11.16.2007

HOJE FOI ASSIM:

Pode não ter feito sol onde você mora e você não foi à praia nem à cachoeira, mas dormiu até o sono acabar. Não tocou o despertador. Bem verdade que o vizinho resolveu recolocar o telhado, arrancado pelo vendaval da noite passada, e você acordou antes e diferente do que gostaria; mas teve um dia inteiro para fazer o que bem quis, a ponto de se esquecer de que, para tudo, há uma moeda – redundante dizer “de troca”.

Você ficou na moita. O tiroteio vai ficar para amanhã – ou, se você não for banqueiro nem bancário, comerciante ou comerciário, para segunda-feira.

Você ficou em casa. Aparou a grama, fez ginástica, amor, alongamento, consertou o encanamento, pegou um filme, uma onda, namorou, telefonou, escreveu, se esqueceu.

Você foi ao cabeleireiro, fez as unhas, pintou-se, acomodou-se, foi ao cinema, inclusive e principalmente se trabalha na bilheteria.

Viu tv. E viu tv. E desligou a tv.

É que hoje é quinta-feira, você mora no Brasil e – em 1889 – um marechal de pijamas foi informado de ter ele mesmo proclamado a República. Um imperador foi embora com sua coroa e sua família e você não compreende porque, afinal, isso, essa partida, causa em você essa tristezazinha. Simpático, aquele sujeito, de barba branca, andam falando muito bem, dele. Do marechal, sabe que nem tanto? Da República, também não, da Monarquia, também não, da Ditadura e da Ditadura, também não.

Fato é que você acordou quase no mesmo momento em que seu sono acordou e virou dia e você se deu conta de que a vida não deve mesmo ser levada muito a sério não. Porque aqui é o Brasil. Mesmo essa tristezazinha - com vários outros maiores motivos que a partida do velhinho de barba branca - não é capaz de desfazer a certeza de que a vida não pode ser levada a sério e a de que o lugar da sua celebração é aqui: o Brasil. E a do privilégio que isso significa.

O que não significa que você esteja realmente convencido de que devesse ter deixado de reclamar com a polícia que seu vizinho desrespeitou a Lei, martelando o telhado neste feriado nacional, interrompendo seu sono de feriado, sono de feriado nacional.