9.30.2018

DECÁLOGO PARA AS ELEIÇÕES 2018


Cheguei a rascunhar uma pequena paródia de Shakespeare. Cabo Daciolo seria o Clown. Mas mudei a forma para não mais que dez divagações, em poucas linhas.

(1)

Para pensarmos melhor, melhor seria Dirceu, Lula e Bolsonaro pararem de falar.

Para pensarmos melhor, melhor seria Boulos, Marina, Meirelles e Amoêdo (além de Daciolo), sob aplausos de uns, passando por protestos ou a indiferença de outros, saírem de cena.

Para pensarmos melhor, melhor seria Mourão e Haddad entenderem que não é o caso de uma nova constituição, mas apenas de conhecermos, respeitarmos e fazermos respeitar a nossa, sobre a República Federativa do Brasil. Bastam-nos um dos seus princípios fundamentais - valores sociais do trabalho e da livre iniciativa – e um dos seus objetivos fundamentais - promover o bem estar de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

Para finalmente pensarmos melhor, melhor seria que Alckmin e Ciro finalmente dissessem ao que vieram.

(2)

Mulheres de Esparta e Atenas, não deixeis vossa autoestima ser estuprada.

(3)

Há quatro anos, alguns amigos nossos tinham resposta para tudo, cheios de razão.

Hoje, muitos dos que os criticavam fazem exatamente o mesmo.

O que será que houve com os ouvidos?

(4)

De Freixo a todos os outros, deu Crivella. Parece não estar agradando.

(5)

Todo mundo com armas, com registro, identidade e CPF, à disposição de assaltantes, antes somente interessados em celulares. Ou teu nome é Clint Eastwood?

(6)

Família diferente de homem e mulher, cuidado: pode estar cheia de tias e tios, avôs e avós, não necessariamente consanguíneos, já pensou?

(7)

Por que não passar trator onde antes eram reservas indígenas e quilombos? já nem museu nacional temos, ué!

(8)

Bancada da Bala, Bancada Evangélica, Bancada Rural – cara, só dá gente honesta.

(9)

Quem respeita, amigo é.

(10)

Quem respeita amigo, é.



Bom domingo.






9.22.2018

UMA CARTA, NADA MAIS QUE UMA CARTA

Caro amigo. Sonhei que viajávamos de trem para Berlim. Nunca viajamos juntos de trem, muito menos para Berlim. Semana passada, eu e Rosa estivemos na Itália. Fomos e voltamos de avião, e lá andamos a pé, de barco e de carro. Creio que o sonho foi influência de filmes que tenho visto, filmes europeus, desses em que todo mundo anda de trem. Era fácil nos vermos quando morávamos perto, mas, primeiro, você e sua amada se mudaram para Minas; depois, eu minhas duas amadas para o Sul. Muito cedo, você partiu, e entre um momento e outro nos falamos pouco. Você e outros amigos sabem, não sou muito de falar por telefone. Pois hoje tenho saudades de você e do telefone. Agora, tudo flui pelas redes, gravado ou digitado. Outro fenômeno contemporâneo é que todos somos donos da verdade, todos temos razão. Contraditório e ampla defesa são termos restritos ao STF, onde trabalham nossos pop-stars. Surpreso, você? Guitarras e violões deram lugar a togas. No sonho, depois de saltar, como sempre e felizmente, no lugar errado, eu vi por trás de uma divisória uma parede de azulejos nada alemães. Era um bar, e lá (e já) você estava. Sem me queixar e nenhuma pressa de partir, fico por aqui, mais que nunca admirando os doidos que falam sozinhos como eu, com a diferença de que de fato veem alguém ao lado deles. Ter você ao meu lado outra vez, em um trem para Berlim que parou na estação onde o bar é português e fica no Rio, já não tenho mais inveja dos loucos, mais perto fico deles, sem verdade, sem razão.