11.04.2005

A DINASTIA DE RICARDO CORAÇÃO DOS OUTROS: UM BRASIL QUE LIMA BARRETO IMAGINOU E QUASE ADIVINHOU

Romance Inédito de Mario Benevides - Brasil, 2005

- CAPÍTULO TRINTA E TRÊS –

Depois da assim chamada reforma eleitoral e partidária de 2007, dizem muitos que, nas eleições de 2010, a convulsão social foi determinante para a vitória do PIB – Partido Idealista Brasileiro -, formado por vários ex-integrantes tanto do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) como do PT (Partido dos Trabalhadores). Se em 2002 Anthony Garotinho tivesse chegado ao segundo turno contra Lula no lugar de José Serra, era tido como certo que o PSDB apoiaria o PT no segundo turno da eleição presidencial daquele ano; e a passagem do cargo de FHC para Lula, naquele ano, foi tida como pacífica e até mesmo elegante. Portanto, não foi grande surpresa quando a rixa de anos entre os dois partidos terminasse por resultar na formação de um terceiro e sem que os originais que lhe deram origem se extinguissem e mesmo deixassem de apoiar o PIB - como sucedeu. Tampouco foi surpreendente que as acusações de corrupção havidas principalmente no período em que ambos se alternaram nas posições de situação e oposição de parte a parte fossem esquecidas, ainda que lembradas pelos outros partidos, de oposição à coligação PIB-PT-PSDB de 2010 – mesmo porque tinham também contra si outras tantas suspeitas.

Outro fato é que as cassações de alguns mandatos em 2005, ainda que em número inferior ao que gostaria grande parte da população, tiraram de cena alguns dos mais que suspeitos de uso da caixa dois e / ou suborno, muito embora algumas das renúncias tenham trazido de volta ao Parlamento, em 2006, alguns não só dos suspeitos como até dos comprovadamente culpados, tenha sido por desinformação ou por uma espécie de fé inabalável que pareciam merecer dos seus eleitores.

“Contra a convulsão, a união” – esse foi o slogan da chapa vitoriosa em 2010.

O artigo 2° do Capítulo II do estatuto do PSDB (“Dos Objetivos e dos Princípios Programáticos”) definia: “O PSDB tem como base a democracia interna e a disciplina e, como objetivos programáticos, a consolidação dos direitos individuais e coletivos; o exercício democrático participativo e representativo; a soberania nacional; a construção de uma ordem social justa e garantida pela igualdade de oportunidades; o respeito ao pluralismo de idéias, culturas e etnias; e a realização do desenvolvimento de forma harmoniosa, com a prevalência do trabalho sobre o capital, buscando a distribuição equilibrada da riqueza nacional entre todas as regiões e classes sociais.”

Já o do PT, em seu capítulo I (“DA DURAÇÃO, SEDE E FORO), artigo 1°, estabelecia: “O Partido dos Trabalhadores (PT) é uma associação voluntária de cidadãs e cidadãos que se propõem a lutar por democracia, pluralidade, solidariedade, transformações políticas, sociais, institucionais, econômicas, jurídicas e culturais, destinadas a eliminar a exploração, a dominação, a opressão, a desigualdade, a injustiça e a miséria, com o objetivo de construir o socialismo democrático.”

O programa de governo da coligação liderada pelo PIB, a grande vitoriosa das eleições de 2010, continha propostas diferentes mas absolutamente convergentes, não sendo difícil identificar de que vertentes partiram suas respectivas propostas - desde que se conheça um pouco da história dos mandatos e da prática política, como situação e oposição, dos partidos que deram origem ao PIB e a ele se aliaram em 2010, PSDB e PT, que propriamente seus estatutos. Por exemplo:

“AMPLIAÇÃO DE MERCADOS – favelas e periferias constituem-se excelentes oportunidades de rápida ampliação de mercados de diferentes produtos e serviços, mas muito especialmente para concessionárias de água e esgoto. Sob a liderança do Governo, Estado, empresas privadas e sociedade em geral deverão fomentar a capacitação para o trabalho e o empreendedorismo dos habitantes de favelas e periferias para que estes possam se tornar consumidores, pagando suas contas, eliminando conexões irregulares e ilegais (“gatos”), com ganhos de escala e conseqüentemente diminuição da tarifa, eliminação de perdas, menores gastos públicos com saúde e menores tensões sociais. Para tanto, é preciso vencer o tráfico de drogas, visto ser uma atividade cujas oferta e demanda são contrárias ao interesse da maioria.”

“INCLUSÃO SOCIAL – é preciso desmarginalizar o favelado e o habitante das periferias das grandes cidades. Para isso, é necessário levar as redes de água e esgoto às suas casas, permitindo a eles alcançar o direito constitucional da cidadania e da saúde, o que poderá ser conquistado criando-se para eles oportunidades de justa e lícita auto-geração de renda, através do emprego, da formação de cooperativas e de pequenas empresas, afastando a criança, o adolescente e o adulto da marginalidade, do tráfico e do consumo de drogas.”

Ricardo V percebeu a afinidade daquelas idéias com as suas, contidas em seu best-seller “A Revolução Brasileira de 2017”, publicado um ano antes da vitória da coligação e seu programa de governo. Por isso, filiou-se ao PIB e passou a freqüentar algumas das suas reuniões e convenções, em Brasília, em Goiânia, no Rio e em São Paulo, além das havidas em Minaçu, muito raras e pouco freqüentadas, diga-se de passagem. Ricardo V sofreu forte resistência à sua filiação, além de feroz crítica por parte de escritores, intelectuais de plantão, cientistas políticos e outros setores. Com o sucesso do livro, já alcançara autonomia financeira para não depender da universidade que o mantivera por um bom tempo, à guisa de que desenvolvesse suas teses. Queria conhecer a política profissional para melhor chegar ao seu oposto: a sua sonhada política amadora.

Nenhum comentário: