5.30.2005

O HOMEM QUE FEZ NIETZCHE

Pode ser que você ache o Nietzche um chato, mas, creia: ele nunca existiu. Ninguém anterior ao vídeo-cassete existiu. Quem conheceu o super-oito sabe que isso é verdade. Baudelaire foi uma invenção, como Dostoievski e Tolstoi. E Machado de Assis também. Suas obras, não: são de verdade. Mas Shakespeare? Como Nietzche, nunca existiu.

Nietzche sequer foi inventado: foi feito. Um ator atreveu-se a fazer Nietzche – mais: Nietzche nu. Nietzche nu a dançar como foi encontrado, como ficou registrado, como a situação foi contada e recontada. Nada foi inventado - a não ser Nietzche. Inventado, não: feito.

O nome do ator é Fernando Eiras. Este existe: você o viu, em algum filme ou novela. Se você assistiu a Dias de Nietzche em Turim, cuidado: pode ser que você pense que Nietzche tenha existido; que tenha sido alguém de verdade e não uma ficção de suas obras; mas é o que ele foi - e nada mais.

Pode ser que você ache o filme Dias de Nietzche em Turim chato. Insista, por favor, insista, porque não é. Seja lá como for, tenha a certeza: Nietzche só existe a partir dele; porque um ator o fez. De verdade.

***

Semana passada, o blog deformou um soneto, de versos, muito mais que alexandrinos, quilométricos. Aí ele vai de novo, repartido em barras, para quem o queira reconhecer como soneto. Como soneto é coisa anterior ao vídeo-cassete, acredite: as barras são de chocolate.

Que de tudo eu sei, que o mundo continua girando em torno do sol,/ Que jornais e revistas e estações de rádio e tv publicaram aquilo tudo,/ Que gente se abraça e se mata por aí,/ Que há automóveis e cientistas que insistem que retas são curvas de raio infinito, o// Que faz o universo capotar de vez em quando,/ Que há corruptos e ditadores, alguns, inclusive, soltos, alguns, exclusive, presos,/ Que amanhã será dia e depois será noite,/ Que se chover vamos usar nossos guarda-chuvas de manhã e perdê-los à tarde,// Que se fizer sol e tivermos emprego trabalharemos e/ Que sem emprego assaltaremos um banco ou deitaremos em outro ou sentaremos naquele/ Que nos deixará esperando por uma entrevista,// Que de tudo isso eu sei, mas, hoje, só queria dar parabéns aos meus amigos/ Que vão completando cinqüenta anos, parabéns, Murilo, Dr. Murilo Drummond,/ Que eu tenha a mesma sorte de novembro próximo descobrir por e para quê tantos quês.

Um comentário:

Anônimo disse...

Você viu a matéria da última Veja, que dizia que os blogs e afins viraram coisa séria????
Eu e todos aqueles que já vêm acompanhando o teu trabalho aqui já sabiam disso!
Parabéns. Hoje e sempre.