4.02.2019

ESQUERDA E DIREITA


Como todo mundo dá palpite sobre esse tema, eu também vou dar o meu. A dicotomia Esquerda e Direita com significado político surgiu na época da Revolução Francesa. No Parlamento Francês, à esquerda ficavam os jacobinos, contrários à monarquia e seus privilégios; à direita, os girondinos, afeiçoados à nobreza, logo, conservadores. Deste lado o conservadorismo “de direita” e do outro liberdade, igualdade, fraternidade “de esquerda” – como visto, meras alusões às posições respectivas na Assembleia Nacional da França do século XVIII. Cerca de 80 anos depois, Marx desenvolveu suas teses contra o capitalismo, e capital é algo que os que o têm no mínimo não o querem perder, logo, são conservadores. Dois passos atrás, a Revolução Gloriosa transferiu poderes da monarquia para o Parlamento Inglês, e neste caso saiu vitorioso o liberalismo, que ninguém à época poderia classificar de esquerda ou direita, pois a Revolução Gloriosa na Inglaterra precedeu em 100 anos a Francesa. Como o liberalismo se baseia na ação individual e o comunismo e o socialismo na coletiva, estes se consolidaram como representativos da esquerda, e o liberalismo foi para o lado da direita. Chegamos ao século XX. Gramsci, marxista, é preso pelo fascismo, até morrer. Preso também foi Norberto Bobbio, então simpatizante do marxismo, que escapou com vida por se ter desculpado perante o fascismo. Vários outros episódios ficaram na História a não deixar dúvidas de que o fascismo se contrapôs ao comunismo - e se este está à esquerda, o fascismo está à direita, e direita nacionalista, com grande peso estatal em tudo: nos negócios, no direito, nos costumes. Nem por isso se torna de esquerda, pois que combate o comunismo, sendo que este, naqueles tempos, praticamente eliminava a iniciativa privada, de novo contrapondo-se ao liberalismo e ao capitalismo – este, no caso do fascismo, fortemente estatal. Com o nazismo não foi diferente, acrescentando porém o arianismo, a ideia da supremacia branca alemã. Assim, não me parece difícil percebermos que: (1) nazismo e fascismo foram e são “de direita”; (2) estão mais à direita do que o liberalismo está em relação ao comunismo, e por isso, nazistas e fascistas usualmente se autoproclamam de ultradireita (o atual presidente do Brasil assim se referiu a si e ao seu (ex) partido PSL ao a ele se filiar); (3) como o conceito político de “esquerda” surgiu antes do comunismo, este não pode ser considerado como a única forma de “esquerda”; daí uma das razões de o comunismo totalitário ser considerado de ultraesquerda. Mas, alguém poderia perguntar, não existe vida entre essas posturas e definições? Algo que se possa chamar “Centro”? Voltemos a Norberto Bobbio, que em seus últimos anos se disse a favor do socialismo liberal, como consta da página web do seu contemporâneo, nosso Miguel Reale – que em contraponto disse preferir o liberalismo social, enfatizando porém que seria o Centro o único capaz de apaziguar as disputas ideológicas. Mas no Brasil tudo é diferente. Quem se autoproclama ultradireita defende o liberalismo; o Centro vira “centrão”; uma dada, suposta religião invade o poder, em um país laico; e quem disse o exato oposto ao que dizem historiadores, pesquisadores, testemunhas, e, como eu, amadores, não só foi aprovado pelo Itamarati como ocupa o cargo de chanceler. Poeta Carlos, você foi ser gauche na vida. E nós, poeta? O que seremos e o que será de nós?