11.15.2005

MEUS CINQÜENTA ANOS

Quando foi a vez de Manuel Bandeira, ele disse ter feito cinqüentanos; mas era o Manuel Bandeira. Já Rubem Braga disse mais ou menos assim (não acho o livro dele com a crônica, porque o marceneiro não aprontou algumas prateleiras – pôr a culpa no marceneiro, só quem tem cinqüenta anos é que pode (e eu ainda não tenho)): “Cheguei à metade da minha vida sabendo que a segunda metade será menor que a primeira”.

Pois nem essa certeza eu tenho. Vivo no século XXI, os americanos até na lua já estiveram, provavelmente inventarão a pílula dos cem anos. Bem verdade que terríveis furacões mostraram algumas das suas deficiências, principalmente sociais. Quem sabe na África ou aqui mesmo essa pílula já não foi inventada e só eu não estou sabendo?

Pelo menos uma coisa é certa: a disputa entre a devastação e a descoloração permanece acirrada. Refiro-me ao couro cabeludo, claro; no meu caso, por enquanto está dando empate, mais ou menos de 5 a 5. Fios.

Não conheço Europa nem França, mas a Bahia, sim. Nasci no Leme e freqüentei Portela, Mangueira, Salgueiro e Vila Isabel. Conheço ainda Goiás, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul e do Norte, Alagoas, Pernambuco, Sergipe, Ceará, Pará, Maranhão, Paraíba, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais. Pra que mais? Ouvi jazz em Nova Iorque, Chicago e Nova Orleans – eu conheci Nova Orleans! Estive em Dallas, Houston e uma outra cidade texana, onde comi o pior churrasco do mundo; Miami, Orlando, fui à Disney! Hartford, Connecticut. Em Saratoga Springs, na companhia de dois Carlos, comi sopa em prato de pão, e fomos os primeiros e últimos a deixar o bar daquela cidade, que parece de brinquedo, em uma tarde-noite de Domingo. Em Denver, conheci mansões de brancos e casarios de negros e um bode montanhês. No dia seguinte, um motorista de táxi, da Somália, me disse “Yesterday, we were completely East”. E eu completei: “Today, we are completely lost.”

E cheguei até aqui. Nascido no Rio de Janeiro, morando há cinco anos em Florianópolis, sim senhor, sim senhora. Casado, pai de uma filha – uma só filha – de onze anos. Aos quarenta e nove! O que eu poderia querer mais? Pois, por mais que eu me esforce em me esmerar na minha particular chatice, onde vou há gente generosa, que vira minha amiga.

Mais: saúde e doença, alegria e tristeza, riqueza e pobreza, são coisas ditas pelo Padre e que acontecem a qualquer momento, nada têm a ver com idade alguma. As mulheres continuam lindas, minha mulher ainda gosta de mim; sou um homem de sorte. Um homem de sorte, que nasceu em um país cuja probabilidade de se viver muito mal é muito grande – e eu, homem de sorte, vivo bem. Muito bem.

Muito bem. No próximo dia dezessete, vou fazer cinqüenta anos.

Preciso interromper agora, porque aqui, na praia, alguém me pergunta se tenho as horas. Não - eu respondo -, não as tenho, não. E nem as quero.

mariobenevides.blogspot.com 15 de novembro de 2005.

Nenhum comentário: