Nada de teorias psicanalíticas ou filosóficas será abordado aqui. E agora. Porque, agora, o outro é aquele tão popular quanto desconhecido. Aquele que diz tudo, principalmente ditados populares. O popular outro da expressão “É como diz o outro”.
Quem será esse outro, que tanto diz? Vira e mexe e alguém o cita: “É como diz o outro: mais vale um pássaro na mão que um caixa dois voando.”. Geralmente – preste atenção – o outro embaralha ditados, cria novos, um danado de imaginativo – inovador – é esse tal de outro.
Por um tempo acreditou-se que outro era nome próprio: - Prazer; eu sou o Outro. De quê? Ele – que, de tão especial, é o Outro – não responderia; omitiria o sobrenome de família – que é outra família, por ser a família do Outro.
A entrevista com o ser que, de tão espetacular, é Outro, continuaria:
- Outro, o que você diria hoje, hein?
- Sobre o quê?
- Sobre esse – sabe como é, esse que, como diz o outro...
- Outro sou eu.
- Pois é: o que você tem a dizer sobre esse outro, esse aí, que...
Entretanto, lamentamos informar que a identidade do Outro acaba de ser revelada. No interior do Tocantins, existe um indivíduo muito popular, que vamos fingir que se chama Fulano de Tal. Alguém o encontrou e exclamou: - Ah! Então, o senhor é que é o Fulano de Tal! Pois que, para surpresa do alguém citado, Seu Fulano respondeu:
- Eu não sou esse que você está pensando, não: eu sou o outro.
O que dizem é que o espanto do alguém que foi apresentado ao outro - mais famoso até que o tal fulano, o Fulano de Tal -, passou a se apresentar, mais modesto que qualquer outro, da seguinte maneira:
- Muito prazer: Ninguém.
Enfim, para ser ninguém, basta ser alguém. É como diz o outro.
O DIÁRIO DO MARIO contém crônicas e poemas de Mario Benevides, além do embrião do romance A REVOLUÇÃO DO SILÊNCIO, do mesmo autor, publicado em 2007 pela Design Editora, aqui no blog com o título A DINASTIA DE RICARDO CORAÇÃO DOS OUTROS.
6.18.2007
6.04.2007
PAULO JOSÉ, FALCÃO E QUANDO MENOS VALE MAIS: QUANDO?
O ator Paulo José, administrando bem os sobre-movimentos que lhe são exigidos (mal de Parkinson), com a mente e o caráter tão caracteristicamente seus – brilhantes - a lhe saírem pelas palavras e silenciosas e rápidas e fulminantes pausas, com seus jovialíssimos setenta anos de vida, é entrevistado no Programa Roda Viva. Às tantas descreve uma cena do filme adaptado e homônimo do romance de Fernando Sabino, “Faca de dois gumes” - ainda que não exatamente com essas palavras:
“Eu fazia o pai de um jovem seqüestrado que acabava de receber um estojo com o pedaço do dedo do filho dentro. Como reagir? Como fazer a cena?”.
O ator, então, faz umas duas ou três tentativas de uma possível dramatização do choque de um pai vivendo tamanha tragédia, repetindo a mesma frase com diferentes entonações (todas dignas do grande ator que é): “MEU FILHO.”. “MEU FILHO!”. “MEU... FILHO...”.
E conclui por dizer o seguinte:
“Em certas horas, o melhor é não fazer nada.”.
Agora – dirá você, para este narrador de entrevistas alheias -, lá vem você falar de futebol e – pior - de mais de vinte anos atrás.
Brasil contra Rússia, Copa de 1982. Um jogador brasileiro dispara um chutão, da intermediária, de frente para o gol. Falcão está na meia-lua, esperando pela bola. O que ele faz? Não faz; abre as pernas e a bola passa, ligeira, implacável, reta: gol do Brasil.
Na mesma Copa, em um outro fatídico e inesquecível jogo, o Brasil precisa de um empate, contra a Itália. Está 2 a 1 para a que viria se sagrar campeã; só que, naquele momento, ninguém sabe disso (a não ser o Sobrenatural de Almeida - não é, Nelson Rodrigues?). Da mesma meia-lua, o mesmo Falcão dispara, de canhota, um chute mortal: gol do Brasil.
Era hora de fazer - e não de não fazer.
Depois, como se sabe, o time deixou de fazer quando deveria ter feito e Paolo Rossi marcou o terceiro gol da Itália, que tirou o Brasil da Copa, com uma das suas melhores seleções de todos os tempos.
Voltando à entrevista do Paulo José: em outro momento, ele comenta sobre o desejo de muitos da presença de soldados do Exército nas ruas, para combater a violência; e pergunta:
“E se eles gostarem de ficar nas ruas?”.
Pois é, Sheakspeare: há momentos em que ser ou não ser vira fazer ou deixar de fazer. E a questão passa a ser: - Quando?
“Eu fazia o pai de um jovem seqüestrado que acabava de receber um estojo com o pedaço do dedo do filho dentro. Como reagir? Como fazer a cena?”.
O ator, então, faz umas duas ou três tentativas de uma possível dramatização do choque de um pai vivendo tamanha tragédia, repetindo a mesma frase com diferentes entonações (todas dignas do grande ator que é): “MEU FILHO.”. “MEU FILHO!”. “MEU... FILHO...”.
E conclui por dizer o seguinte:
“Em certas horas, o melhor é não fazer nada.”.
Agora – dirá você, para este narrador de entrevistas alheias -, lá vem você falar de futebol e – pior - de mais de vinte anos atrás.
Brasil contra Rússia, Copa de 1982. Um jogador brasileiro dispara um chutão, da intermediária, de frente para o gol. Falcão está na meia-lua, esperando pela bola. O que ele faz? Não faz; abre as pernas e a bola passa, ligeira, implacável, reta: gol do Brasil.
Na mesma Copa, em um outro fatídico e inesquecível jogo, o Brasil precisa de um empate, contra a Itália. Está 2 a 1 para a que viria se sagrar campeã; só que, naquele momento, ninguém sabe disso (a não ser o Sobrenatural de Almeida - não é, Nelson Rodrigues?). Da mesma meia-lua, o mesmo Falcão dispara, de canhota, um chute mortal: gol do Brasil.
Era hora de fazer - e não de não fazer.
Depois, como se sabe, o time deixou de fazer quando deveria ter feito e Paolo Rossi marcou o terceiro gol da Itália, que tirou o Brasil da Copa, com uma das suas melhores seleções de todos os tempos.
Voltando à entrevista do Paulo José: em outro momento, ele comenta sobre o desejo de muitos da presença de soldados do Exército nas ruas, para combater a violência; e pergunta:
“E se eles gostarem de ficar nas ruas?”.
Pois é, Sheakspeare: há momentos em que ser ou não ser vira fazer ou deixar de fazer. E a questão passa a ser: - Quando?
NU
NU
Era muito especializado
Vivia de bico de boca do que desse e viesse
Namorava quem se desse
Não tinha nome não tinha cara
Nem cara de pau ele tinha
Cara nenhuma
Parecia disfarce topete chapéu capa guarda-chuva
Não era moleque nem bandido
Marginal no sentido literal
Vivendo à margem
Do rio
Da linha do trem
Da sala de visitas
Do anfiteatro
Da pista
De alta velocidade
Ia lento
Ritmo
De quem passa a vida observando e deixando
Não mais que a própria sombra
Na lembrança de quem fosse
Que tivesse encontrado
Beijado
Esbarrado
Ninguém sabe se deixou filhos mulheres amantes viúvas
Diplomas
Deixou sapatos sua capa e o guarda-chuva
Sumiu de repente
Ninguém sabe se morreu
Ou se foi embora nu
Pela porta dos fundos
Da vida.
Era muito especializado
Vivia de bico de boca do que desse e viesse
Namorava quem se desse
Não tinha nome não tinha cara
Nem cara de pau ele tinha
Cara nenhuma
Parecia disfarce topete chapéu capa guarda-chuva
Não era moleque nem bandido
Marginal no sentido literal
Vivendo à margem
Do rio
Da linha do trem
Da sala de visitas
Do anfiteatro
Da pista
De alta velocidade
Ia lento
Ritmo
De quem passa a vida observando e deixando
Não mais que a própria sombra
Na lembrança de quem fosse
Que tivesse encontrado
Beijado
Esbarrado
Ninguém sabe se deixou filhos mulheres amantes viúvas
Diplomas
Deixou sapatos sua capa e o guarda-chuva
Sumiu de repente
Ninguém sabe se morreu
Ou se foi embora nu
Pela porta dos fundos
Da vida.
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