6.14.2005

O DELTA-DOIDÃO

Um triângulo, com as estratégias Produto, Soluções e Lock-in em seus vértices, representa o Modelo Delta, criado por especialistas em competitividade empresarial. Por respeito a eles, seus nomes serão omitidos, para que não haja confusão – pois, aqui, se falará do Delta-Doidão – modelo cujos vértices são trabalho, prazer e criatividade, com a peculiaridade de que suas arestas são aparadas e, por isso, os vértices, vira e mexe, se desunem.

Por extensão, quem se enquadra no modelo é Delta-Doidão - independentemente de ser uma ou um, tal e qual um ou uma chefe (pois, se chamam você de “chefa”, querem puxar algo de que você é desprovida; caso contrário, é deboche).

Pode ser que você seja alguém com sorte e goste do que faz: você tem prazer no seu trabalho - o que também permite que sua criatividade seja exercida em plenitude. Quando está se divertindo, não pensa no trabalho, mas se pensa, é com prazer. Criando alguma coisa - uma canção, refeição ou confusão -, terá uma enorme sensação de prazer e não de trabalho – mas se também for, nenhum problema: você gosta do que faz. Você não é um Delta-Doidão: seus vértices estão lá, unidos pelas suas arestas.

Você adora seu trabalho, mas, hoje, o telefone tocou mais do que devia. Seu chefe lhe chamou e, no lugar de um problema, lhe trouxe uma encrenca – tirando você daquele lugar que ele chama de zona de conforto, onde ele vive dizendo que não gosta que você fique. A sensação de prazer se foi e a criatividade ficou em casa, de ressaca. Mesmo sem ser um deles ou delas, bem vindo ao mundo Delta-Doidão. Tudo o que você quer agora é prazer – prazer criativo, como, por exemplo, comer pipoca de micro-ondas – sem nenhum trabalho.

Você é mesmo alguém de sorte: o Domingo chegou e você vai à praia com quem você mais gosta. Seu carro está lindo, com os faróis acesos. A bateria descarregou. Com sua criatividade, você, que é mais forte, pede a quem mais gosta e tem idade pra isso que fique ao volante, enquanto você vai chamar o porteiro para que ele o ajude a empurrar o carro. O porteiro, ontem, sentiu imenso prazer criativo comendo uma buchada de bode e, hoje, não veio trabalhar. Serão seus braços e suas pernas os únicos a se esforçar a fazer o carro pegar no embalo. Portanto, as costas serão as suas. Resultado?: dor. Nas costas. Não faz mal: depois do oitavo empurrão, o carro pegou e vocês vão mesmo para a praia.

Você retorna prazerosamente ao útero do mundo, quiçá do universo: o mar! Que sensação! O trabalho é nadar, mergulhar, ficar de barriga pra cima, olhar o céu, imaginar órbitas ainda mais criativas que as dos olhos de quem você mais gosta. Mas, atenção: se você desandar a nadar com espalhafato, além da volta da dor nas costas, todos dirão: é Delta-doidão.

E se, numa sexta-feira, você dançar freneticamente e ficar se esgoelando pensando que está cantando até as três da manhã depois de um simples happy-hour, você pode, até, ser presidente ou presidenta de uma empresa, mas - irremediavelmente - é Delta-Doidão.

Calma: não é nada grave. Palavra do CDDA – Criador do Delta-Doidão, Anônimo. Ou você pensou que era o Carlos Drummond de Andrade? Puxa, obrigado, hein.

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