Da próxima, que me convidem para o nascimento do Maradona, não para o velório. Que me arrastem a brindar um gol dele, não a acompanhar seu velório. Que a vida seja sempre festejada e a morte adiada. Mais que o sofrimento, a fraqueza, a queda, muito mais dói o velório. Da próxima vez, me convidem para o nascimento, o gol, a glória. Que o velório fique para quem propague e idolatre a morte, a quem a ela dê de ombros. Fico do lado de quem nasce, do lado de quem sobrevive. De quem vai, a saudade é tanta que é como se não tivesse ido. Bem vindo, Maradona. Bem vindo.
O DIÁRIO DO MARIO contém crônicas e poemas de Mario Benevides, além do embrião do romance A REVOLUÇÃO DO SILÊNCIO, do mesmo autor, publicado em 2007 pela Design Editora, aqui no blog com o título A DINASTIA DE RICARDO CORAÇÃO DOS OUTROS.
11.25.2020
O SERMÃO DO ASFALTO
Em verdade vos digo, em economia,
Deus não há.
Naquele tempo, Smith, Marx,
Mises, Keynes, Hayek criaram teorias baseadas em determinados contextos, e as
discutiram, às vezes entre si, outras com outros teóricos, e, mais frequentemente,
sós.
Irmãs e irmãos, não deis ouvidos
nem tempo àquele que oferece teorias como roupas a vestir territórios de regiões
e tamanhos distintos, a agasalhar povos de origens, histórias e culturas diferentes.
Em verdade vos digo, prêt-à-porter,
prontas para usar, em qualquer tempo e lugar, somente roupas de estação e moda
feitas em série, a um preço para quem possa pagar.
Viremos agora a página.
Naquele tempo, Conrado Gini criou
um coeficiente, um índice para medir a concentração de renda. Gini então disse:
quanto mais vizinho de zero for esse índice, menor a concentração; quanto mais perto
de um, ou de cem ou de mil se por cem ou mil for multiplicado, maior ela é.
E a que explicava explicou: quando
e onde o coeficiente de Gini é baixo e a renda média por cidadão é alta; quando
e onde a concentração de renda é baixa e o PIB per capita é alto, e há educação
para compreender o que são essas coisas, se está perto da civilização.
E o que citava e dava exemplos
exemplificou e citou: por exemplo, Holanda; para citar, Noruega.
E a que explicava explicou:
quando e onde o coeficiente de Gini é alto e a renda média por cidadão é baixa;
quando e onde a concentração de renda é alta e o PIB per capita é baixo, e não
há educação para compreender o que são essas coisas, se está perto da barbárie.
E o que citava e dava exemplos
exemplificou e citou: o Brasil.
Em verdade vos digo, a discussão
entre Estado Mínimo e Estado Máximo é um barco afundado no oceano da realidade.
Holanda e Noruega têm participações do Estado na economia totalmente
desproporcionais entre si, e assim o é nas duas maiores economias do mundo.
Em verdade vos digo, cada povo,
mais do que deve, tem que encontrar soluções próprias para suas próprias e
únicas realidades.
Viremos a página mais uma vez.
Naquele tempo, a Constituição da República
Federativa do Brasil era do Estado do Bem Estar Social. O Estado, por meio de
Governos, garantiria direitos, como à vida, à educação e à saúde, e teria como
três dos seus cinco fundamentos a cidadania; a dignidade; e os valores sociais
do trabalho e da livre iniciativa.
Em verdade vos digo, em vez de se
discutir em Bizâncio teorias que geralmente sequer são conhecidas por quem as
professa; ao invés de proferi-las no deserto para seres soterrados pelo egoísmo
dos imbecis,
Praticar os valores sociais do
trabalho e da livre iniciativa bem poderia pôr o Brasil no Mundo.
Palavra da reflexão.
11.17.2020
RELIGIÃO
A começar que sou herege,
porque sou grego. Politeísta. Acho muita responsabilidade deixar tudo nas
costas de um só. Ou de uma só. Nascemos de mulheres, deus é deusa. Zeus é
Afrodite, acredite se quiser.
A continuar que sou hebreu
expurgado sem nunca ter sido. Panteísta. Como Baruch Spinoza. Deus está, em
toda parte, não propriamente é. Vá dizer isso em inglês ou francês e depois
fale mal da nossa língua.
A permanecer que sou africano. Há
espíritos do bem e do mal. Incorporam na gente sem que a gente perceba.
A enlouquecer todos os dias que
sou católico luterano. Peço desculpas e que Jesus leve consigo minha culpa. E que Maomé só expresse o que for amor e paz.
A ficar que sou budista,
desapegado de quase tudo, menos das gentes.
A ilustrar que sem ter nenhuma
tenho infinitas religiões indianas que sequer conheço.
A confundir que sou kardecista, com
a diferença de que reencarno todos os dias em outro planeta, cheio de sol, de
lua, de mar e montanha, de canções, de vinhos e de mulheres-deusas interessantes
e inteligentes, todas minhas amigas. Uma será minha amante, que dará luz à
nossa filha. Haverá homens, somente aqueles que me são amigos.
A terminar que não haverá um
final.
11.06.2020
HOMEM E MULHER
O texto a seguir foi postado em 9 de setembro de 2017. O atual título era subtítulo de "Cortinas de fumaça". À exceção de ter sido retirada a última frase - Ou não tem nada a ver? (que não tem nada a ver) -, tudo permanece igual, pois parece que foi hoje.
Dizem que religião é um dos assuntos proibidos, mas, se não nos falarmos, aí mesmo é que não vamos nos entender, e dar de bandeja para quem ganha com isso.