12.23.2007

CERVANTES, O BAR, OU LAPAS-BRASIS

No lançamento do meu romance “A revolução do silêncio”, na Livraria Argumento do Leblon, Rio, 20 deste dezembro, ganhei de presente a visita e um livro de autoria do poeta Ronaldo Werneck, carinhosamente autografado por ele. Na orelha, Geraldo Carneiro o chama de poeta do bas fond. Inevitavelmente, me lembrei de uma canção que fiz há uns vinte anos (letra e música), a qual chamei de “Cervantes, o bar” e, alguns anos depois, inseri na peça “Lapas Brasis”, que escrevi a quatro mãos com Carlos Sérgio Bittencourt. Reproduzo a seguir a letra da canção, deixando meu abraço para alguns poetas amigos meus, especialmente o Ronaldo, pela gentileza, pela re-inspiração:

À porta, três atores
Do diretor, dizendo horrores
Balcão, sanduíche, salpicão,
Schmidt, schinit, uisque, Nietzche,
Fredericos no balcão

Olhando no fundo do copo
Olhando no fundo do copo

Na esquina, moças-vagalumes
Meninas-bolsas com perfumes
Salão, cerveja, salsichão
Magros e godos, visi-gordos
Sincretismos no salão

Olhando no fundo do copo
Olhando no fundo do copo

- Que o mundo morra sem saber que eu fui poeta
- Que o mundo morra sem saber que eu fui atriz

Todas as tardes, quarto andar
Faço um doente caminhar
Depois, de noite, eu vou dançar
O funk da galeria
C’os negros da galeria
Na boate, finjo alegria
C’os brancos sem companhia

- Que o mundo morra sem saber que eu fui poeta
- Que o mundo morra sem saber que eu fui atriz

E de manhã, quantos amores
Quantas saudades de manhã
Jornal, cigarro, macarrão,
Ministro arisco, tão malquisto
Desligo a televisão.

Que o mundo morra sem saber
Que eu fui poeta olhando
Eu
Olhando no fundo do copo
Eu...

12.13.2007

O QUE FICARÁ DE NÓS

(De uma triste constatação de Rosamaria)

Ficarão reportagens sobre gente que a gente detesta
Corruptos, bandidos, prepotentes, mentirosos
Catástrofes
Muito futebol
Alguma coisa parecida com música
Mulheres nuas
Aberrações
Big Brother -

Mas verdadeiramente de nós
Não ficará nada.

Nossas fotos
Nossos textos
Nossas mensagens cifradas
- TXT, ABÇ, BJS -
Tudo será lixo digital.

HDs, será que alguém guarda os seus?,
Disquetes já são coisa do passado
CDs também já são
Nada ficará.

Nem no provedor; nem na CIA.

Nem as florestas
Com as quais nos preocupamos tanto
E por isso deixamos de imprimir
Nossas fotos
Nossos textos
Ficarão: todas serão torradas
Para nos empanturrarmos de carne bovina
Alface e etanol
Enquanto muitos de nós continuarão passando fome
Alguns poucos, andando a pé.

Ficarão fotos esmaecidas
Cartas amareladas
Dos nossos avós.

Nada de nós.

Nada.