11.18.2005

A DINASTIA DE RICARDO CORAÇÃO DOS OUTROS:

UM BRASIL QUE LIMA BARRETO IMAGINOU E QUASE ADIVINHOU
Romance Inédito de Mario Benevides
Brasil, 2005

- CAPÍTULO TRINTA E CINCO –

Adivinhar o futuro
ro
tu
fu
Será obra de análise

De
ca
da

De
Todas as possibilidades todas as possibilidades todas as possibilidades
Do

2°.

Este poema concreto de Olga Cristina, irmã do compositor Ricardo dos Outros (ou Ricardo III), publicado em 1972 (ano de sua morte, aos trinta e dois anos), foi minuciosamente examinado em 2002 por alguns dos mesmos patrocinadores da pesquisa – ou pseudo-pesquisa – que desenvolveria Ricardo V, acerca de perspectivas de revoluções na mentalidade brasileira, com conseqüências importantes no exercício da política no país, como afinal acabou ocorrendo, a partir de 2017.

Adivinhos nunca foram – nem serão – novidade. Ao longo da história, suas adivinhações sempre ficam em segundo plano em relação à expectativa que costumam causar. Previsões econômicas, muito em voga nos últimos trinta anos do Século XX e na primeira década do XXI, sempre se voltaram a platéias acostumadas a questionar e depurar o que lhes era dito; o problema é que eram veiculadas na televisão de então, para um público acostumado a questionar e duvidar sem a menor chance de questionar – o que gerou frustrações consideravelmente coletivas.

O que espantou aos patrocinadores de, primeiramente, Rita e, depois, seu marido, Ricardo Coração dos Outros V, ainda em 2002, quando os dois mal haviam chegado a Minaçu, para as pesquisas de Rita sobre a tribo Avá Canoeiro, então com seis representantes a caminho certo da extinção, foi o fato de que aquele poema, escrito havia trinta anos por uma tia-avó de Ricardo V, que falava de adivinhação, tivesse adivinhado (!) o processo de previsão – ou seja: um poema que falava da adivinhação adivinhara... a adivinhação.

Naquele começo deste Século XXI havia uma associação entre universidades americanas, francesas, italianas e alemãs especificamente para estudar o que se convencionou chamar de “A hipótese Deus”. Apenas para efeito de análise crítica, científica, os acadêmicos envolvidos na pesquisa partiram da premissa da existência de Deus. E questionaram-se:

- Por que Ele, que tudo sabe antecipadamente, não imprime profunda mudança de rumo nas coisas, sejam elas extra-terrestres, espaciais, próprias do Universo, ou as mais comezinhas, terrenas, às vezes supostas como grandes causas, mas que sempre costumam resultar em grandes ou, raramente, pequenos conflitos? Evitar catástrofes, pestes, fomes intermináveis, cobiças altamente predatórias do resto dos demais, porque não, se havia o dom da premonição, adivinhação, predestinação, e esse dom era um dom exclusivo de Deus?

Sem conseguir responder a essa questão, os “scholars” pesquisaram como poderia ser o processo adivinhatório ou premonitório dos fenômenos naturais, principalmente os humanos. Tomando uma hipotética vida humana como elemento de ensaio, aquele grupo de estudiosos da América e Europa concluíram que, se fossem conhecidas as características daquela vida - seu passado, hábitos, contatos, aspirações, amores, frustrações, limitações, anseios - e se a cada nova decisão que esse indivíduo tivesse que tomar fossem analisadas todas as suas possibilidades, várias previsões poderiam ser feitas – mas finitas; se for verdade que se tenham esgotado todas as possíveis opções para a decisão a ser feita por ele. Um processo de refinamento contínuo de cada hipótese do conjunto finito de hipóteses identificado e delimitado acabaria por reduzi-lo, até que se descobrisse – adivinhasse! - exatamente a decisão que a pessoa viria a tomar. Entretanto, seria necessário que se criassem softwares poderosos de levantamento e depuração das hipóteses de decisão, de modo que sua antecipação pudesse realmente acontecer, isto é, antes, evidentemente, que ela fosse tomada. Algo como costumam fazer os jogadores de xadrez, detetives particulares, centrais de inteligência das nações mais poderosas do mundo ou amantes que se supõem traídos – mas em velocidade muito maior, a ponto de que fosse possível modificar o próximo passo, seja a favor da pessoa que tem a indecisão à sua frente, seja daqueles que se beneficiarem da manipulação do destino alheio. Assim supuseram aqueles pesquisadores de mais de quinze, quase vinte anos antes deste 2020.

Por que Deus não faz isso, não interfere no destino dos homens, ou se o faz é de forma incompreensível a eles, os scholars não conseguiram responder; mas o desenvolvimento da informática e das comunicações é por demais veloz, dotando a ciência humana perfeitamente capaz de interferir na vida - na própria ou alheia, como se lhe aprouver, a depender do quanto se detenha de dinheiro e / ou poder. Talvez isso faça a diferença entre a divindade e a humanidade; mera especulação que constou da conclusão dos estudos daquele grupo de pesquisadores do início do Século XXI. Mas o poema de Olga Cristina persistia em intrigá-los; e era só um poema.

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