5.30.2009

AS RESPOSTAS E SEUS SILÊNCIOS

Escreva cartas
Mande e-mails
Torpedos.

Exprima-se
Expresse-se
Manifeste-se.

Quando a favor
Repercutirão.
Quando contra

À voz corrente
À linha traçada
Definida

Sempre nítida
Óbvia
Dominante

O silêncio se fará presente
Conquistado
Não portanto se frustre.

Senão a vida
Senão a morte
A arte

Muito de silêncio tem.
Mande e-mails
Torpedos

Cartas
Repostas
Perceba

Algumas
Se respondem
Silenciosamente.

5.19.2009

3 PENSADAS MAIS QUE SÚBITAS REAÇÕES

(1) À VEJA, SOBRE A ENTREVISTA DO PREFEITO DO RIO DE JANEIRO

O JEITO CARIOCA

VEJA, no último domingo, perguntou ao prefeito do Rio de Janeiro: “Esse ‘tudo pode’ é determinado também pelo jeito de ser do carioca?” Eduardo Paes respondeu: “Sem dúvida. Essa coisa do carioca, do seu jeito de ser, da malandragem cantada em prosa e verso, também acaba servindo ao ‘tudo pode’. Em nome de um certo carioquismo, cometeram-se equívocos e abusos. A cidade está maltratada tanto pelo romantismo social das autoridades como pelo que se convencionou chamar de ‘jeitão do carioca’.” [...] “Adoro samba, toco na bateria da Portela, gosto de chope, de boteco, de praia. Mas dá para a gente ter preocupação social e ser carioca sem mergulhar na desordem e sem perder a alegria típica da nossa cidade”. Ora. Esse tipo de consideração é o que transforma qualidade em defeito. O característico bom humor carioca – por extensão, brasileiro – não traz em si o gosto pela demagogia nem pelo que o prefeito chamou de “romantismo social”. Aliás, que romantismo é este - o da exclusão, do medo e das balas de fuzil? Curiosamente, o prefeito dá a entender que é dotado do mesmo “jeitão carioca”, pois afirma gostar de chope, de praia e batucada, mas se considera superior ao resto da população, quando faz a ressalva: “Mas dá para a gente ter preocupação social e ser carioca sem mergulhar na desordem...”. Caro prefeito: com ou sem jeitão carioca, a população do Rio já enfrentou de tudo e poderia parecer ufanismo tolo citar alguns nomes e feitos da sua história. Fato é que, sim, a demagogia de vários da classe que o senhor representa tem causado danos a esta cidade e ao país como um todo de difícil reversão. Entretanto, o senhor não é pago para cunhar jargões como o tal “jeitão”, perigosos a ponto de se ter até hoje o nome de um jogador de futebol para sempre associado a atitudes incorretas, por ele ter gravado há muitos anos um anúncio com um texto medíocre – o qual, evidentemente, não foi escrito por ele. Transformar bom humor em defeito é o mesmo que assistir aos filmes com Al Pacino e comentar: “Mas ele tem tanto talento para gangster, porque resolveu ser ator?”. E para que o senhor não pense ser o único capaz de ter alegria e preocupação social, sem mergulhar na desordem; se o senhor afirma que nasceu em uma cidade que não já era mais maravilhosa, ao invés de se achar melhor que o resto da população, faça parte dela, faça jus a ela e à cidade maravilhosa. É para isso que o senhor foi eleito; e é para isso que o senhor é pago.

(2) À FOLHA DE SÃO PAULO, SOBRE, ACIMA DE TUDO, PORTAS

QUANDO VAGABUNDAGEM SE TORNOU PROFISSÃO


É com estarrecimento que se lê, na FOLHA DE SÃO PAULO de domingo, 17/05/2009, que o governo federal vai passar a distribuir cestas básicas para acampados do MST. Aliás, como um representante do governo explica, ao invés das cestas básicas, existirá um cartão de compras, de modo que a economia local, isto é, próxima aos inscritos no “Bolsa Família”, deste também se beneficie. Explica a reportagem que o mesmo governo fará um mapeamento desses acampados, de modo a incluí-los dentre os que já recebiam as cestas e passarão também a receber os cartões de compra.

Quem reagiu antes de qualquer outro foi um coordenador do MST, que avistou o óbvio: esta medida não vai resolver o problema dos sem-terra.

É de se lembrar também que, no momento em que sua reeleição estava garantida, Lula, entrevistado pelo Fantástico, a respeito do “Bolsa Família”, disse que era preciso achar a porta de saída para o assistencialismo.

Ora. Se ao invés de fazer a mais que atrasada reforma agrária de maneira clara, competente e justa, o governo Lula vai ampliar o assistencialismo a acampados – os quais o que pretendem, ou deveriam pretender, é terra – e é de também se supor e desejar que seu real intento seja terra para trabalhar e, desse trabalho, sobreviver e, porque não, progredir -, esse mesmo governo não está achando, nem querendo achar, nenhuma porta de saída. Mas de entrada.

A agir dessa maneira, ainda que sofisticando a forma, o governo Lula estará criando uma nova e confortável carreira: a de vagabundagem, mantida pela parcela da população que paga impostos. Isso mesmo: uma parcela dos impostos que pagamos serve para viciar cidadãos a buscar a maneira mais fácil de ganhar o necessário e suficiente para um vida medíocre. Basta ter filhos na escola ou demonstrar que eles a freqüentam e pronto: ganha-se um cartão de crédito, que permite morar em um acampamento ou barraco ou de favor na casa de alguém e (sub-) viver sem trabalhar.

Que nenhum demagogo de plantão venha a nos lembrar que poder pagar impostos no Brasil é um privilégio. Claro que é. Em um país em que o desrespeito, a demagogia e a burrice conseguem superar históricas injustiças, nada mais conforme que aqueles que conseguiram emergir desse pântano – a maioria deles, trabalhando, e muito - sustentem vagabundos, além de alguns políticos, principalmente os que não estão nem aí para nossa opinião.

Aliás e para encerrar, sabe porque eles não estão nem aí?

Porque a maioria de nós, que paga impostos, parece demonstrar que também não está.

Mas isso é outra cesta básica.

(3) A QUEM NÃO ESTÁ NEM AÍ PARA A OPINIÃO PÚBLICA

A NOSSA E O DELES

Ser ou não ser ou estar ou não estar, na língua do Sheakspeare, são ditos (e escritos) do mesmo jeito. Na língua falada no Brasil, ainda que agora mais próxima da que se fala em Portugal e suas outras ex-colônias, os sentidos são cada vez mais distintos.

Já houve um ministro que dizia estar – e não ser – ministro. Para dizer isso em Inglês, não seria tão simples assim. Anos depois, um presidente da nossa república (nossa?) viria a dizer mais ou menos a mesma coisa, um tanto blasé, às margens do rio Sena.

Mais recentemente, certo congressista disse que não está nem aí para a opinião pública.

O que me ocorreu foi o seguinte. Quando eu encontrar com gente como ele, que não está nem aí para quem votou neles e paga os salários deles; que descaradamente se apodera do que não lhe pertence; que se aproveita da carência quase que absoluta da maioria, o que resulta em despreparo, tornando-a presa fácil desses asquerosos, já sei o que vou fazer. Vou tacar-lhe nas fuças um livro bem pesado, que não será do Sheakspeare, não: será do (deles) acadêmico José Sarney.

Quero ver se ele vai ter a coragem de revidar.

E ler.