7.21.2010

MELHOR IDADE

Do alto deste edifício, 54 anos vos contemplam. Os meus. Pela legislação, seis me separam do estatuto do idoso e uns 112 da aposentadoria. Ainda não atingi a melhor idade, não sei se vou chegar lá e já me antecipo: melhor porque? Não questiono se de fato a chamada terceira idade é ou não a melhor, mas a forma como a retratam. A La Paralamas do Sucesso, pare e repare. Não faz muito tempo, um anúncio de seguros mostrava senhoras e senhores idosos: eles lutando espadas de madeira e elas jogando amarelinha. O anúncio saiu do ar e sorte do Gérson que desta vez não foi o locutor de uma mensagem tão ruim quanto injusta e infeliz. Claro que ninguém deve matar a criança que traz dentro de si pela vida inteira; é ela que nos mantém vivos, mas fazer idosos de idiotas não parece a melhor estratégia para vender seguros. Pare e repare mais. Vá a um aeroporto e escute a moça que trabalha na chamada de voos – que, pelo emprego que tem, conquistará estatuto e aposentadoria aos 25 anos – dizendo que pessoas da melhor idade terão preferência. No mesmo aeroporto, ao fazer o check-in você reparou: o símbolo do idoso é um corcunda de bengala. Melhor idade é isto: a mais clara demonstração de um certo talento para se desrespeitar a quem se finge conhecer. Talento que pode até existir mundo afora; mas que aqui se manifesta como um produto genuinamente nacional.

7.10.2010

NOSSO QUASE SEMPRE EQUILIBRADO MARIO

Recebi uma mensagem do meu amigo de infância Murilo, com a seguinte introdução:
“Muita injusta a eliminação da nossa seleção. Um time vencedor, com craques indiscutíveis. São coisas de uma verdadeira ‘caixinha de surpresas’. Vamos receber a nossa equipe como verdadeiros heróis, com aplausos para a seleção dos sonhos. Aí é que está o problema: estou falando da seleção de 82, comandada pelo nosso Falcão, que custou ao amigo que escrevo uma porta de Blindex quebrada, no momento daquele famigerado gol italiano. Nosso quase sempre equilibrado Mario deu um ‘bico’ em alguma coisa e acertou nada menos que a porta da sua própria varanda...”
Murilo, o referido “bico” foi de canhota em um copo de base indiscutivelmente sólida, pois o copo, ao contrário da porta, resistiu, e chutei-o e foi de canhota na hora em que o Falcão fez o segundo gol contra a Itália com a respectiva canhota, Falcão que é uma exceção a canhotos do meu naipe e merecia ser por mim especialmente homenageado, pois canhotos do meu naipe não conseguem atingir o estágio de quase sempre equilibrados e disso tenho provas, a começar pela Copa de 70, quando eu tinha 14 anos e quebrei a cama do meu irmão comemorando aos pulos sobre ela o gol de empate contra o Uruguai e por sorte meu irmão não estava deitado, senão teríamos tido grave caso de agressão familiar, absolutamente inaceitável entre irmãos que inclusive são amigos e torcem para o mesmo time, que perdeu recentemente um tetra-vice-campeonato para o Flamengo, e lembro e compartilho que em 1981 eu assistia a um jogo do Botafogo contra o São Paulo em uma casa em Poços de Caldas e no gol do Perivaldo o meu sapato foi na parede que era branca e ficou preta e nem por isso o dono da casa comemorou, acho que ele era São Paulo ou Flamengo, e contra este o Botafogo se sagrou campeão em 1989 e eu abracei e caí junto com meu já mencionado único irmão na arquibancada, e uma vez eu ganhei uma garrafa de vinho e um saca-rolhas e quando sozinho resolvi beber o vinho, o cabo do saca-rolhas saiu e a broca ficou presa na rolha e esta no gargalo e eu tinha ganho também duas chaves de fenda e um martelo e primeiro tentei com uma chave de fenda puxar a rolha e esta ficou presa na rolha, depois tentei com a outra a mesma coisa porque a primeira ficou presa e depois tentei empurrar a rolha para dentro batendo o martelo no cabo de uma das chaves de fenda na rolha e ela teimosa não entrou e eu fiquei com duas chaves de fenda e a broca tudo preso na rolha e esta ainda dentro do gargalo e aí eu fui para o banho de sandálias havaianas por precaução para quebrar e quebrei a garrafa para recuperar minhas chaves de fenda e a garrafa quebrou embaixo do gargalo e eu tive que desistir e jogar fora os restos da garrafa e o gargalo com rolha, broca e duas chaves de fenda, tudo preso, tudo junto, sem ter bebido um só gole do vinho, e na semana passada eu estava em uma usina hidrelétrica com 3 amigas especialistas em saúde e segurança que foram comigo às 2 horas da tarde a um lugar onde o rio desaparece debaixo de uma ponte de pedra para só aparecer alguns quilômetros depois e eu caí nas pedras da ponte e me levantei poucos metros depois e fui socorrido às gargalhadas por uma delas e aí voltamos para a usina e quando eu, que dirigia o carro desde a vinda, me aproximava da cancela da usina, como poucos minutos antes eu tinha perguntado ao guarda por ela responsável onde ficava a tal ponte de pedra, naturalmente que inconscientemente devo ter pensado que o guarda era bom de matemática e física e ele aliás comprovou que era e é, pois eu passei direto pela cancela e o guarda pimba, saiu da guarita e comandou a cancela com uma rapidez de Falcão e uma precisão de Einstein e estamos todos vivos e o automóvel e a cancela intactos. Murilo, de futebol não entendo nada, mas achei prudente contar essas coisas, porque, se me convidarem para futebol, copos sobre a mesa, se o jogo for de vôlei, por favor, longe de mim e, se tiver cancela, gritem, Mario, olha a cancela.