9.14.2007

ÀS MÚSICAS E AOS MUSICAIS

Acabo de assistir a um show de Ney Matogrosso e Pedro Luiz e a Parede, com direito a alguns músicos convidados. Na TV. (Canal Brasil, 66, da Net. De vez em quando, Ariano Suassuna e sua amizade com Chico Science.) Percussionistas, um violonista de outro planeta, um guitarrista, um baixista, instrumentistas de sopro, todos verdadeira origem do big-bang são a Parede. Um deles corre o palco devagarzinho, Pedro Luiz toca uma guitarra cortadinha na ponta, uma verdadeira atriz, que só se afina escondida pelo braço da guitarra, seu camarim. Ney Matogrosso e um figurino que não pode ser pirata, porque legítimo, como seu gingado único, sua voz de dezesseis anos, seu dom de descobrir maravilhas, Rafaéis Rabellos, Pedros Luizes e suas Paredes e por aí vai. No intervalo do programa, Zeca Baleiro é a próxima atração.

No rádio do carro, ouço assim: “Tranqüila / eu levo a vida tranqüila / não tenho medo do mundo / não tenho medo do mundo / a inveja que me passe / o olho grande que me passe...” – não consegui saber quem era, na hora; depois, na loja, me disseram Thalma... Thalma de quê? Não baixo músicas da Internet, quero o CD com capa, aquela de plástico, que quebra logo da primeira vez que a gente vai tirar ou guardar o disco. Não tem. Na loja.

Nem só de Chega de Saudade vivemos, como se vê. Ou se ouve. Nem só de Beatles – aliás, ouvir Sergeant Peppers fazendo quarenta anos e prestar atenção em todos seus sons e letras é nascer de novo. Rita Lee cantando I want to hold your hand com uma sanfoninha ao fundo, que bonitinho, que contrário do Renan Calheiros, da Ideli Salvatti, do falso argumento em-cima-do-muro do Mercadante (ou será Mercante?).

Pedro Luiz, Parede e Ney Matogrosso cantam de tudo, de Faca Amolada, passando por Martinho da Vila, chegando à maravilha “O mundo tá muito doente, o homem que mata, o homem que mente”. (Impossível não perceber que a mistura de ritmo brasileiro com guitarra, ora, ora, nasceu foi mesmo com a Tropicália. Ariano Suassuna e sua amizade com Chico Science, também. Nem só de Ministério vive Gilberto Gil nem só de fala empolada ele e Caetano Veloso vivem.)

Jack Johnson. Bom também o anúncio do cara que teve as roupas roubadas por uma garota que usava sandálias havaianas (“Quer uma aguinha coma açúcar?”). O que é que isso tem de música? As garotas – é claro. E o humor – que é musical.

Assim deveriam ser homens e mulheres: eles, musicais; elas, músicas.

O que acaba de acontecer no Senado nada tem nem de homem, nem de mulher.

Por isso é que não temos medo do mundo; durmamos tranqüilos.

9.01.2007

UMA QUESTÃO DE TEMPO

A calçada ou o atropelamento.
O parto interminável ou a cesariana.
As escaras ou a cura.
A janela ou o dia seguinte.
A maca ou o lençol.
O tiro; ou a persuasão.
O insulto e o auto-controle.
O arremeter ou o aterrissar.
O parar na hora certa ou avançar, arriscar, bater. No cruzamento.
Umazinha a mais. Só umazinha. Ou ir embora ou dormir.
Apertar o cinto ou afrouxar a gravata.
Ir de tonta, com. Ou sem. Camisinha.
Remoer uma vingança e alimentar um câncer.
Enfrentar um câncer
Vindo ou não da vingança remoída
Vindo sabe-se lá da pureza
De tão pura que não suporta a si e a si tenta destruir -
Ou se deixar levar.

A morte não é uma questão de tempo.
A morte é escolha.
Apenas nunca somente sua.