10.11.2005

O SIM E O NÃO

Cronistas gostam dessas polêmicas: o assunto vem até eles espontaneamente, sem que seja necessário procurar por um dentre vários ou inventar um.

Curiosa discussão. Quem jamais pensou em comprar uma arma deve agora estar vivendo a aflição dos últimos dias: tem que ser agora, pois, após o dia 23, poderá estar impedido de adquirir uma arma legal (no sentido de dentro da lei – claro). É possível que quem já possui uma arma esteja formando um verdadeiro exército dentro de casa, também possuído pela mesma aflição dos últimos dias. É muito pouco provável que ações judiciais não sejam capazes de jogar por terra possível obrigação legal de se devolverem as armas que se tiver em casa depois da proibição do seu comércio; portanto, se você é um aflito dos últimos dias, não perca tempo: vá à loja mais próxima e arme-se. Por causa desses aflitos, é de se imaginar que o comércio de armas legais esteja faturando como nunca; mas pode ser que nunca mais possa faturar tanto, pois, após o dia 23, quem sabe seja obrigado a restringir suas vendas às forças armadas e outras atividades que permitem a posse e até o porte de armas.

Desarmar o cidadão não é a solução – diz a campanha do não. Claro que não. Entretanto, armar o cidadão – é a solução?

Há quem diga que proibir o comércio seja dar ao bandido a certeza de que você não tem arma em casa. Falso: a menos que ele faça rigorosa investigação prévia, não terá como saber se você comprou uma ou muitas antes do dia 23 ou se você não é da polícia ou do exército ou da marinha ou da aeronáutica ou fiscal da receita – e tanto pode ter como portar armas legais; ou do tráfico – caso em que comprar as ilegais é nada vexatório. A incerteza permanecerá, apenas e talvez, menor – o que poderá, inclusive, diminuir o apetite do bandido – o qual, segundo a campanha do sim, muitas vezes tem como alvo do seu furto exatamente armas.

Apregoam outros defensores do não que quem mora em lugar ermo tem que ter uma arma, para espantar ou mesmo matar um invasor indesejado. Mas, como saber se o invasor é de fato indesejado? E se você for um atlético e solitário valentão e o invasor da sua erma propriedade for uma invasora – Luma de Oliveira, com súbita e irresistível vontade de fazer xixi, com medo de abelhas e cansada de tocar a campainha da porteira do seu sítio, que você não ouviu, tão preocupado que está em ouvir invasores indesejados?

Outro argumento a favor do não: o rico pode contratar segurança armada, o pobre, não. Ora, mas se o pobre é pobre, quem vai querer assaltá-lo? E que dinheiro o pobre terá para comprar uma arma?

A grande covardia, como bem observou o irmão deste cronista internético, foi por no nosso colo a decisão. O Estado, além de incapaz de nos defender, deu uma de Pilatos: se vocês disserem sim, problema de vocês; se disserem não, também.

Não senhor. Dizendo sim, a população estará devolvendo ao Estado a responsabilidade que lhe cabe e é exclusiva – a de defendê-la. Definitivamente.O

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