12.20.2005

VIVEMOS A ERA DA INCERTEZA. TEM CERTEZA?

Vivemos a era da incerteza. E qual foi a era que não foi assim – da incerteza?

Houve um tempo em que se discutia se a Terra era quadrada, chata ou redonda. Descobriram mais tarde que era redonda – como também descobriram que, a depender de onde, em que companhia ou era, a terra pode ser chata. Quadrada ela costuma ser em outros lugares, onde se determina, a depender da era, que a saia não pode ser mini, o top, jamais less, Oscar Wilde, gay, Orlando, homem, Virginia Wolf, ela mesma.

Discutia-se mais: se era a Terra que girava em torno do Sol ou se este é que ficava dando repetitivas, monótonas e incendiárias piruetas em torno do planeta, cheio de água em suas entranhas e superfície.

A era, aliás, já foi do gelo. - E sem uisque! – diria Vinicius de Moraes.

A incerteza era tanta em outras eras que um trovão, seguido de um raio, era tido como castigo divino por se ter traído a mulher ou o marido. Só anos mais tarde é que a ciência provaria que era isso mesmo – embora, em alguns casos, a situação se enquadre é como divino castigo.

Ninguém sabe porque nasce, duvida um pouco de que pai foi mesmo, discorda às vezes de que mãe tenha sido; incerteza nova, por acaso?

Ninguém sabe quando, porque e como vai morrer. E jamais soube ou saberá, ainda que se tenha esmerado ou se aperfeiçoe na precisão do suicídio.

Ninguém escolhe filho nem filha. Ninguém escolhe pai, mãe, irmão ou irmã; nem tio, nem tia, avó, avô – e há vários casos de nascidos sem um ou todos eles. Quando muito, o que se pode fazer é comprar um cachorro, ou se deixar seguir por um, nas ruas, mendigando esmolas e sobras, para o cão e si próprio.

E nem o si é próprio: ou se tem um chefe, um cônjuge, um caso de amor, um sócio, e sempre que se tem um desses também se é tido; próprio, portanto, o si jamais o é. Nem o foi, nem o será – em era alguma.

Tanto melhor que se compreenda, pois, que essa história de era da incerteza é a coisa mais burra e banal de que já se teve notícia. Toda e qualquer era é da incerteza.

Fundamental é conjugar o verbo corretamente: não é “era da incerteza”, mas será incerteza.

A certeza, sim: era.

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