10.18.2005

O GLOBO E O DIÁRIO

O GLOBO desse Domingo teve a seguinte manchete:

“REFERENDO CAUSA CORRIDA POR ARMAS E MUNIÇÃO”.

Quem acompanha este Diário de um Mario leu na semana passada o seguinte:

“Quem jamais pensou em comprar uma arma deve agora estar vivendo a aflição dos últimos dias: tem que ser agora, pois, após o dia 23, poderá estar impedido de adquirir uma arma legal (no sentido de dentro da lei – claro). É possível que quem já possui uma arma esteja formando um verdadeiro exército dentro de casa, também possuído pela mesma aflição dos últimos dias. (...) se você é um aflito dos últimos dias, não perca tempo: vá à loja mais próxima e arme-se. Por causa desses aflitos, é de se imaginar que o comércio de armas legais esteja faturando como nunca”.

Melhor não insistir no assunto – mas não deixa de dar um certo gostinho que esse Diário tenha antecipado o óbvio (nada mais que o óbvio) e sua publicação.

Pra comemorar, esse futurismo há de não ser do óbvio – e se arrisca a prever que um dia acontecerá o que previu Chico Buarque, em sua Valsinha:

E foram tantos beijos loucos, tantos gritos roucos como não se ouviam mais... Que o mundo compreendeu... E o dia amanheceu... Em paz.

Para que isso aconteça, é preciso antes de tudo lembrar da velha terceira Lei de Newton.

Bush vai se armando e ameaçando e vendo fantasmas no mundo todo e também ao sul do seu país. Seus olhos de ave de rapina miram tanto na tríplice fronteira - que lembra a tríplice aliança de tempos idos e que serviu a re-arrumações na mesma tríplice fronteira de hoje, então a serviço de outros da mesma origem de Bush, anglo-saxônica - como na Amazônia, principalmente na Venezuela – onde a referida lei newtoniana é apimentada por uma apaixonada formação militar e propalada como ideológica, de Hugo Chaves, que vai se armando e ameaçando e vendo fantasmas no mundo todo e também ao norte do seu país, em processo assustadoramente re-alimentador daquela lei – que foi ninada no mesmo berço dos primeiros anglo-saxões.

Nos tempos de Dom Pedro I e Simon Bolívar, nosso então imperador, sábia, política e diplomaticamente soube deixar de meter nossos antepassados em intermináveis turras na região que Bolívar chamava de Grã-Colômbia (que ia até a Venezuela). Talvez esse, quem sabe, tenha sido ensinamento mais profundo que possa ser profundo qualquer debate sobre (des-)armamento.

E é só. Melhor: lembrar também de Vinicius de Moraes com Tom Jobim:

Vai e canta a última esperança, esperança divina, de amar em paz...

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