Reenquadre-se
De corpo inteiro
Dentro de um retrato
3 por 4.
Perceba-se
Tristeza e alegria
Tudo e nada que lhe pertence
Cabe no retrato 3 por 4.
A moldura são os outros
Seu ganha-pão
Seu perde e ganha
Nesta vida 3 por 4.
Dentro da foto
Dentro das paredes
Sob teto e chão
Do retrato 3 por 4
É você.
É aquilo de que você realmente gosta
O que você venera e admira
Quem você realmente quer - e quer bem.
A profundidade -
Suas múltiplas dimensões
Sem frente nem verso
Nem pra frente nem pra trás
O espaço em que você transita
Sem começo nem fim
Sem finalidade
Sem rumo -
É você.
Saindo pra fora da moldura
Que envolve seu corpo
Numa foto 3 por 4.
Reinvente-se
E caia fora
Para frente ou para trás
Do retrato de corpo inteiro
Da moldura
Dos limites
Desta vida 3 por 4.
O DIÁRIO DO MARIO contém crônicas e poemas de Mario Benevides, além do embrião do romance A REVOLUÇÃO DO SILÊNCIO, do mesmo autor, publicado em 2007 pela Design Editora, aqui no blog com o título A DINASTIA DE RICARDO CORAÇÃO DOS OUTROS.
1.26.2008
1.22.2008
O ESCRITOR AMÓS OZ E UMA SÓ PERGUNTA
Parati, julho, 2007,
Programa Roda Viva,
Uma entrevista e suas perguntas.
O escritor israelita Amós Oz
Irresistível
Seu humor irresistível
E suas respostas.
Não gosta de computador
Escreve com duas canetas.
Com a primeira opina
Com a segunda, conta histórias.
Ao contar uma história
Tem mais imaginação que memória
Sem saber quanto desta vem naquela.
Ao opinar
Se dedica à História.
Ao contar histórias
Não é sua vontade que prevalece:
Querem, nelas, perceber fatos.
Caro Amós Oz:
Quando se escreve um romance
- Romance?
Uma novela
- Novela?
O que se conta é lembrança
- Lembrança?
Uma história
- Uma história?
Uma ficção
- Ficção?
Que se distingue da História
- História?
Por não contar fatos?
Não a vontade
Mas é a pergunta
Uma só pergunta
Que permanece:
- O que são fatos?
Programa Roda Viva,
Uma entrevista e suas perguntas.
O escritor israelita Amós Oz
Irresistível
Seu humor irresistível
E suas respostas.
Não gosta de computador
Escreve com duas canetas.
Com a primeira opina
Com a segunda, conta histórias.
Ao contar uma história
Tem mais imaginação que memória
Sem saber quanto desta vem naquela.
Ao opinar
Se dedica à História.
Ao contar histórias
Não é sua vontade que prevalece:
Querem, nelas, perceber fatos.
Caro Amós Oz:
Quando se escreve um romance
- Romance?
Uma novela
- Novela?
O que se conta é lembrança
- Lembrança?
Uma história
- Uma história?
Uma ficção
- Ficção?
Que se distingue da História
- História?
Por não contar fatos?
Não a vontade
Mas é a pergunta
Uma só pergunta
Que permanece:
- O que são fatos?
1.16.2008
AGENDA CARIOCA - UMA ANACRÔNICA
Um camelô vendendo agendas na Rua da Quitanda, Rio de Janeiro, sim, janeiro de 2008. Quem as compraria? Quem precisaria de hora e dia marcados em uma agenda de camelô? Alguém como ele, camelô, certamente que não; seus horários são poucos: o de acordar e o de fugir do rapa. Não difere ele dos outros comerciantes, que não consomem aquilo que vendem. Donos de bares não são bebedores, os de papelaria, se viciados em lapiseiras, a quem as venderia?, um hipocondríaco farmacêutico, ora, falência seria sua morte e não a anorexia. Comprará uma agenda do camelô não alguém igual a ele, mas alguém tão marginal quanto ele, especialmente nos horários, marcados na margem da agenda e não nos impressos – porque, nestes, apenas registrará aquilo que nada descreverá da sua vida: o crediário, o dia do salário, o aniversário, o nome do credor e do devedor, além do próprio, de esperto, de otário. Seu endereço e o tipo sanguíneo que mereceu e merece de nascença constarão, para que, no caso de perda da agenda – sua própria vida –, esta possa lhe ser devolvida; e no da súbita e sempre inesperada fuga daquela que corre debaixo do relógio de pulso - comprado de um camelô – sua própria vida -, para que apareça um outro portador de agenda comprada de um camelô, que se torne, da noite para o dia, da vida, um doador.
Eu comprei uma; você não compraria?
Eu comprei uma; você não compraria?
1.01.2008
ÁRVORES
Árvores. Há uma, no quintal do prédio onde mora meu irmão
Que parece um bicho esticando o pescoço,
O tronco, inclinado,
Duas raízes que são como pernas,
A cabeça – o cabelo revolto de uma árvore –
Procurando, lutando para encontrar
O sol. Ou a chuva. O céu.
Seu chapéu.
Árvores perdidas nas calçadas do Rio de Janeiro,
Ruas, suas ruas são indiscutivelmente arborizadas,
Suas ruas são metralhadas,
Em algum momento era tudo óbvio e não quiseram perceber.
Uma árvore permaneceu árvore.
Árvore de Natal.
Que parece um bicho esticando o pescoço,
O tronco, inclinado,
Duas raízes que são como pernas,
A cabeça – o cabelo revolto de uma árvore –
Procurando, lutando para encontrar
O sol. Ou a chuva. O céu.
Seu chapéu.
Árvores perdidas nas calçadas do Rio de Janeiro,
Ruas, suas ruas são indiscutivelmente arborizadas,
Suas ruas são metralhadas,
Em algum momento era tudo óbvio e não quiseram perceber.
Uma árvore permaneceu árvore.
Árvore de Natal.
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