6.29.2013

O MOVIMENTO



Há fascistas no movimento. E neonazistas. E vândalos. Sou capaz de apostar que há marxistas e até estalinistas. Houve quem dissesse que há belgas, mas indianos não - paradoxalmente com insinuações de que somente determinadas castas e etnias estariam presentes.

Algo que não se discute: há apartidários e partidários.

Curioso é que não costumam falar de proporções e ninguém comenta que pelo menos um gênio esteve presente: aquele que disse a quem estava ao seu lado depredando uma placa, Maluco, essa placa é tua.

Era uma vez 1978, eu tinha 22 anos, era recém-formado em engenharia e havia uma ditadura. Um colega de faculdade e trabalho me perguntou se eu preferia o capitalismo ou o comunismo. Eu respondi, A democracia. Ele debochou de mim e me explicou que uma coisa era o regime político e outra o econômico.

Perdoem se insisto na minha redundantemente teimosa burrice: até hoje, entre o capitalismo e o comunismo, continuo preferindo a democracia.

Tão patético quanto propor uma constituinte específica, a ponto de ter que desistir dela no dia seguinte, é querer o impeachment de quem a propôs apenas por não aprovar seu governo. Eu não votei nela nem me tornei fã e talvez além de burro eu seja ignorante, mas me parece que não foi essa senhora que inventou a corrupção, como até o momento não houve indícios de que desta fosse cúmplice. Pelo contrário: com presteza, destituiu aqueles sobre os quais pesavam graves suspeitas e sobre seus cargos tinha o poder de fazê-lo. Há quem se esqueça de que, no Brasil, a democracia tem três poderes.

Outra passagem que acho pertinente é o comentário de um amigo meu, que, sabendo que há saudosos da ditadura, me disse, Eu sempre quis ser rei. Ora, digo eu, até para ser súdito a democracia é melhor.

Há quem exalte esse movimento como inédito, se esquecendo de que a história recente como a nem tão recente (1968) teve semelhantes, aqui e no mundo inteiro, inclusive com a percepção de mais de uma causa ao mesmo tempo. Nem a novidade da rapidez da comunicação deveria ser tida como aquilo de mais especial que ele trouxe, porque esse lugar está para sempre guardado para a acachapante desaprovação da (provavelmente) mais calhorda proposta de emenda constitucional surgida depois de 1988, ano em que o Brasil festejou a redescoberta do quanto é bom possuir uma constituição democraticamente construída.

Li no jornal que a senhora presidente pretende conversar com os estudantes pelas redes sociais. Melhor assim, presidente: conversar é melhor que pensar que se entende de tudo, porque também patética é a prepotência. E tão certo quanto eu jamais vá me dirigir à senhora como presidenta é que jamais vou chamá-la de prepotenta.

A causa sempre foi uma só.

Democracia, um beijo pra você.

6.19.2013

A REVOLUÇÃO DO SILÊNCIO – ROMANCE DE 2007 (MARIO BENEVIDES) – TRECHOS:

“Nada mais chamava a atenção de ninguém. Era normal a sucessão de guerras, desgraças, vilezas, grosserias explícitas e outras disfarçadas. Movimentos, protestos, marchas, armas de todo tipo, tudo (...) somente imagens coloridas. (...) O que fazer para chamar a atenção dos outros, ainda mais a ponto de provocar uma revolução? (...) Seria pacífica, sem tiros ou golpes de estado: uma revolução de mentalidade.”


“As comunicações se haviam tornado insossas, repetitivas e sem crédito. (...) [A política] caíra em terreno ainda mais árido de interesse do que o experimentado pelas comunicações. (...) Nada mais parecia despertar o mais vago patriotismo – nem mesmo o velho futebol.”

“A tecnologia avançava em seu ritmo já assimilado mundialmente, ou seja, vertiginoso. (...) Lá fora, indigentes, estudantes, burocratas, sobreviventes da vida nas ruas, atores e atrizes do Cerrado e arredores, índios e suas vestimentas características, índias inteiramente nuas, padres, freiras, estrangeiros radicados no país, profissionais de comunicação do mundo todo, militares, prostitutas, travestis, mulheres-crentes e suas tranças desalinhadas até a cintura, mulheres de pano na cabeça e no rosto, mulheres de tailleur e de minissaias e de calças despojadas e homens de terno e gravata e de bermuda, tipos os mais variados, alguns andando de um lado para o outro, enquanto outros preferiam sentar-se no chão e outros, ainda, deitaram-se. Todos em silêncio.”

(...)

“Desânimo nunca mais; imposições nunca mais; demagogia nunca mais; corporativismo nunca mais; inclusão, progresso econômico, financeiro e humano, sempre. Democracia sempre. Esclarecimento sempre. Cultura, educação, capacitação; respeito; ética - sempre. Punição por meio de prisão e/ou prestação de serviços comunitários, banimento e constrangimento por meio do mais absoluto ostracismo aos corruptos e corruptores. Assim foi.”