11.26.2006

IMPERDOAVEL

Aos meus, mais que raros, cari'ssimos leitores, informo que ate' o pro'ximo dia 6/12/2006 me sera' praticamente impossivel publicar alguma coisa para diverti-los ou entedia'-los (claro que a intencao e' sempre a primeira, mas nao ha' qualquer tipo de garantia para esse tipo de produto). Como pode ser visto, nem acentuar eu posso e escrever em Portugue^s sem acento, mais que desconfortavel, e' perigoso. Por exemplo, se digo que peco, posso estar pecando ou pedindo e, neste caso, nao necessariamente para pecar. Estou fora do ar, fora do clima ameno brasileiro, enfrentando frios feitos com exclusividade para ursos - e ursos polares, naturalmente - e sem acento. E me recuso a escrever "eh" quando quero dizer "e'" e, quando escrevo "e'", fica a pobre da letra em tempo de verbo com duas aspas de um lado e tre^s do outro, em insustentavel assimetria.

Gravi'issimos pedidos de desculpas e at'e breve, com as cro^nicas, os poemas e os capi'tulos de PAREDES QUE FALAM (momentaneamente mudas - mas so' momentaneamente).

Abracos,

Mario.

11.14.2006

MOVIMENTOS

Agenda positiva
Ação afirmativa
Posição assertiva
Palavras expressões contemporâneas
Todas
Querendo dizer não.

Modismos.
Toda hora surge uma bobagem qualquer
Que quando dita pela boca de um dito
Representante
Do povo
Assume seu ar solene
De grossa porcaria.

Protestos.
Nunca se protestou tanto
Inutilmente
Exatamente
Porque nunca se protestou tanto.

Contemporaneamente
O ato de amar
Contra tudo de charlatanismo burrice hipocrisia
Boçalidade
Inclusive o movimento de carros
Transportando vazios
A lugar algum

Plenamente consciente
Da total inutilidade do seu gesto

Permanece protestando.

Assim lhe batizaram sacanagem.

11.08.2006

DE MÉDICOS E MONSTROS

Matemáticos poderão ficar horas discutindo com grande precisão sobre o espaço enésimo. Ficarão aflitos se pelo menos um dos enésimos espaços não servir para que esbocem suas curvas e conforme-queríamos-demonstrar equações. Um deles, só para não ficar de fora, sacará de um computador de bolso a enésima casa decimal de pi.

A Lei das Probabilidades afirma que um físico entrará na roda – que desprezará o espaço onde os matemáticos andaram rabiscando e o próprio planeta Terra surgirá das suas mãos. Em torno dele – é um erro pensar ser correto o contrário – girará todo o infinito espaço, a deixar o enésimo encabulado.

Inevitavelmente invadirá a estratosfera um economista, a desenhar seus gráficos do eixo dos y para o dos x, invertendo tudo – porque foram os ingleses que desenterraram a Economia das valas dos escravos e trabalhadores vinte-e-quatro-horas e, como se sabe, ingleses são canhotos: não à toa, mas solenemente, seus automóveis andam na contra-mão. O recém-chegado recitará debêntures, déficits, superávits e sonetos.

Um contador apresentará a mais perfeita exatidão: aquela onde ativo e passivo se igualam. Na seqüência, um cientista político afirmará: direita e esquerda também.

Quando for a vez das doenças, chegarão os médicos - e muitos: haverá um congresso. Um matemático, após consultar a língua, tornar-se-á sócio do economista, deixando o contador sem palavras: demonstrarão que sintomas multiplicam-se em diagnósticos e estes, em receitas, na razão direta do número de médicos e na inversa do inverso da razão.

Que ninguém queira prever o final – pois, ao invés de advogados, quem chegará serão advogadas.

Exércitos, extra-terrestres, estudantes, desesperados, pacifistas, lixeiros, políticos, aproveitadores e jornalistas vão-se juntar à grande discussão acerca do que seja realmente exato – e apontarão como capazes da resposta os matemáticos, não só por estes dominarem a única ciência humana exata, mas por estarem, desde o princípio – e não era este o verbo – em maior número. Após o incômodo suspense do silêncio que antecede as grandes revelações, aquele do computador de bolso revelará:

- A enésima decimal de pi só é conhecida como enésima. Seu valor não se conhece. A única ciência exata que temos não é exata o bastante para que a última decimal de pi – do velho pi – se revele em seu exato valor, no seu exato e único último lugar.

O silêncio que sucederá o desapontamento será quebrado pela língua, a traduzir-se em infinitos-enésimos idiomas:

- O último não é o primeiro, porque este, dado o generalizado desconhecimento daquele, não se faz conhecido.

Pi.