7.29.2021

MEMÓRIA EM CHAMAS

 A beleza do surfe, skate, ginástica, judô,  que não se esqueça flagrante injustiça. 

Futebol, vôlei, basquete e handebol, natação.
Marta, Rebeca, Ítalo, Fadinha, Mayra, mais, há mais, 
Pena,
Minha memória pegou fogo
Em um galpão 
Da cinemateca nacional 
Junto
Com a cultura que é sufocada.
E daí? Se nem gente sufocada importa?
Ah! Pra que cultura,
Pra que memória? 
Importante 
É o voto impresso. 
Importante 
É idiotizar.
Ameaçar.
Fazer calar.
Quer saber e rimar?
Vão se ferrar.
Pena
Pena mesmo
É que minha nossa memória 
Pegou fogo.

7.27.2021

UM PAÍS DE ALUSÕES

Um encontro agendado com um representante do governo francês é desprezado e trocado por um corte de cabelo alusivo. Um secretário de governo discursa de modo alusivo. Um outro ajusta a lapela do paletó de maneira alusiva, no Senado Federal. O presidente da Res Pública, da Coisa Pública, recebe sem agenda a neta de um ministro nazista que alude ao nazismo, e fazem o mesmo a presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, outro secretário de governo, um ministro e um vereador, filho do presidente.

É duro ter que lembrar do que tantos de nós dissemos em 2018.

Nele, não.

O que vivemos hoje é a crônica do nazismo anunciado.

7.22.2021

COMUNICADO OFICIAL

 Comunicado oficial.

1. A urna eletrônica é auditável (palavra de engenheiro que já trabalhou com informática e automação industrial) - diga-se aliás que o PSDB acompanhou a auditoria dos votos em 2014 e não se queixou de fraude, só de falta de votos.
2. Voto impresso é voto de cabresto, de ameaça da milícia, de forças terríveis e forças ocultas sobre eleitores, principalmente os que vivem não se sabe como e ninguém quer saber nas favelas dos morros e periferias.
3. O vice-presidente é representante do Edir Macedo em Angola.
4. O ministro da defesa foi consultado por um ministro do STF para saber se haverá eleições.
5. O ministro da defesa - repetindo: da defesa - faz campanha pelo voto impresso, você não leu errado não.
6. Essas atitudes nos tornam uma republiqueta de bananas aos olhos de quem tem olhos.
7. Se vierem a se concretizar, teremos inveja do povo venezuelano e saudades dos nossos olhos.
Florianópolis, data de hoje.
Um atento contra atentados.
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7.16.2021

SARAVÁ, BELCHIOR

 Eram os dias de Tancredo Neves internado. Torcida e piada, tudo ao mesmo tempo, tudo tão brasileiro, humano, nada mais que humano. Tancredo morre, Sarney assume, feriado nacional. Já podíamos falar mal do governo, ver e ler a Playboy. Na praia, mulheres sem a parte de cima do biquíni eram ofendidas, se não agredidas, até presas. Muitos anos depois, o então candidato ferido por uma facada - facada sem partido - teve no episódio inegável fator eleitoral. Agora temos uma espécie de refacada e circula a pergunta: Se ele morrer de soluço, o nome disso seria solução? Meu irmão Luiz Benevides observa: Não, o nome disso seria Mourão. Deixemos de coisa, cuidemos da vida, se não chega a morte ou coisa parecida. Saravá, Belchior. Saravá.

7.10.2021

CARO SENHOR BRIGADEIRO

 Caro senhor brigadeiro, cujo nome não sei:

Acerca da sua declaração de ontem, antes de tudo cabe um esclarecimento. O art. 142 da Constituição da República Federativa do Brasil expressa que as Forças Armadas da República podem ser convocadas por qualquer dos três poderes, para garantia da lei e da ordem. Garantir a lei significa com evidente prioridade respeitar e cumprir a Constituição. Se as Forças Armadas se voltarem contra qualquer dos três poderes – veja, brigadeiro, são três -, evidentemente que estará, ao invés de garantir, afrontando a lei.

Isso posto, cabe lembrar que as armas que estão á sua disposição não lhe pertencem, pois pertencem a quem pagou por elas - o povo brasileiro -, para defesa da Pátria. O senhor não acha uma covardia ameaçar as instituições que à Pátria e ao povo pertencem com as nossas armas, voltando-as contra nós? Além de covardia, não seria isso uma vileza, brigadeiro?

Por último, uma pergunta. Ao fazer a ameaça de que homem armado não faz ameaça, além da gritante contradição, apenas uma respeitosa pergunta à sua pessoa.

Que tipo de homem o senhor é sem armas? Respeitoso? Corajoso? Que adjetivo o senhor daria a si mesmo sem armas?

TRÊS PODERES

 Três engenheiros são suspeitos de corrupção. Alguém diz que os bons engenheiros devem estar com vergonha deles. O CREA então diz em nota: os engenheiros são ciosos de se estabelecerem fator essencial da estabilidade do país. Alguém levaria isso a sério? Por que não? Porque as armas dos engenheiros são sua competência ou incompetência; sua dignidade ou falta de.

Nunca tinha ouvido falar em Omar Aziz. Não tenho motivo para gostar ou desgostar dele. O que esse senador disse ontem foi: os bons devem estar com vergonha dos maus. Ele não ofendeu a instituição. Pelo contrário, ele a elogiou. A instituição é que está se curvando a um indivíduo que a ofendeu quando vestia farda, e permanece ofendendo desde que deixou de usá-la, justamente por ofendê-la.

O Brasil não é república de toga, nem de parlamento, nem de mandato executivo – é uma tentativa de equilíbrio desses três poderes, como em todos os países onde há uma república baseada em ensinamentos gregos de séculos antes mesmo do Cristianismo, que Montesquieu muitos mais séculos depois teorizou em linguagem que se compreende até hoje.

Podres há em toda parte, aqui e no mundo inteiro. Em qualquer instituição ou grupo há gente honesta e desonesta. Não é com “poder moderador” que se combate desonestidade, muito menos um poder armado, que não é diferente de nenhum outro grupo ou instituição (ou todos os generais se chamam Pazuello? Ou Pujol?). É com democracia e com instituições autônomas, e não cooptadas - algo que ocorre aqui e agora, mas - que bom - apenas parcialmente. Pelo menos por enquanto.
Não é admissível vivermos ameaçados de tempos em tempos pelas nossas Forças Armadas, ou sequer cogitar a hipótese de termos nossas armas pelas quais pagamos apontadas contra nossas instituições e contra cada um de nós outra vez.

Afinal, qual seria o pretexto desta vez?

Quem quer democracia, que durma com um barulho desses. Quem quer o covarde silêncio da ditadura, que se enfie debaixo da cama, fantasiado com a bandeira e com tampões nos ouvidos.