11.13.2008

5 SENTIDOS

Que expliquem isso tudo como quiserem, mas o fato é que a maioria de nós é sensível à beleza, à lua por trás das nuvens, se entristece quando a chuva fica por tempo demais, toma banho de sol artificial no lado do globo que permanece mais tempo no escuro que no claro. Cães nos respiram. Por que seus olhos miram fundo nos nossos enquanto isso, ainda que cientistas encontrem razões químicas, magnéticas, biológicas, permanecerá outro fato: cães nos respiram e nos miram no fundo dos nossos olhos. Melhor ouvir químicos de perfumes. Fundamental será frequentar floriculturas, perguntar onde colhem suas flores vendidas pelos olhos da cara em suas lojas. Literalmente, porque são eles, os olhos da cara, que se fascinam pelas flores, antes, logo depois ou ao mesmo tempo que nossos olfatos. As cores. Leia aí Platão ou Stephen Hawking, pregue o Gênesis na sua mesa de cabeceira, acelere as partículas, beba chá ou vinho. Principalmente, explique o deslumbramento e a afinidade que você tem com o mar. A lua, o ser que não é, que somente reflete uma explosão que dizem vai durar ainda por algum tempo, está lá, visível, clara, cheia, as nuvens saíram da sua frente e ela se exibe inteira, distante, fria. Fria? Uma moça toca um trompete. Um idiota está ao lado de outro em um carro em alta velocidade e põe a cara para fora da janela do carro e grita uma imbecilidade qualquer. Uma outra moça raspa uma tigela do chocolate que sobrou do bolo que a mãe fez. Uma velha excita-se, porque amanhã é dia de ir ao centro, centro do quê, alguém saberia dizer? Existe um? Crimes passionais, armas passionais, jogadores passionais, corretores passionais, investidores frios. Neste momento, em controlado desespero; mas frios. Quentes são os executivos a seu comando, ambiciosos, incestuosos, fazendo-se de frios. Medrosos. Poderosos. Diplomáticos, serão alguns. Outros, não: raivosos. Outros, não: estrategistas. Cartas. A lua? Apenas o ser que não é, que reflete, é um espelho, uma prisioneira, a girar em torno da outra bola que gira em torno da explosão que perdurará por algum tempo. E as explicações virão da aceleração, da fusão, da fissão, e você não saberá porque ficou excitado com o que viu, cheirou, ouviu, tocou, provou. Se assim for, parabéns.

11.09.2008

O RATO. E O CURSOR.

O rato eletrônico
Fica à minha espreita.
O teclado à espera
Dos meus dedos.
Dois três deles batem nas teclas
O resto à espreita. Todos tortos.
Tanto os que batem como os que olham. Esperam.
O cursor piscando na tela
Que ele diga o que eu gostaria de dizer
Que outros gostariam de dizer e ler.
As palavras me faltam.
Não é diferente quando leio
Quando um livro uma revista uma bula
De remédio é o que eu escolho
Como não diferente é quando assisto a um filme
Um show humorístico
Um show de música
Uma peça
Um balé
Um jogo de futebol.
Em algum instante minha raiva
Minha ira incontida inconfessa
Meu humor
Meu amor sufocado
Há de respirar.
Miro o cursor piscando
Me falta o ar.
Sede tenho pela água a cerveja o vinho
Pelo corpo da amada
Pela mão da filha
Pela palavra do amigo
Pela baforada do cigarro dele
Pelo bom dia do vizinho
Do porteiro do farmacêutico.
De bairro.
De barro.
De mato.
De chão.
De mar.
Nesses tempos de GPS comprei uma bússola
Como todas
Defeituosa: aponta somente o Norte.
Não é do Norte que preciso nem do Sul
Não quero a latitude longitude.
Cursor! me traga
Meu rumo.
Garçom, por favor:
- Palavras.