9.06.2005

IMPRESSÕES AO DIRIGIR

Nova Lima fica entre Belo Horizonte e Ouro Preto, em Minas Gerais. Estou hospedado em um hotel de negócios, criado especialmente em função de uma instituição de ensino, a Fundação Dom Cabral, ligada à PUC de Minas. Dom Cabral foi um bispo preocupado em aproximar a Universidade às empresas; daí ter surgido um curso com o nome dele para administração de negócios - um MBA (lê-se emm-bi-ei), como cunhado em todo o mundo. O hotel e o prédio onde acontecem as aulas (uma semana, de domingo a sábado, a cada dois meses) ficam num condomínio de casas em torno de uma lagoa, onde já foi uma mineração. Antes das aulas, a Fundação organiza caminhadas, precedidas e encerradas por exercícios de alongamento – destes que a gente tem a impressão de que a real intenção é a de nos preparar para outra profissão, de um mercado disputadíssimo: a dos artistas de circo.

Era aí onde eu queria chegar: essas caminhadas são conduzidas por belas e competentes e simpáticas e pacientes profissionais. E o ar é de montanha e hoje de manhã estava friozinho, parece ter chovido um pouco de madrugada. É bom demais! Demais da conta, sô.

Na ginástica de encerramento da caminhada de hoje, um amigo (Cascaes, natural de Florianópolis) comentou ter visto um gavião pousado em um transformador de poste, acrescentando que, de certo, não era um gavião qualquer, pois o condomínio é de luxo. Aí nossa professorinha (Graziela) disse que uma sua tia uma vez tirou do congelador um pedaço de carne e o pôs na janela e depois flagrou um gavião “de todo tamanho” se fartando daquela natureza morta. Expressões como “de todo tamanho”, dentre outras tão especialmente mineiras, dão bem o tom dessas Minas Gerais, de montanhas e profundezas feitas por coisas desconhecidas de nós, pobres mortais, mas percebidas por alguns como muito mais preciosas que o minério que batizou a província que virou Estado.

E onde terminar essa crônica preguiçosa? Numa canção que fiz em parceria com outro amigo e colega de MBA, que se chama Luís Henrique Vieira Vaqueiro, que, no começo da madrugada passada, em típica situação de república de estudantes, dedilhando num bar para uns poucos de nós seu belo violão, tocou uma melodia e me desafiou: Mario, faz a letra. Depois eu faço, respondi. E ele: Não. Tem que ser agora. Afinal, a letra foi feita em papéis de anotações de bolso que sempre trago comigo, na hora, como proposto, e ficou assim:

Fosse um país qualquer / se fosse uma mulher / se fosse uma bandeira / se fosse uma canção / um rosto, uma nação.
Era um país qualquer / um rosto, uma mulher / um morro, uma ladeira / amor, declaração / de paz, de escravidão.
Audácia de viver / em um país assim / audácia de te amar / de te ver nascer / de dentro de mim.

Tudo isso não passa de um punhado de meras impressões ao dirigir durante alguns momentos a própria vida. Coisa que, convenhamos, é de todo tamanho.

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