4.24.2006

DILEMAS

Suponhamos que hoje seja dia de folga e que nada de sério se deva comentar. Vamos falar de pequenos dilemas diários, na vida de quem pode se dar ao luxo cada vez mais raro do lazer. Um dos grandes quem vive é o carioca da Zona Sul do Rio – não, ninguém vai falar da dúvida entre usar ou não relógio, onde guardar o dinheiro do assaltante, ou, para os mais abastados, blindar ou não blindar, eis a questão; como dito, hoje é dia de folga. Falamos do carioca que ainda vai à praia, que se convenceu de que poluição não dá em praia, um cara simples, de hábitos simples, que dá seus mergulhos, se deita na areia e dá uma andada olhando quem vem e que passa a caminho do mar, lembrando Tom e Vinicius, como quem não quer nada. Esse carioca viverá, a cada dia de sol que não for de fim de semana ou feriado a angústia de não poder ir à praia; e quando for Sábado, Domingo ou feriado, se estiver fazendo sol, terá que se proibir de passar por perto dos bares do Leblon – porque, se o fizer, viverá um dilema típico de sua alma de homem simples e que mora perto do mar sem ser numa favela: o bar ou o mar? Os bares do Leblon têm um burburinho e um chope e um tira-gosto que são impossíveis de resistir, a esse indivíduo de quem falamos pelas costas. Ele irá sofrer demais se passar por aqueles bares; por isso, resoluto, irá direto para a praia, passando por transversais somente de edifícios, butiques e lojas de sucos – e olhe lá; pois, se forem dessas que vendem sucos também de cevada, olha o dilema aí, gente. Agora, se um mineiro ler este parágrafo, sentir-se-á o mais feliz dos homens, não é? Minas não tem mar; é bar - e pronto. Dilema zero.

Tem também o do indivíduo que está com uma sede danada e, ao mesmo tempo, vontade de fazer xixi. E agora? O que fazer primeiro?

Ir ou não de terno parece ser coisa do passado. Depois que se percebeu que terno e gravata vestem a maioria dos defuntos, esse traje vai-se tornando cada vez mais raro. Hoje é todo mundo casual. A depender do nível social, a pronúncia será a inglesa; mas deixa pra lá: o bom é poder deixar o terno dentro do armário e abraçando um cabide, o máximo tempo em que assim for possível.

Um dos bons: vou a pé ou de bicicleta? A pé a gente é adolescente; de bicicleta, criança.

Telefonar ou não pra ela? Opa – devemos pedir desculpas: dissemos que não falaríamos de coisas sérias.

Mas nenhum é pior do que aquele do carioca. Portanto, você já sabe: se estiver no Rio nas redondezas do Leblon com intenção de ir à praia, nada de passar perto do Jobi, do Clip, etc.

A não ser que você seja mineiro. Ou que não goste tanto assim de praia. Dizem que está poluída, não é?

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