3.29.2007

BBB

Eu fico aqui falando de mim, só pra ver se alguém também fala, não de mim, mas de si – e a frase é mal construída e eu bem que podia por a culpa na língua, a portuguesa, que é charmosa, bonita e difícil.

O boxe havia me deixado várias seqüelas. A maior de todas foi a saudade. Foi por isso que voltei, como volto frequentemente à boemia, e é evidente que esse casal, boxe e boemia, não casa muito bem, não.

Ando nadando – não literalmente, claro. Venho praticando natação, esporte que não deixa seqüela alguma, a não ser quando a gente bebe água, cheia de cloro ou de sal.

Faço ginástica, ando de bicicleta, caminho. Tenho sido cada vez mais o contrário de mim mesmo. A mesma alma boêmia ainda mora dentro de mim, mesmo quando nado e bebo água. Mais até quando bebo água.

Já o blogue precisa mudar. Mudar de cara, de assunto, de endereço. Volto a ele para avisar que ele vai mudar, e em breve. Como em breve farei acontecer minha primeira publicação (agora é pra valer). Uma professora da UFSC – lê-se UFSC – leu meu romance “A dinastia de Ricardo Coração dos Outros”, e quem gostou fui eu. Agora, vai.

O outro, a novela “Paredes que falam”, continua, mas um pouco fora do blogue, porque carece de uma revisão: as paredes andavam falando demais.

E fico por aqui, porque Rio, São Paulo e Minas ficam muito longe; mas estarei em São Paulo de 4 para 5 de abril – semana que vem. Se alguém se animar, não vou quebrar meu tamborim – é claro. Nem tocar tamborim eu vou – que fiquem tranqüilos meus amigos, que não vou perturbar seu sono, muito menos sua conversa.

Para encerrar, esclareço: ainda não sou tão ao contrário de mim, a ponto de assistir ao BBB global, não. No meu caso, BBB é isto: boxe, boemia e blogue. Já que o casamento dos dois primeiros não vai dar certo mesmo, que seja um triângulo amoroso.

Mas que o blogue precisa mudar, precisa.

Por favor: que alguém fale de si.

mariobenevides.blogspot.com, 29 de março de 2007 (hoje, minha mãe faria 86 anos)

3.05.2007

LÁ LONGE

Hoje era segunda-feira
Dia difícil para quem trabalha
Mais ainda para quem não trabalha
E precisa.

Hoje
Era uma favela
Era uma menina preta
Que levou a irmã para a creche.

Na volta
Ela não voltou.
Ela
- a menina preta da favela
que tinha levado a irmã na creche -
Levou um tiro.

O tiro foi da polícia
O tiro foi do tráfico

Ela não voltou.

Ela era preta
Ela morava na favela
Ela morreu.

Quase íamos esquecendo:
Sua idade era 12 anos.

A mãe dela(preta)
Ficou gritando
Quero minha filha
Quero minha filha
Quero minha filha.

Quase íamos esquecendo:
A que morreu tinha 12 anos.

A irmã dela ficou na creche.