10.30.2008

MARIA DO REASSENTAMENTO

Outubro de 2008, viagem ao sul do Brasil, com meu amigo Julio Pavese

Dürrenmatt, que pronúncia tenha seu nome,
Que palavras tenha usado,
Pensando em quem pensa em Deus,
Disse assim:
Tudo o que o homem sabe ouviu de outro homem,
O homem precisa do homem.

Maria concreta
Maria da catequese
Maria que já não é.
Maria do Movimento
Maria que já não se sabe se é.

Que é casada se sabe,
Que é bonita se vê,
Que fala um quase italiano se percebe.

Naquilo em que Maria crê
Só seus olhos dizem,
Mas, o que dizem os olhos de Maria?

Maria chegou da chuva
Descalçou suas botas na varanda – botas de borracha -
Entrou na casa da irmã,
Sentou, cruzou suas pernas nuas, contou:

Minha mãe se matou.
Quando viemos pra cá.
De depressão.

O que Maria não disse
Foi que a depressão tinha nome
O nome do pai de Maria.

Foi à polícia e deu queixa:
Meu pai abusa de mim.

O pai de Maria foi preso.

O pai de Maria está solto,
Longe, distante de Maria,
Longe, da irmã e do irmão de Maria.
Faz 20 anos que eles, irmão e irmã de Maria,
Toda noite, dormindo, sussurram:
Ave.
Maria.

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