2.13.2017

Bom Dia

Uma voz amada me deseja bom dia.
Outra a ela se junta e me diz Bom dia.
As duas conversam e dizem
Uma à outra
Bom dia.
Todo barulho urbano
Será somente percussão
Ora afinada ora desastrada
Dessa melodia.
Que vozes amigas
Amadas sempre nos digam
Bom dia.

2.08.2017

O LADRÃO DE AMIGOS

Eu tenho um amigo que rouba amigos. Ele não rouba nada dos amigos, mas os propriamente ditos. Qualquer amigo que eu apresente a ele passa a vê-lo mais que a mim, e tenho certeza de que isso acontece com todo mundo que é amigo dele. Acontece que um ladrão de amigos, que rouba amizades, é alguém generoso: compartilha as amizades roubadas. Quando estamos perto, nos convida a estar com elas. Estando longe, manda fotos, mensagens, telefona. Daí me ter ocorrido uma ideia: mandar esse meu amigo pra Brasília. Lá, ele reuniria os corruptos dos três poderes e, de olhos vendados, os levaria a um lugar onde eles continuassem exercitando o que gostam: roubar, não amigos, mas dinheiro, qualquer bem material, seja de amigos, inimigos, desconhecidos, de quem tem e de quem não tem. Só que agora somente entre eles, roubando uns aos outros, em um lugar só conhecido por eles. Não existem os primos entre si? Corruptos passariam a ser os ladrões entre si. Os honestos, meu amigo manteria em Brasília. Quando esses tivessem uma vontade danada de roubar, por certo herdada do convívio com aquela outra rede social, já teriam aprendido com meu amigo a roubar somente amigos – amizades -, incluindo o compartilhamento, entre eles e, até, quem sabe, conosco. Não mereço o Nobel pela ideia? Claro que não. O Nobel é do Rubens.