12.05.2005

NOITE DE ANTÔNIO MARIA

"Se eu estiver dormindo, deixe. Se eu estiver morto,me acorde."
(A.M.)
Deve haver no fundo da gaveta uma folha
De papel almaço
Para escrever alguma coisa
Que faça sentido amanhã.

Deve haver no fundo do armário do corredor
Uma garrafa de aguardente
Um vinho bem guardado
Um bilhete
Um retrato.

Deve haver na cabeceira uma agenda
Para não deixar de esquecer
Aquilo que parece importante
E não é.

Deve haver na geladeira
Uma fatia de pudim
Uma garrafa de leite
O telefone dela e também do corpo de bombeiros
Grudados na porta por irritantes ímãs
Que caem sempre que se abre a porta
Da geladeira.

Perto da cama não pode faltar uma terrina
Cheia de água
Embora uma garrafa também sirva.

A cabeceira
A parede da cozinha
A mesa de centro da sala
Deve ser o mais longínquo esconderijo
Do telefone.

À porta do prédio, o porteiro e um botequim
Senão uma boate
No mínimo um cão de caça.

Se nada disso houver
Se não houver ninguém
Melhor ficar atento
Acordado
Porque a morte
Deve andar perto.

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