8.03.2005

LINOLOGIA

Os dicionários dirão que a palavra certa é “Limnologia” - ciência que estuda a qualidade das águas doces -, mas o assunto aqui é outro: a Linologia; a lógica do Lino.

Lino tem 104 anos – você não leu errado: cento e quatro anos -, é natural de Florianópolis, não fuma e só bebe quando quer, toca pandeiro e vai, de vez em quando, a São Paulo.

Não vê, não lê e não ouve noticiários sobre crimes; casou uma só vez e enviuvou; é namorador e galanteador.

Lino é uma mistura de bugre com alemão. Bugre: indivíduo dos bugres, tribo indígena do sul do Brasil. Alemão: nascido na Alemanha. De certo descenderá de um inconformado e visionário, que fugiu para um paraíso que aqui se escondia e ainda se esconde, onde nenhum outro branco jamais chegou nem chegará, e casou-se com uma, duas ou três índias - uma das quais deu origem à raça Lino, que veio parar na Ilha de Santa Catarina.

Seu neto dirige um táxi, tem a mesma cor do avô e por volta de quarenta e cinco anos. Vai ao médico e faz os exames recomendados regularmente: de cinco em cinco anos.

Lino planta no quintal da casa onde mora, vai a pé comprar pão, tomate e, uma vez ou outra, cachaça - que bebe aos goles lentos e filosofais, balançando-se em uma cadeira que lhe ensina o movimento da terra em torno do sol com uma precisão que a ciência jamais conhecerá.

Aulas de Linologia deveriam ser ministradas de Florianópolis para o mundo, quem sabe afastando o tráfico e trazendo o mundo de volta, que anda longe e triste, pra lá de Bagdá.


Revisão do original de 26 de julho de 2003. E a guerra continua. Que infantilidade! Ela nunca parou, não é?

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