento por lá, o que encareceu os preços, mas essas propriedades ficam distantes delas, em locais praticamente inabitados, perfeitos para nossos propósitos.”

Numa dessas simulações, Ricardo V foi ouvido por Pedrosa, agente do Tenente, o que lhe levou a dar explicações, inclusive para a Polícia Federal. Ricardo V foi visitado em Minaçu por um investigador daquela instituição, sob suspeita de traição da pátria. O detetive, depois de passar alguns dias vigiando e inquirindo Ricardo V, prendeu Giulio Vincenzo. Ao perceber o quão despreparado era seu prisioneiro por suspeita de espionagem internacional; depois de ouvir súplicas de Marita, a prostituta dona de um trailer de cerveja e churrasquinho, que lhe garantira na cama do motel que ficava na estrada para Goiânia que o italiano era um homem bom; ainda que obviamente o tal Vincenzo fosse grosseiro impostor, que de cientista não tinha nem sombra, o investigador foi embora. A partir daí, Giulio passou a inventar uma história sem qualquer nexo para a universidade que o contratara, baseada nos riscos que Ricardo V continuava a fazer em mapas que jogava nas lixeiras públicas da cidade, só para manter o estranho ocupado. Os agentes do Tenente, Figueiredo e Pedrosa, foram transferidos para Porangatu. Ricardo V pode enfim trabalhar e caminhar e freqüentar cidade e região em paz - coisa que nenhum habitante de Minaçu tinha em época de eleições, como a que se deu no segundo semestre de 2006, para deputados, senadores, governadores e Presidente; mas só até 2017, pois, em 2018, o sistema eleitoral seria radicalmente modificado, como se sabe.

Já em 1945, a humanidade comemorava o fim da Segunda Grande Guerra enquanto sofria suas dores. Maria Cristina chorava a morte do marido Ricardo II e, para completar o drama, o fato de estar com quarenta anos e quatro filhos para criar sozinha: Ricardo III, com treze; Ricardo Maria, com nove; Ricardina Cristina com sete; e Olga Cristina com cinco, que se tornaria poetisa concretista e que viria a morrer em 1972, aos trinta e dois anos. O que a viúva não sabia era que o mais velho, Ricardo III, viria a se tornar o salvador da família, com seus dotes musicais herdados do avô e muito cedo revelados, logo se tornando famoso, ainda adolescente, apresentando suas canções na Rádio Nacional com sua voz macia e em baixo volume (quase que um prenúncio de João Gilberto). Emilinha Borba gravou dois de seus sambas, mas cortou relações com ele publicamente quando soube que ele dera para Marlene gravar a marchinha “Minhas moléculas estão no teu sangue para sempre”. A versão em Inglês dessa marchinha – “My cheek is your cheek”, ou “Minha bochecha é sua bochecha” -, foi grande sucesso de Carmen Miranda.

10.25.2005

POESIA, COISA DESVAIRADA, DE POETA E DE QUEM DELA SE APOSSA E GOSTA

Nesses tempos de frangos gripados e vacas febris
O que devemos fazer? Tomar Vitamina C?
De bucha e de bruxa,
Vendavais tão covardemente viris
O que fazer?
Nos esconder? Inverter? Reverter?
Em que ética e pragmatismo
Engalfinham se socam sem luvas em
Pusilânime pugilismo
O que fazer?
Desencavar um ismo?
(Catolicismo? Espiritismo? Capitalismo? Comunismo?)

E se a gente conversasse e se mudasse a gente
E se amasse urgente e de repente?

10.22.2005

A DINASTIA DE RICARDO CORAÇÃO DOS OUTROS: UM BRASIL QUE LIMA BARRETO IMAGINOU E QUASE ADIVINHOU

Romance Inédito de Mario Benevides
Brasil, 2005


- CAPÍTULO TRINTA E UM –

Da porta aberta da casa putridamente decadente, via-se o Ogro somente de short, sem sapatos e sem camisa. Sua cabeça branca de cabelos rentes e seu sorriso lhe davam um ar simpático, e despertaram no visitante em trajes civis, que batera à porta, um forte sentimento de pena. O Ogro, ainda demonstrando surpresa com a inesperada e desconhecida visita, empurrando com os pés uma cadela vira-latas muito suja, convidou-o a entrar e sentar-se. Ricardo Coração dos Outros II apresentou-se, esclarecendo que era um correspondente de guerra brasileiro, em razoável italiano. Ainda de pé, examinou mais detidamente o Ogro: uma enorme e despencada barriga, lanhada de feridas vermelhas; o tórax, muito suado, como o gordo pescoço; a canela da perna direita com uma ferida exposta, sem curativo e aspecto nojento; o olho esquerdo sem cor nem expressão; o direito, azul e arregalado, ainda perfeitamente capaz de expressar os sentimentos do Ogro, além de uma aterrorizante vivacidade, quem sabe, própria do olho e não dele, Ogro.

Ele ofereceu um cigarro que Ricardo II aceitou. Insuportável: cada tragada era um soco dentro de cada um dos pulmões. O Ogro disse assim:

- Vejo você como se estivéssemos dentro d’água. Não vejo seus olhos, apenas seu vulto. Não se impressione com meu olho, tive um derrame de manhã dentro dele, o que não causou nenhuma diferença: já via todo mundo como se todos estivéssemos dentro d’água o tempo todo, nada mudou, tudo continuou igual como estava antes.

(Não para ele, Ricardo II, como confessaria mais tarde ao seu amigo, trisavô de Danilo S., um dos mais conhecidos PCR da atualidade. Ricardo II, ainda que houvesse presenciado a algumas das barbáries da guerra, homens cujas pernas tinham sido arrancadas, outros, os braços ou a cabeça, não conseguia encarar o Ogro e seu olho derramado. Nem fumar seu terrível cigarro.)

O Ogro deu uma profunda tragada, coçou e arranhou um pouco mais o ventre e perguntou a Ricardo II:

- O que você quer comigo?

- Entrevistá-lo.

- Por quê?

- O Senhor desde o começo dessa guerra disse que Mussolini era nada mais que um fantoche de Hitler.

O Ogro suspirou profundamente e balançou a cabeça. Explicou que não usava mais os cinzeiros da casa porque não conseguia enxergá-los, e deixou Ricardo II à vontade para se desfazer das cinzas no chão. Ricardo, discretamente, largou e pisoteou no chão o cigarro que lhe dera o Ogro e acendeu um dos seus, que trouxera no bolso da camisa.

- Você é quem? O que é que você veio fazer aqui? – quis saber o Ogro.

- Sou um correspondente de guerra brasileiro - repetiu. Admiro seu idealismo, sua repugna ao fascismo e ao nazismo. Deu um largo sorriso e completou: - Admiro sua esperteza em manter-se escondido aqui mesmo, na Itália, nas barbas de Mussolini e de Hitler, depois de ter feito ataques tão contundentes e brilhantes contra o fascismo, o eixo e o nazismo. Seus textos, suas falas, seus discursos e conferências, logo no começo... Quanta coragem e precisão!

O Ogro levantou-se, “Você me dá licença um instante?”, ao que Ricardo respondeu, “Claro, claro que sim”.

O Ogro não demorou muito; voltou com uma Lugger, pistola alemã, e, diante do olhar atônito do correspondente de guerra brasileiro, disse a ele:

- Detesto idealistas - e meteu uma bala em Coração dos Outros II. Depois, deu um tiro em seu próprio olho, o opaco, atacado por um derrame na manhã daquele dia, caindo fulminado sobre seu corpo obeso e cheio de feridas. Seu olho bom continuou aberto e vivaz, mirando o teto, de dentro d’água.

A caminho de uma enfermaria de guerra da Força Expedicionária, a FEB, Ricardo II morreu - não sem antes dar seu relato ao amigo, trisavô de Danilo S., do que lhe acontecera na tentativa de entrevistar o Ogro, opositor de primeira hora a Mussolini. Fora chamado de Ogro pela imprensa por causa do olho direito, sempre azul e vivaz, e não pelo esquerdo, derrotado por um derrame de manhã e um tiro à tarde. O homem que passara a ver o mundo totalmente fora de foco por conta de um avançado estado de diabetes, que permanecera o tempo todo escondido na própria casa, na sua própria e derrotada Itália. O Ogro. Que se matara, depois de dar início ao fim da vida também de Ricardo Coração dos Outros II, quando este mal completara seus quarenta e cinco anos, pai de quatro filhos. Não fosse Danilo S. e ninguém saberia de nada disso.

10.18.2005

O GLOBO E O DIÁRIO

O GLOBO desse Domingo teve a seguinte manchete:

“REFERENDO CAUSA CORRIDA POR ARMAS E MUNIÇÃO”.

Quem acompanha este Diário de um Mario leu na semana passada o seguinte:

“Quem jamais pensou em comprar uma arma deve agora estar vivendo a aflição dos últimos dias: tem que ser agora, pois, após o dia 23, poderá estar impedido de adquirir uma arma legal (no sentido de dentro da lei – claro). É possível que quem já possui uma arma esteja formando um verdadeiro exército dentro de casa, também possuído pela mesma aflição dos últimos dias. (...) se você é um aflito dos últimos dias, não perca tempo: vá à loja mais próxima e arme-se. Por causa desses aflitos, é de se imaginar que o comércio de armas legais esteja faturando como nunca”.

Melhor não insistir no assunto – mas não deixa de dar um certo gostinho que esse Diário tenha antecipado o óbvio (nada mais que o óbvio) e sua publicação.

Pra comemorar, esse futurismo há de não ser do óbvio – e se arrisca a prever que um dia acontecerá o que previu Chico Buarque, em sua Valsinha:

E foram tantos beijos loucos, tantos gritos roucos como não se ouviam mais... Que o mundo compreendeu... E o dia amanheceu... Em paz.

Para que isso aconteça, é preciso antes de tudo lembrar da velha terceira Lei de Newton.

Bush vai se armando e ameaçando e vendo fantasmas no mundo todo e também ao sul do seu país. Seus olhos de ave de rapina miram tanto na tríplice fronteira - que lembra a tríplice aliança de tempos idos e que serviu a re-arrumações na mesma tríplice fronteira de hoje, então a serviço de outros da mesma origem de Bush, anglo-saxônica - como na Amazônia, principalmente na Venezuela – onde a referida lei newtoniana é apimentada por uma apaixonada formação militar e propalada como ideológica, de Hugo Chaves, que vai se armando e ameaçando e vendo fantasmas no mundo todo e também ao norte do seu país, em processo assustadoramente re-alimentador daquela lei – que foi ninada no mesmo berço dos primeiros anglo-saxões.

Nos tempos de Dom Pedro I e Simon Bolívar, nosso então imperador, sábia, política e diplomaticamente soube deixar de meter nossos antepassados em intermináveis turras na região que Bolívar chamava de Grã-Colômbia (que ia até a Venezuela). Talvez esse, quem sabe, tenha sido ensinamento mais profundo que possa ser profundo qualquer debate sobre (des-)armamento.

E é só. Melhor: lembrar também de Vinicius de Moraes com Tom Jobim:

Vai e canta a última esperança, esperança divina, de amar em paz...

10.15.2005

A DINASTIA DE RICARDO CORAÇÃO DOS OUTROS: UM BRASIL QUE LIMA BARRETO IMAGINOU E QUASE ADIVINHOU

Romance Inédito de Mario Benevides
Brasil, 2005


- CAPÍTULO TRINTA –

O movimento orbital de um corpo celeste é uma revolução, como o de uma coisa qualquer em torno de um eixo. Por que será que meu pai imaginou uma revolução para o ano que vem? Em torno de que eixo? Que órbita será iniciada por esse movimento que ele imagina que será pacífico? E que tem que ser insurgente, pois, senão, não será uma revolução?

Contra o quê é fácil de se perceber.

Houve progressos consideráveis desde a última década do século passado. Toda e qualquer farsa, tenha vindo de que força que tenha sido - comunicações, poder público, tráfico, toda e qualquer farsa -, se assim não se revelou de imediato, assim foi logo desvendada, farsa como farsa que era e sempre foi desde a origem; fosse por outra das forças ou pela simples percepção que se consolidou do que seja e do que deixe de ser farsa.

Sublevação, rebelião, subversão, revolta, insurreição – nada disso é parecido com paz, movimento pacífico, sequer orbital. Engano meu: orbital, sim, pode ser – e deve, deve ser esta a fixação de meu pai. Orbital em torno de uma idéia. Meu pai jamais foi marxista, aliás, nunca consegui saber quem influencia meu pai, ou com quem ele se identifica. Tantos meu pai leu! Deve ser ele um misturador de idéias e ideais. Da minha parte, sempre me deu mais prazer escrever e escrever e escrever, pelo simples especular. Perguntar. Observar. Orbitar! Mas sem saber em torno de que eixo...

Minhas tias gêmeas e meu avô lá fora se perguntam, mas afinal, o que ele escreve, um diário? Mais curioso ainda: ainda não perceberam que encontrei escritos e discursos e pautas musicais da terceira geração dos Dos Outros, que nasceu de Maria Cristina e Ricardo II, morto na guerra de Hitler e Mussolini.

Mais interessante ainda – e espero que meu pai não perceba – é que, momentaneamente, enquanto passo esse tempo aqui no Rio, roubei dele curiosas anotações. Procurei por elas em seu livro famoso e não as encontrei – quando muito, alguma coisa parecida, alguma idéia que ele desenvolveu desses rascunhos. Mas não deixa de ser interessante que possam se tornar realidade. A revolução pacífica, que transforme o Brasil não em um país igualitário e totalitário, mas inclusivo, do socialismo surgido do próprio capitalismo. Ou vice-versa? Posso muito bem usufruir do início da minha adolescência. Posso, aliás, inventar palavras, como adulescência, a essência da adulação adolescente. Regina Célia é puxa-saco – puxa, que decepção! Adulando o professor Henrique, de Português – e pelo telefone! Pan-babaca!

Meu pai, Ricardo V, escreveu assim, já faz bastante tempo:

Muito me admira a capacidade de alguns desses agricultores dessa terra seca e poeirenta a maior parte do tempo e encharcada durante o resto não só de arrancar o que seja do chão, seja milho ou pasto ou vegetação a lhes curar a dor de barriga, mas de conseguir vender e escoar a produção deles nessa cultura secularmente isolacionista, individualista, que usa tapa-olhos laterais e só enxerga a tela da televisão. Mais vai me admirar – e há de acontecer – quando essa gente arrancar dos olhos desses cavalos de carga humanos seus tapa-olhos. Só que suavemente, muito suavemente.

Escrevo essas notas para jogá-las fora depois, revoltado de perceber que me falta a competência de difundir o óbvio: as organizações não-governamentais explodem em resposta à incapacidade das governamentais e no entanto com os mesmos vícios de origem, de origem, de origem.

Muito me admira essa gente que arranca planta e pasto e comida da própria merda da terra. Não tenho a menor dúvida de que será essa gente a fazer a Revolução, que será pacífica, pois camponês de verdade jamais quis saber de arma alguma, a não ser a de fazer comer, e quando percebem o gosto de fazer os outros comerem, vendendo o que produzem, ora, da única arma que querem é a que fizer que vendam mais para trabalhar mais e vender mais.

Investimento no social: eis uma expressão idiota. Idiota porque está sempre na boca de idiotas. No dia em que for percebido e desejado que o investimento no desenvolvimento social seja igual a qualquer investimento, isto é, dinheiro para se ganhar mais dinheiro, aí sim. A inclusão social trará consumidores, produtores, mão de obra, criadores, artistas; mas não é a política profissional que a fará, como não serão ONGs, nem ideologias. Será a mentalidade de quem empreende, principalmente dos sem dentes na boca. Vai lhes cair a ficha!

Eu preciso me cuidar para não enlouquecer, como aconteceu com Maria Otávia. Amanhã, acordarei e escreverei tudo isso de novo de novo de novo, mas com outras palavras. No computador.

10.11.2005

O SIM E O NÃO

Cronistas gostam dessas polêmicas: o assunto vem até eles espontaneamente, sem que seja necessário procurar por um dentre vários ou inventar um.

Curiosa discussão. Quem jamais pensou em comprar uma arma deve agora estar vivendo a aflição dos últimos dias: tem que ser agora, pois, após o dia 23, poderá estar impedido de adquirir uma arma legal (no sentido de dentro da lei – claro). É possível que quem já possui uma arma esteja formando um verdadeiro exército dentro de casa, também possuído pela mesma aflição dos últimos dias. É muito pouco provável que ações judiciais não sejam capazes de jogar por terra possível obrigação legal de se devolverem as armas que se tiver em casa depois da proibição do seu comércio; portanto, se você é um aflito dos últimos dias, não perca tempo: vá à loja mais próxima e arme-se. Por causa desses aflitos, é de se imaginar que o comércio de armas legais esteja faturando como nunca; mas pode ser que nunca mais possa faturar tanto, pois, após o dia 23, quem sabe seja obrigado a restringir suas vendas às forças armadas e outras atividades que permitem a posse e até o porte de armas.

Desarmar o cidadão não é a solução – diz a campanha do não. Claro que não. Entretanto, armar o cidadão – é a solução?

Há quem diga que proibir o comércio seja dar ao bandido a certeza de que você não tem arma em casa. Falso: a menos que ele faça rigorosa investigação prévia, não terá como saber se você comprou uma ou muitas antes do dia 23 ou se você não é da polícia ou do exército ou da marinha ou da aeronáutica ou fiscal da receita – e tanto pode ter como portar armas legais; ou do tráfico – caso em que comprar as ilegais é nada vexatório. A incerteza permanecerá, apenas e talvez, menor – o que poderá, inclusive, diminuir o apetite do bandido – o qual, segundo a campanha do sim, muitas vezes tem como alvo do seu furto exatamente armas.

Apregoam outros defensores do não que quem mora em lugar ermo tem que ter uma arma, para espantar ou mesmo matar um invasor indesejado. Mas, como saber se o invasor é de fato indesejado? E se você for um atlético e solitário valentão e o invasor da sua erma propriedade for uma invasora – Luma de Oliveira, com súbita e irresistível vontade de fazer xixi, com medo de abelhas e cansada de tocar a campainha da porteira do seu sítio, que você não ouviu, tão preocupado que está em ouvir invasores indesejados?

Outro argumento a favor do não: o rico pode contratar segurança armada, o pobre, não. Ora, mas se o pobre é pobre, quem vai querer assaltá-lo? E que dinheiro o pobre terá para comprar uma arma?

A grande covardia, como bem observou o irmão deste cronista internético, foi por no nosso colo a decisão. O Estado, além de incapaz de nos defender, deu uma de Pilatos: se vocês disserem sim, problema de vocês; se disserem não, também.

Não senhor. Dizendo sim, a população estará devolvendo ao Estado a responsabilidade que lhe cabe e é exclusiva – a de defendê-la. Definitivamente.O

10.09.2005

A DINASTIA DE RICARDO CORAÇÃO DOS OUTROS:

UM BRASIL QUE LIMA BARRETO IMAGINOU E QUASE ADIVINHOU
Romance Inédito de Mario Benevides
Brasil, 2005

- CAPÍTULO VINTE E NOVE –

Era 2005. Hugo Chaves, presidente da Venezuela, com exemplar capacidade de comunicação e persuasão, defendia seu governo como democrático; salientava ter desenvolvido programa de medicina comunitária com auxílio de Cuba, e afirmava que cada favela venezuelana passara a contar com um médico residente; propunha uma aliança latino-americana muito mais ampla que o combalido Mercosul, com troca de investimentos entre os países; dizia-se um soldado, para sempre soldado, que vivia para a família, sem grandes ambições, até que um dia despertou para a pobreza da sua gente. Um político-pastor americano propôs publicamente seu assassinato pelo governo dos Estados Unidos, alegando ser Hugo Chaves um agente do terrorismo internacional. Hugo Chaves dizia com todas as letras que estava armando a população para defender o país de um provável ataque americano – pois, ao invés de rechaçar a proposta de assassinato daquele chefe de estado, Bush, presidente dos Estados Unidos, prestigiara o pastor-político, encarregando-o como um dos responsáveis pelo projeto de reconstrução de Nova Orleans.

No Brasil, poucos anos antes, no governo de Fernando Henrique Cardoso, em dado momento, todos comentavam que o homem com mais poder de Estado não era ele, mas sim um senador da Bahia, Antônio Carlos Magalhães. Um publicamente desafeto de Antônio Carlos, senador pelo Pará, Jader Barbalho, passou a denunciar atos que tinha como pouco elegantes do seu colega baiano. E vice-versa. Fernando Henrique governou até o final do seu segundo mandato, final este já sem a presença dos dois senadores desafetos, que renunciaram, cada um por seus motivos, tidos por muitos como não muito elegantes.

Antes ainda, na primeira eleição direta para a presidência após a ditadura militar e o mandato civil de José Sarney, Fernando Collor tinha um homem forte em seu governo, chamado PC Farias. Uma desavença entre Fernando e seu irmão, Pedro Collor, que se disse prejudicado em negócios familiares de comunicações e iniciou uma série de denúncias de extorsões e corrupção, redundou por fazer cair o governante, por impeachment. Já no governo Lula, o homem forte foi, por bom tempo, José Dirceu. Ao chegarem ao noticiário denúncias de corrupção e extorsão comandadas dos escritórios do Correio Nacional, que envolviam diretamente um político com exemplar capacidade de comunicação e persuasão, chamado Roberto Jéferson, este não teve dúvidas: denunciou o “mensalão”, pago a vários deputados de diferentes partidos como condição para que votassem a favor dos projetos governistas. José Dirceu perdeu seu cargo no governo e Roberto Jéferson, seu mandato.

Ricardo Coração dos Outros IV, enquanto lia os primeiros rascunhos do que viria a ser o grande best-seller do seu filho, “A Revolução Brasileira de 2017”, publicado em 2009, revolução que, segundo o autor, aconteceria “pela influência da simbiose da fidalguia européia, da nobreza africana e da estirpe ameríndia na gênese da sua plebe e a involuntária conspiração de Newton e Gauss”, relembrava não só daqueles acontecimentos, então muito recentes, mas de outros que a história da humanidade tinha para contar, e comentou com as filhas gêmeas, Ricardina e Olga – esta, na companhia da pessoa com quem se casou, e Ricardina com o sobrinho Ricardo VI dormindo no seu colo, então com 3 anos:

- A descoberta mais importante do irmão de vocês não foi dele, mas de Newton: a sua Terceira Lei, ação e reação. A humanidade é isto: nada mais que isso.

As filhas e a pessoa com quem Olga se casou o olharam como quem nem concordava nem discordava; ainda não haviam lido os rascunhos do irmão e geralmente não prestavam atenção quando ele comentava qualquer coisa, quando vinha ao Rio. Ricardo IV concluiu, ao levantar-se com os papéis nas mãos e dirigir-se ao banheiro:

- A curva de Gauss vá lá, se aplica; mas faltou uma quarta dimensão: a arrogância. Que é gêmea da ignorância. Todo arrogante se defende da ignorância que lhe é própria. E os arrogantes caem por terra – assim disse o pai de Ricardo V e saiu e trancou-se no banheiro. Diria depois ter-se angustiado com as seguintes perguntas que se fez: “Chaves e Bush eram arrogantes? Ignorantes? Cairiam um dia derrotados por isso? E Lula – era arrogante? Teria sido arrogante quando discursou em Davos, na Suíça, para artistas como a Sharon Stone (atriz de cinema que ficara muito famosa por uma cruzada de pernas), falando em ‘um mundo mais justo, mais equânime’? Ou quando discursou na ONU, sobre a fome? Ou quando sempre e tanto faz da fome seu refrão? Ou quando afirmou que nenhum cidadão é mais ético que ele? Arrogante? Ignorante? Ou sincero?”.

Era Domingo de tarde. Ricardo IV foi ao espelho de cristal da sala envolto em seu roupão, tendo por baixo o pijama que usara na sesta e, perfilado, perguntou-se:

- Ricardo Coração dos Outros IV: sois um arrogante?

E retirou-se.

10.05.2005

CIDADE ADULTA

Há Roma, de Fellini, cidade aberta, de Rosselini, como há Cidade oculta, com Carla Camurati - a São Paulo onde Fernando Pessoa toma ritmo e conteúdo especiais com Arrigo Barnabé: Nunca conheci ninguém que tivesse levado porrada. Haverá também para sempre Olha a pista chegando e vamos nós, com Tom Jobim.

Para quem não sabe, Florianópolis, em boa parte, é uma ilha açoriana cercada de restaurantes italianos por todos os lados.

Da sua porção insular, por trás dos prédios que ficam bisbilhotando o contorno dos morros continentais do lado de lá da baía e ouvindo a zoeira incessante de motos e automóveis ensandecidos na Avenida Beira Mar, há coisa-muito-boa à vista.

Pizza Mia.

Há muitos pingüins no lugar onde eles vivem; um deles será aquele a olhar nos olhos do estranho que vai parar por lá, a dar de cara com muitos pingüins que vivem na terra dos pingüins e percebe o olhar de um só deles, o pingüim afim, com afinidade no olhar com o olhar do estranho que chega por lá.

As pizzas do Pizza Mia são daquelas de massa fininha. A cobertura é sempre delicada, às vezes doce, outras, salgada, mais comumente salgada e doce ao mesmo tempo, e sempre leve, de bom gosto e gosto bom. Os vinhos, competentes, como o são as sobremesas. Quem serve é mais: bem educado; gentil; oportuno.

De uma tela de Modigliani, sai a flutuar no ambiente sua regente - cujo nome só será desvendado quando o artista que a inventou assim o quiser.

Para jamais esquecer que a vida há de ser feita de poesia, os banheiros do Pizza Mia ficam por trás e à esquerda de uma porta com escotilha e se distinguem um do outro por sutis e angelicais carinhas, que ocupam cada qual um dos quadrantes de respectivos quadrinhos com ares infantis. Como se fossem os morros do outro lado da baía entre a ilha e o continente, olhando por trás da escotilha à procura do pingüim afim, lá está um quadro que Modigliani gostaria muito de ter pintado, assinado por Karem, datado de 2005.

Vá lá - e veja e admire duas figuras femininas a deixar pingüins a ver navios; e homens e mulheres a ver o que há de belo e poesia.

Floripa, cidade adulta, teu nome é Pizza Mia.

10.02.2005

EDIÇÃO EXTRAORDINÁRIA

Meu caro Pasquali,Antes de mais nada, fiquei muito honrado com sua visita ao "Diário de um Mario", apelido do blog onde exponho opiniões e fantasias, o mariobenevides.blogspot.com. Propagandas à parte, transcrevo o que o Pasquali me escreveu:
"Mario,Concordemos com a sua posição ou não, é sempre bom discutir. Se esse referendo de nada adiantar para a questão das armas, pelo menos nos restará o exercí­cio da democracia.Um abraço,Pasquali."
Como se vê, o Pasquali foi na mosca. Esse exercício da democracia nos levará a uma das seguintes situações: (a) A maioria se dirá contrária à proibição do comércio legal das armas. Neste caso, estará dizendo claramente que não considera o armamento oficial, o das forças do Estado, suficiente para nos defender; (b) No caso oposto, a maioria estará dizendo que está depositando nas mãos do Estado toda e qualquer perspectiva da defesa da sociedade contra a violência, auferindo ao Estado uma responsabilidade que, via de regra, este não assume.
Qualquer que seja a opção da maioria, o que estará e já está em cheque é a responsabilidade/capacidade do Estado, mantido por nós - o conjunto formado por maioria e minoria de opção - de nos defender. Este, sim, é o maior valor dessa discussão. Pouco importa seu resultado de sim ou não, mas sim a exposição de que não estamos nem um pouco à vontade no que se refere à nossa segurança; caso contrário, não estaríamos discutindo o assunto - discussão que nos há de levar a outras, mais profundas, das causas e como acabar com tanta violência no Brasil. Assim, palmas a quem abriu a discussão - que, salvo engano, foi o movimento chamado "Viva Rio" -; e obrigado ao Pasquali, por me ter dado a oportunidade de voltar ao assunto.
Abraços,
Mario Benevides.

A DINASTIA DE RICARDO CORAÇÃO DOS OUTROS:

UM BRASIL QUE LIMA BARRETO IMAGINOU E QUASE ADIVINHOU
Romance Inédito de Mario Benevides
Brasil, 2005

- CAPÍTULO VINTE E OITO –

Ricardo II morreu na segunda guerra mundial. Resolveu que seria correspondente de guerra para desespero de Maria Cristina, com quem se casou depois que ela se arrependeu de ceder às pressões familiares para deixar o plebeu Coração dos Outros II e enamorar-se de um rico filho mais moço de um nobre e já ligeiramente velho amigo de Alfredo D\'Escragnolle (Visconde de) Taunay - com o qual o antepassado do ex-quase-noivo de Maria Cristina teria estado na “heróica retirada da Laguna”.

Da mesma forma que pode soar estranho que tenha sido heróica uma retirada, muito estranho era, para muitos, que Ricardo II e Maria Cristina se dessem tão bem, como deixou registrado o amigo dele do qual descende um conhecido Profissional de Comunicações e Reportagens desses nossos dias de 2020. Talvez, aliás, bastasse saber que Ricardo II deixou a viúva com dois filhos, Ricardo III e Ricardo Maria, e duas filhas, Ricardina Cristina e a poetisa, que morreria concretista, Olga Cristina Bastos Coração dos Outros – embora, é claro, filhos, ainda que em número significativo, nem sempre sejam sinal de amor verdadeiro. Mas o deles era.

Convém fazer logo outro registro de interrupção de trajetória visível a olhos meramente humanos: Olga e Ricardo Coração dos Outros, de cuja fuga do Rio de Janeiro dos tempos do Marechal de Ferro nasceria a dinastia da qual aqui livremente se fala e que participou de importantes e nem sempre heróicos episódios da história pátria, especialmente a Revolução de 2017, simplesmente desapareceram, sem deixar nenhum sinal que fosse, em mais um percurso de Cavalcante ao Rio – exatamente quando o objetivo da viagem era conhecer a nora, Maria Cristina. Deixaram em Cavalcante a única irmã de Ricardo II, Ricardina Olga Tavares e Silva, casada com o Coronel Eurípides Ovídio Tavares e Silva, que não foi a nenhuma guerra não por outro motivo que não fosse o de que seu título militar tenha sido obtido pela sua atividade de dono de mina de ouro – alguém que explorava não só minério, mas mão de obra também (tudo indica que com alguma correção pecuniária, mas com certo excesso de autoridade).

A atividade de exploração mineral ainda perduraria por muitos anos na região, para onde o fluxo de nortistas do Pará e nordestinos do Maranhão foi bastante intenso, até ainda depois da fundação de Minaçu, em 1976. Por exemplo, no centro mesmo de Cavalcante, havia uma mina que foi passando de mão em mão a cada vez que dava sinais de exaustão até idos já deste século XXI. O garimpo a base de mercúrio e bateia na beira dos rios e diferentes formas de mineração de algum modo legalmente constituídas conviveram por séculos, gerando um pouco de tudo que há na história humana: povoados, cidades, riqueza, pobreza, miséria, fidalguia, covardia, famílias, desavenças, disputas judiciais, matança de índios, abruptos desemprego e perda irrecuperável de renda, vida nômade, outras matanças, sangue - mais sangue, até, que ouro.

Porém, tal e qual nem toda riqueza vem do ouro – em sentido largo e estrito -, nem sempre foi o ouro que causou sangramento e desgraça na região.

Dentre algumas das anotações do falso antropólogo italiano, a serviço dos empregadores de Ricardo V a seguir e reportar seus passos, porque este desenvolvia na época suas primeiras idéias de uma revolução social pacífica, achou-se a seguinte:
“R V cismou de fazer caminhadas. Debaixo desse sol acachapante, o louco sai andando desde a casa dele, na Vila de Furnas, perto da esquina de Porto Colômbia com a Av Maranhão, até o centro da cidade, percorrendo a mesma Av M de ida e volta, numa distância total superior a 10 kM. Isso às 4 ou 5 da tarde, mama mia!, quando o sol ainda está fervendo e do chão de asfalto sai o bafo do demônio. Ainda bem que está terminando a estação seca, quando só se respira poeira quente e a gente nem precisa de cachaça pra sentir tonteira, porque seguir o camarada debaixo de muita água é desgraça um pouco menor que ficar debaixo desse sol daqui. Hoje dei sorte de pegar o moto-taxi certo, uma mocinha gostosinha de apertar na cintura e que respeita os quebra-mola, não é que nem uns doido que tem por aqui e ultrapassa os cruzamento sem nem olhar. Hoje, como estava chovendo, o maluco resolveu mudar o trajeto e ficar subindo e descendo a Porto Colômbia pra cima e pra baixo e fiquei que nem um idiota atrás dele, na garupa da motoca. Tá na cara que ele já sabe que eu estou na cola dele, mas não tenho o que fazer, os americano querem assim, depois invento umas bobagem e eles fica satisfeito. Vi umas meninada interessante saindo do colégio, valeu a maluquice diária. Os menino de chinelo de dedo, aqui não parece chinelo que a modelo famosa usa, é chinelo de dedo mesmo, nem dá pra chamar de flip-flop que nem os americano. As menina, que graça, fala umas palavra bonita e de repente uns ‘caralho!’, esses brasileiro parece italiano. Mas que pena: Sábado passado, de noite, já era quase Domingo, um meninote que reclamou que um outro tinha roubado o boné dele foi espancado pelos amigo do ladrão do boné na porta do baile onde eu estava, boa parte da cidade estava no baile. O rapazola que levou porrada foi em casa e voltou com uma faca de cozinha e, mama mia, tem um que ficou sem o braço e outro que perdeu os dedo e um terceiro foi a orelha esquerda que deixou ele. Pena que o quarto foi furado no fígado, morreu na hora, uma pena, tudo uns garoto, tudo com cara de anjo. Tem uns dois paisano na minha cola, já saquei, todos os dia.”.