5.02.2005

MODESTA HOMENAGEM À MÚSICA POPULAR BRASILEIRA

(DE UM MEMBRO DA TRIBO DOS TRASEIROS SENTADOS)


Mario Benevides, Florianópolis, Primeiro de Maio de 2005.


Eu nem li o jornal. Nem toda brasileira é bunda. Assim inicia-se este espetáculo musical, de um membro da tribo dos traseiros sentados - a dos imóveis, incapazes de ir à feira barganhar, na hora da xepa, por juros mais baixos. Nós somos as cantoras do rádio; aumenta que isso aí é rock’n roll.

O que será que será que os papas da crônica atual disseram a respeito do desrespeito presidencial? (Aliás, se você morreu na mesma semana que o Papa, melhor não comentar, mas ninguém ficou sabendo.)

Eu, você, você e eu. Fomos ofendidos, não por ter o presidente se referido aos nossos traseiros – afinal, são parte da nossa anatomia e nos servem de inspiração: homens e mulheres, especialmente do Brasil, não ficariam nada aborrecidos se nascessem com discretos retrovisores, a lhes evitar o movimento para trás com a cabeça, olhando um traseiro que vem e que passa, no doce balanço a caminho do mar.

Agora, falando sério: o Governo é o mais desgovernado endividado da nação. Os juros são altos porque alto é o déficit do Governo, eu e você, você e eu sabemos disso. Como vivemos ameaçados por uma volta da ditadura (você pensava que falaríamos da inflação?), os políticos se dão ao direito da politicagem no lugar da política. Eu, você, nós dois, sozinhos nesse bar à meia luz, sabemos muito bem que quem governa o Brasil não são os teóricos da social-democracia, tampouco idealistas marxistas, trotskistas ou seguidores de Keynes. Quem nos governa são os que pensam nos fazer pensar que se alugam para, de fato, nos alugar, tomar conta, comprar e vender.

Nosso presidente, vendido em clorofila e botox como operário vencedor, não é nada diferente do anterior, o super-acadêmico: já se esqueceram faz tempo do guarda-pó e da beca. Talvez por isso não consigam distinguir o que é derrotado pelas contas do que delas faz pouco.

E a gente ainda paga por isso. Por exemplo, por embates e interesses de chefes de tribo. É preciso estar atento e forte, não temos tempo de temer a morte - e “isso” custa muito caro.

Ponha uma pouco de amor numa cadência e verá que ninguém no mundo vence a beleza que tem num samba não. Se você vier pro que der e vier, lembrar-se que quem espera nunca alcança e que quem sabe faz a hora, aí... A gente faz um país.

Que país é esse?

Por exemplo: hoje vai ter festa no apê e vai rolar bunda-lelê.

Ou não.

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