Quem pouco abre a porta e se mostra
Quem não anda pelas ruas cumprimentando gente
Nem entra na padaria
Nem toma chope nem café
Quem não anda de ônibus
E não vê de manhã rostos esperançosos e sonolentos
E à tarde-noite não os vê exaustos e desesperados
Quem não escreve poemas
Não se expõe ao frio gelado da varanda de um bar
Quem não recebe amigos em casa
E quando os tem não os percebe
Não espia nem expia pela janela seus medos,
Não recebe visitas
Por exemplo, da Maria Beatriz
De nove anos, que faz dia 17 e quer ser médica e atriz,
Não conversa longamente com uma professora
Sobre filmes, séries, livros, aos chopes e relentos
Enquanto, lá dentro, gritos
Entusiasmados
Por um jogo de futebol,
Não recebe visitas inesperadas distantes
no tempo.
É preciso se expor
Mostrar a cara e os dentes
Sentir frio e correr outros riscos
Sentir frio
Até que depois ela chegue
A coriza
Insistindo que veio com o relento
Que melhor teria sido esperar que ela aparecesse
Quando quisesse
Do vento frio de uma fresta de uma janela
Hermeticamente
Fechada.