12.12.2009

OS OLHOS DELAS (para Maria Luiza, minha filha)

A atriz sai de cena de cara lavada. Passa por todos apressada, não olha para ninguém, não quer tirar fotos nem autografar nada, quer a solidão ou a companhia de iguais. Seu melhor momento foi há pouco, no palco, uma atriz e seus olhos, uma atriz é seus olhos. E nada mais, se de fato for atriz. O resto, para ela, é acessório.

A bailarina sai de cena toda sorriso, o cabelo preso e os olhos com a mesma pintura que usou no palco. No palco, ninguém conseguia ver seus olhos embora todos os procurassem, admirando nela o mesmo sorriso de agora, seus saltos no ar, seus giros e o rosto fixo, a volta ao chão sempre firme, segura, leve, como leve é nos braços do par. No palco, era um corpo de baile inteiro, uma orquestra embaixo, - onde os olhos da bailarina? Só agora os vemos, pintados, lindos, o cabelo preso, o sorriso, agora, de perto.

Do que precisa um sonhador, um pragmático, um gênio, um rude, um gentil, o mais completo imbecil arrogante, do que precisa a paz, senão dos olhos de uma atriz durante, senão dos olhos de uma bailarina depois?