Sábado ventoso em Florianópolis,
minha mulher, gripada, enquanto nossa filha ainda está a caminho, de férias,
voltando da serra gaúcha, e de ônibus, pedimos um peixe para almoçar em casa. Para
acompanhar, ela, um tinto, eu, um Chardonnay, que se encontravam entocados e
intocados na adega do apartamento, verdadeira personagem de novela moderna: artificial
e sincera. A rádio FM tocava boas músicas, até que, às tantas, um David Byrne
que, com minhas indevidas desculpas a ele e ao Caetano Veloso, ultimamente não me
tem agradado. Por isso, depois do almoço, a TV. Eis que Angélica entrevista o
Casseta Hélio de La Peña, vestido com a camisa do Botafogo. Nada contra
qualquer outro sotaque - pelo contrário, sou viciado neles –, mas o carioca me inebria,
muito mais que um tango, que um Malbec ou um Chardonnay. Nada contra qualquer
time, a não ser o Boca Juniors, esse antijogo da modernidade - mas o Botafogo, na
i-ne-nar-rá-vel narrativa do locutor Casseta, é o de 1967 e 68, o de 1989, o de
1995 e o de 2010; é o de um barão holandês, que, como o Bafo da Onça, acabou de
chegar, cujo nome não sei - mas sei que é casado com uma brasileira e que seus
antepassados vieram a nado da África para que ele nascesse na Guiana; é o de
uma van, com samba da Beth Carvalho e hino alvinegro primeiro e único cantado
pelo Zeca Pacodinho, em companhia de Edson Celulari, Marisa Monte, Ed Mota e mais
alguns outros notáveis botafoguenses, que se perguntam: - Mas não éramos
dezoito? De pronto, um deles esclarece: - Não, os dezoito eram os do Forte.
Pois é de longe que grito e tento
por eles ser notado:
- Jesus Cristo, estou aqui! Somos,
sim, dezoito! E atenção! Loco Abreu a vista! O branco-e-preto é outro, mas, nos
pênaltis, em se cavando, tudo dá!
E assim me despeço: vou à
livraria procurar o livro do Hélio de La Peña, que conta o Botafogo para
crianças. Ele está certo: o Botafogo sempre será para crianças.