1.10.2006

FRAGMENTOS

Saímos de férias. Rio, Parati, Petrópolis, Buzios. Amanhã, Salvador. Chuvas em Parati são uma calamidade, não há preservação que justifique a inexistência de uma drenagem decente. No mais, bons restaurantes, muita alegria e música, o casario ainda é preservado e, que civilizado!, não se anda de carro no Centro Histórico. Em dia de mormaço, um passeio de barco alivia toda dor, que dirá ensolarado. Palocci estava em um dos restaurantes onde almoçamos tarde, quase noite. Dois puxa-sacos, dos mais nojentos, ficaram de pé às minhas costas, dizendo porcaria e mais porcaria ao ministro, suas bundas fétidas em ridículas bermudas de jeans à altura dos meus ouvidos - eu, sentado, olhando o porto lá fora, bebendo uma paradisíaca batida de pitanga com casquinha de carambola. Dei um safanão na cadeira e, aí, os dois vis, desprezíveis como o esgoto jogado imbecilmente na rede pluvial, tocaram-se, mexeram-se, deixaram-me na paz que todo ser vivo bem merece, bem mais que os mortos. Lembrei-me de um verso de uma canção que fiz faz tempo: "Ministros vistos, tão mal-quistos, desligo a televisão". Ali, não havia um botão, mas minha cadeira fez a vez dele.
***
No centro de Petrópolis, um casarão antigo é, agora, hotel e restaurante: Solar do Imperador. Belíssimo lugar, boa comida, paz de espírito. De resto, o cheiro de chuva, cigarras, pássaros, arzinho frio, toda minha infãncia permanece ali.
***
A sobrinha de minha mulher, Bia, me pergunta, Tio Mario, porque você não fica bêbado quando bebe? Não tive resposta pra ela, mas passei a tê-la aos chatos e chatas de plantão:

Não bebo muito
Apenas
Bebo bem.

À amada, direi:

Bebamos, bem.
***
Buzios é um buticão cercado de mar e beleza por todos os lados. Aos chatos e chatas de plantão, buticão é aumentativo de butique, não de botequim. Mas, se quiserem que seja, ora, assim seja. O que me lembra a frase de um amigo, Paulo Otoni: "Eu também não gosto de chope. É por isso que tento acabar com ele.".
***
Do Rio não falo, é que meu coração ficou lá.
***
Assisti a um dos vídeos do Chico, aquele sobre seu mundo feminino. Ele se diz um vouyeur, um vedor, que, na verdade, nada entende do mundo feminino, apenas tem por ele imensa curiosidade. Pois eu, modestamente, parei no tempo, vivo na mesma época de Álvares de Azevedo, sou um trágico. Assim, decreto: Às mulheres, a pobreza deveria ser proibida. Como é triste ver uma mulher pobre!
***
Nelson Rodrigues tinha razão: Deus só frequenta as igrejas vazias. As cheias vivem cheias de homens e mulheres vazios. Pode não ser o seu caso, mas é que...

Mercado que toca Renato Russo às nove e meia da manhã deveria ser interditado.
***
Não aguento mais me perder. Ando pelas ruas com o pensamento numa canção, numa peça que quero escrever, um solo que ainda farei ou, então, uma comédia em dois atos, eu e uma atriz, mais ninguém, nem cenário quero, o infantil que escrevi pra minha filha e que farei o possível para montar ainda neste ano. Pronto: passam praças, viadutos, tu nem te lembras de voltar e, eu, já estou fora do ar, fora do caminho, onde foi mesmo que larguei o carro, em que rua temos que entrar?, como sofre quem anda comigo!
***
Amanhã, Salvador.
Saravá!

Nenhum comentário: