1.24.2021

NÃO SE PODE FALAR EM POLÍTICA: COMO ASSIM?

 O que dizer, o que calar, a quem querer, assim falou Gilberto Gil. Redes sociais viraram clubes de concordância. Discordar é brigar. Briga-se no Face Book, no Instagram e no clube mais fechado de todos: o WhatsApp. Grupos familiares brigam, se ofendem, porque todos têm que pensar igual. Não se pode falar em política. Como assim? Política se faz todos os dias, dentro e fora de casa. Política é negociação, debate, quem não negocia e não debate o que faz? A política de Estado incomoda e nesse caso os que não se incomodam que se mudem. Que se calem. Ou que fiquem aplaudindo para sempre os erros e canalhices de quem teve seu voto. Fui criado em um ambiente em que se falava de política o tempo todo. À moda brasileira, defendiam-se nomes e não ideias, programas, partidos, o que era e continua sendo muito ruim. Juscelinistas, Brizolistas, Lacerdistas, Janguistas, todos conversavam entre si, com suas paixões e crenças e decepções expostas, mas nunca se deixava de falar de política em família ou entre amigos. Não se brigava propriamente, se discordava, mas se lia, se debatia. Sim, nas ruas era, como é e será, diferente. Ninguém é ingênuo aqui. Nas ruas primeiro se discursa, depois se marcha, depois se luta. Voltando aos anos pré e durante os de chumbo, era comum as famílias compartilharem quatro, cinco jornais, de linhas políticas divergentes, e se falava. Inclusive durante a ditadura, quando apenas a conversa era mais reservada por causa da truculência e da prepotência, mas nem por isso se deixava de falar em política dentro de casa, no trabalho, nos botecos. E aí chegamos ao século XXI. Cansei de criticar o PT e nenhum amigo petista meu deixou de ser meu amigo. Ninguém me mandou calar a boca, ninguém me disse para que eu não falasse em política. Houve desconfortos, silêncios, mas fomos em frente e continuamos amigos. Debatemos, e devo dizer que eles foram muito mais elegantes que eu. Ninguém tinha razão propriamente, mas me deixei levar pela histeria coletiva que tomou conta do país. Quando eu era garoto, havia um personagem chamado O Abominável Homem da Neve. Pois fui tolo a ponto de defender a candidatura do Inominável Aécio das Neves. Em dado momento fui mal interpretado, quando me referi ao projeto de poder pelo voto comprado como um projeto de ditadura. Eu não me referia a um projeto bolchevique, mas sim à ditadura do voto comprado, que começou no governo FHC. Quando se discutia sobre a reeleição, li um artigo do Raymundo Faoro em que ele repetia o bíblico “Pai, perdoai-vos, eles não sabem o que fazem”. Ler nos abre os olhos. Caí fora daquela tramoia, fiquei do lado dos vencidos. Agora o próprio FHC se queixa da praga que nos deixou. É o caso de perguntar a ele: Foi bom pra você? Se a maioria que seguiu o que há de pior na sociedade tivesse lido “Como as democracias morrem” não teria votado em Bolsonaro. Antes que alguém me pergunte, eu NÃO votei nele e além de textos postados nas redes gravei um depoimento tentando abrir os olhos de quem declarava aquele voto. Defendi a candidatura de um bacharel em direito, mestre, doutor, professor, oito anos ministro da educação e ex prefeito de São Paulo. Em vão. Outro erro: aderi ao impeachment da Dilma, ainda que por causa do Dr. Hélio Bicudo, fundador do PT junto com Raymundo Faoro e Sérgio Buarque de Holanda, três Admiráveis Homens do Pensamento. Se um dos mais ilustres fundadores do PT se voltava contra quem dirigia seu partido eu deveria aderir, foi o que pensei e fiz. “Nunca ceder ao arrependimento, e sim dizer imediatamente a si próprio: ‘isto significa juntar uma segunda estupidez à primeira’. Tendo-se feito um mal, cuide-se para fazer um bem”, assim falou Nietzsche. Pois me arrepender de ter aderido ao impeachment da Dilma faz bem pelo menos a mim, um arrependimento decorrente de grave erro de avaliação. Eu sabia que havia fascistas ao meu lado, mas achei que eram poucos. Eram e são muitos, e ainda que fossem poucos, um único fascista pode destruir minimamente uma convivência. Eles estão aí. Pois agora não se pode criticar o mais fascista, corrosivo e destrutivo governo da história do Brasil. Ou nos dizem que não se pode falar em política ou que a esquerda destruiu a Venezuela e a Argentina (que não está destruída e novamente optou pela esquerda, diga-se de passagem). Esquerda e direita são capazes de boas ideias e de bons e maus governos. Não são esquerda e direita que destroem países. O que destrói países é a mitologia, a idolatria. O que destrói países é o cala a boca, a apatia. O que destrói países é a letargia. O não reconhecer o erro. O não dizer, o calar, o não querer.

Obrigado, Gil, você é sempre inspirador.

 

 

1.18.2021

MATAI-VOS UNS AOS OUTROS

"Quem decide se o povo vai ter uma democracia ou ditadura são as forças armadas". "Quero a população armada para se voltar contra prefeitos e governadores". Voltar as armas da República,  pagas pela população, contra ela, é coisa de covardes e canalhas. Ameaçar com elas é típico de acuados que desprezam a Constituição e a Democracia. Incitar revolta contra poderes legalmente constituídos é característica de bandidos. Ponha isso tudo num liquidificador, tempere com desprezo pela vida alheia e deboche sobre vacinas. Adicione incompetência a gosto. Pronto. Esse é o seu presidente.  Quem prega matai-vos uns aos outros e ama o torturador como a ti mesmo não pode ser presidente. Não pode ser deputado. Não pode ser candidato.