Amigo João:
As telecomunicações explodiram-se
Na razão da expansão do universo
Na proporção inversa da razão.
Os botequins e as esquinas
Afastaram-se
Na velocidade do engarrafamento.
Como você fez questão de me ensinar,
Os botequins e as esquinas ainda existem,
Meu amigo João.
A melhor inspiração
Da estátua da liberdade
- alguém erguendo a mão, dedos estrelados, chamando o garçom –
Permanece,
Meu amigo João.
Amigo João:
Da próxima vez
Que eu me aproximar de São Paulo,
Numa nave antiga ou moderna,
Cego que sou,
Necessariamente guiado por um cão,
Farei sinal a um táxi
Irei direto à questão:
Quero beber alguns chopes
Na companhia do meu amigo João.
O DIÁRIO DO MARIO contém crônicas e poemas de Mario Benevides, além do embrião do romance A REVOLUÇÃO DO SILÊNCIO, do mesmo autor, publicado em 2007 pela Design Editora, aqui no blog com o título A DINASTIA DE RICARDO CORAÇÃO DOS OUTROS.
5.23.2008
5.20.2008
CLARICE E VANDERLÉIA
“Mas a vida humana é mais complexa: é a busca do prazer, seus temores, e, principalmente, a insatisfação dos intervalos.”
(Clarice Lispector, "Perto do coração selvagem".)
“Senhor juiz... Pare! Agora...”
“Senhor juiz... Pare! Agora...”
(Vanderléia, nos tempos da Jovem Guarda)
Sete e meia da noite. O alarme de um estacionamento dispara. Toca repetidamente seu som insuportável de alarme. Se ladrão houve, já se foi faz tempo.
Sete e quarenta e cinco. Polícia, por favor, pare! Agora. O alarme. Aqui é da Federal, favor ligar para a Civil.
Sete e cinqüenta. Polícia, por favor, pare! Agora. Aqui é da Civil, favor ligar para a Militar.
Sete e cinqüenta e cinco, Aqui é da Militar, senhor, não podemos fazer nada, a não ser uma ronda.
Oito e cinco. Parou o alarme.
Oito e quarenta. Silêncio na casa. Ela chegou e interrompeu.
Dez. O cachorro chegou e fez uma festa danada, pulou no colo e tudo. E voltou para perto dela.
Onze. Um filme na TV, uma entrevista, tudo ao mesmo tempo. A menina com o livro nas mãos diz em voz alta o texto impressionante. Para ela.
Meia-noite é solidão e todo mundo sabe. A tal ponto que gira sozinho em torno do sol que dorme.
Quem quiser que acredite: meia-noite e quinze: o alarme voltou a tocar.
Quem quiser que acredite: no exato instante de nova chamada para a Militar, que promete tomar providências, o alarme volta. A parar.
Se ladrão houve, nos roubou a noite.
Curioso: fechada a janela, abriu-se o amanhã.
5.13.2008
UM BELO FILME
ROMA, um nome de mulher: este, o título do filme no Brasil. Na versão original, ROMA. Roma é portenha, descendente de italianos, mulher de um boêmio, de carne e osso, ela, professora de piano, mãe libertária de um futuro escritor, que se muda para a Espanha nos anos 70, ditaduras militares em curso na América do Sul. O que se conta é o passado, - a parte mais especial da vida do escritor em sua Buenos Aires, quando, já há muito radicado em Madrid, tem mais do que os seus sessenta anos, é homem difícil, rabugento - e bom. Eles existem; como existem belos filmes.
Dizer mais, não digo, porque não quero contar o filme; porque não tenho mais nada a dizer, a não ser que assisti a um belo filme, com excelente elenco, roteiro inteligente, passada sensível, espanhol bem falado, castiço e portenho, diferenças sutilmente sublinhadas.
Em DVD.
Buenas noches.
Dizer mais, não digo, porque não quero contar o filme; porque não tenho mais nada a dizer, a não ser que assisti a um belo filme, com excelente elenco, roteiro inteligente, passada sensível, espanhol bem falado, castiço e portenho, diferenças sutilmente sublinhadas.
Em DVD.
Buenas noches.
5.11.2008
DIAS DAS MÃES
Pois é, meu blog amigo,
Meu Rio antigo,
Faz tempo não nos falamos.
Permaneço aqui, nesta ilha imensa,
Onde o mar
Felizmente
Imenso
Permanece.
Anoitece.
Hoje – agora - é noite de domingo.
Por isso,
Rimo;
Remo
Contra a maré
Do frio,
Do inverno.
Quando rima é o que eu quero,
Rima é o que não me vem.
Hoje
É dia das mães.
Almoçamos fora,
Fomos a um restaurante -
Privilégio, blog amigo,
Saudades, Rio antigo.
Rio moderno
Da Rua do Lavradio
Rio
Das soluções
Tardio.
Vencido,
Rio,
Vencido?
Não pode ser,
Hoje
É domingo
É dia das mães,
Rio,
Você, Rio, minha mãe.
E meu pai.
Florianópolis,
Deus te abençoe,
Te faça percorrer caminhos
Que te levem à semelhança com o Rio
Só naquilo
Que o Rio tem de bom.
Fale mal do Rio,
Florianópolis,
Mas nos faça um favor:
Faça diferente.
Não empilhe pobre no morro,
Não seja assim tão brasileira
De mera observação.
Seja brasileira
De criatividade.
Invente-se a si,
Florianópolis,
Reinventando até o Rio,
Reinventando até o Brasil.
Rio,
Florianópolis,
Brasil,
Façam-nos o favor
Do nosso renascimento:
Afinal
Hoje
É dia das mães.
Queremos renascer
No colo amado.
No lugar da rima,
O impensável:
O mar
Moldura
Da dignidade
Individual
E coletiva.
Hoje -
É dia das mães.
Meu Rio antigo,
Faz tempo não nos falamos.
Permaneço aqui, nesta ilha imensa,
Onde o mar
Felizmente
Imenso
Permanece.
Anoitece.
Hoje – agora - é noite de domingo.
Por isso,
Rimo;
Remo
Contra a maré
Do frio,
Do inverno.
Quando rima é o que eu quero,
Rima é o que não me vem.
Hoje
É dia das mães.
Almoçamos fora,
Fomos a um restaurante -
Privilégio, blog amigo,
Saudades, Rio antigo.
Rio moderno
Da Rua do Lavradio
Rio
Das soluções
Tardio.
Vencido,
Rio,
Vencido?
Não pode ser,
Hoje
É domingo
É dia das mães,
Rio,
Você, Rio, minha mãe.
E meu pai.
Florianópolis,
Deus te abençoe,
Te faça percorrer caminhos
Que te levem à semelhança com o Rio
Só naquilo
Que o Rio tem de bom.
Fale mal do Rio,
Florianópolis,
Mas nos faça um favor:
Faça diferente.
Não empilhe pobre no morro,
Não seja assim tão brasileira
De mera observação.
Seja brasileira
De criatividade.
Invente-se a si,
Florianópolis,
Reinventando até o Rio,
Reinventando até o Brasil.
Rio,
Florianópolis,
Brasil,
Façam-nos o favor
Do nosso renascimento:
Afinal
Hoje
É dia das mães.
Queremos renascer
No colo amado.
No lugar da rima,
O impensável:
O mar
Moldura
Da dignidade
Individual
E coletiva.
Hoje -
É dia das mães.
5.01.2008
POEMELHO NO ESPELHO
Quem vence a inflação
A recessão
Toda porcaria
Quem fica sem emprego
E vota
Ou não vota
Quem suporta
Quem agüenta
Principalmente a hipocrisia
A demagogia
Quem vai à guerra
Morre por Deus
Ou a Democracia
As estupradas
Os violentados
Os de pernas arrancadas
Os de barriga vazia
Os que assistem à TV
Todos
Que aplaudem
Vitórias suas
Postas
Nas estatísticas,
Nos índices,
Nos discursos,
Pode ser que um dia
Bem cedo acordem
Como fazem todo dia
Se olhem no espelho e digam
- Cada um às suas próprias remelas -
Todas essas vitórias são
Foram
Minhas.
A recessão
Toda porcaria
Quem fica sem emprego
E vota
Ou não vota
Quem suporta
Quem agüenta
Principalmente a hipocrisia
A demagogia
Quem vai à guerra
Morre por Deus
Ou a Democracia
As estupradas
Os violentados
Os de pernas arrancadas
Os de barriga vazia
Os que assistem à TV
Todos
Que aplaudem
Vitórias suas
Postas
Nas estatísticas,
Nos índices,
Nos discursos,
Pode ser que um dia
Bem cedo acordem
Como fazem todo dia
Se olhem no espelho e digam
- Cada um às suas próprias remelas -
Todas essas vitórias são
Foram
Minhas.
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