12.27.2005

O EXTRAORDINÁRIO AVANÇO DA TECNOLOGIA

Difícil encontrar expressão mais batida que esta: o avanço extraordinário da tecnologia. De tão batida, o avanço tecnológico já deixou de ser extraordinário faz tempo. Ainda que você se surpreenda com o fato de seu celular ser mais máquina fotográfica que telefone - ele gosta muito de dizer a você que a rede está ocupada ou, mais ainda, de deixar você com cara de tacho, falando com o éter, por um bom tempo, enquanto você pensava que sua amiga ainda lhe ouvia - ou desculpe, foi engano? -; mesmo que seja incrível o limpador de pára-brisa do carro de seu amigo funcionar com uma simples gota d'água - e pior: sem fazer aquele barulho que o do seu carro faz, rac-rac, bru-bru -; tudo bem que a máquina de lavar roupa da sua tia toque rock-and-roll dos anos cinqüenta, enquanto lava - e passa -, o fato é que tudo vai virando banalidade, a ponto de seu tio nunca mais ter dito "Não há mais nada que inventar", ou perguntar ao éter "Onde é que esse mundo vai parar?".

Procure aí na Internet por artigos de Engenharia, Medicina ou Culinária: 99,3,1416 começam pela expressão-título dessa crônica on-line, underground e muito mais out que in.

Pessoa de bom gosto que é, você vai mesmo é no antiquário, procurar por um abajur igual àquele que havia na casa da vovó, - ou a papeleira - escrivaninha com uma tampa que desaparece lá pra dentro, não há tecnologia capaz de explicar aquilo - parecida com a que você viu quando era criança, no sótão da casa da bisavó daquela garotinha que morava numa casa e não em apartamento; vai visitar cidade histórica, tropeça nas pedras de Parati. Acha o Fusca - aquele, com sobrancelhas nos faróis - um barato (sim, você usa essa expressão ultrapassada: um barato!), e se espanta: "Que carro é esse?" - "Um Puma" - lhe responde o primo, bem mais velho que você.

Pera aí, que agora chegou um e-mail pelo celular, exatamente quando você fotografava aquela coisa que acabou por achar horrorosa, aquele Puma cor de mamão, e sua mãe quer saber onde você anda que não aparece há três semanas, e começou a chover e você não trouxe um guarda-chuva. Pois não é que, desde a Idade da Pedra, chuva é muito boa pra lavoura, mas, pra gente, é uma incomodação danada?

Agora, o avanço tecnológico é impressionante.

Um comentário:

Anônimo disse...

Caro Mário,

tua crônica me fez lembrar de um escrito da adolescência que encontrei perdido numa destas arrumações da vida, pois sou completamente desorganizado para estas coisas. Em síntese, o texto do guri de 14 anos ironizava a chamada "era das comunicações" de então, pondo seu personagem a tentar puxar conversa com um desconhecido que ia passando os olhos de um jornal para uma revista, depois para a TV, daí para o orelhão [!],e, sem notá-lo, não dava atenção alguma ao frustrado personagem que conclui que viviam eles, mesmo, na era das comunicações, mas ficava cada vez mais difícil iniciar um bate-papo num bar.
Assim fiquei eu a pensar, se na era da informação, não estamos cada vez mais alienados do que realmente importa, embora cheios de dados e fatos entrando "pelos sete buracos" das nossas cabeças...mas que "o avanço tecnológico é impressionante", ah, isso é! Um abração e felicíssimo 2.006.