10.30.2006

UMA ESTRANHA FREQÜÊNCIA

Silêncio. Parece que os automóveis perderam suas buzinas. A festa da democracia é um tanto barulhenta. A festa acabou e que alguém faça o favor de lembrar o poema do Drummond.

Silêncio. Possivelmente será feito silêncio das investigações em curso: já não interessam a mais ninguém.

Silêncio. Governo e Oposição começaram a tramar ruidosamente contra nós.

Silêncio. A bomba norte-coreana começou a explodir. Silenciosamente.

Silêncio. Do lado de cá do planeta, tão somente se contam as mortes e explosões que acontecem do outro lado; por aqui, são silenciosas.

Silêncio. No morro e no apartamento. Jamais a bala perdida foi tão silenciosa.

Silêncio. Muito silêncio, porque a briga da família vizinha é como punhais cortando a nossa carne e, nos nossos ouvidos, o som da nossa morte.

Silêncio. Faz-se necessário um minuto de silêncio para que você possa ouvir o zumbido insuportável que não lhe deixa os tímpanos – que, bom, Drummond, se o zumbido fosse a falsa vienense.

Silêncio. Uma rosa nasceu – faz tempo que ela nasceu num verso do Chico Buarque, mas rosas são como estrelas: somente percebemos seus sons e luzes quando já não mais existem.

O que ainda nos faz lembrar Cartola e Olavo Bilac.

Para quê tanta ciência?

Silêncio.

Nenhum comentário: