11.08.2006

DE MÉDICOS E MONSTROS

Matemáticos poderão ficar horas discutindo com grande precisão sobre o espaço enésimo. Ficarão aflitos se pelo menos um dos enésimos espaços não servir para que esbocem suas curvas e conforme-queríamos-demonstrar equações. Um deles, só para não ficar de fora, sacará de um computador de bolso a enésima casa decimal de pi.

A Lei das Probabilidades afirma que um físico entrará na roda – que desprezará o espaço onde os matemáticos andaram rabiscando e o próprio planeta Terra surgirá das suas mãos. Em torno dele – é um erro pensar ser correto o contrário – girará todo o infinito espaço, a deixar o enésimo encabulado.

Inevitavelmente invadirá a estratosfera um economista, a desenhar seus gráficos do eixo dos y para o dos x, invertendo tudo – porque foram os ingleses que desenterraram a Economia das valas dos escravos e trabalhadores vinte-e-quatro-horas e, como se sabe, ingleses são canhotos: não à toa, mas solenemente, seus automóveis andam na contra-mão. O recém-chegado recitará debêntures, déficits, superávits e sonetos.

Um contador apresentará a mais perfeita exatidão: aquela onde ativo e passivo se igualam. Na seqüência, um cientista político afirmará: direita e esquerda também.

Quando for a vez das doenças, chegarão os médicos - e muitos: haverá um congresso. Um matemático, após consultar a língua, tornar-se-á sócio do economista, deixando o contador sem palavras: demonstrarão que sintomas multiplicam-se em diagnósticos e estes, em receitas, na razão direta do número de médicos e na inversa do inverso da razão.

Que ninguém queira prever o final – pois, ao invés de advogados, quem chegará serão advogadas.

Exércitos, extra-terrestres, estudantes, desesperados, pacifistas, lixeiros, políticos, aproveitadores e jornalistas vão-se juntar à grande discussão acerca do que seja realmente exato – e apontarão como capazes da resposta os matemáticos, não só por estes dominarem a única ciência humana exata, mas por estarem, desde o princípio – e não era este o verbo – em maior número. Após o incômodo suspense do silêncio que antecede as grandes revelações, aquele do computador de bolso revelará:

- A enésima decimal de pi só é conhecida como enésima. Seu valor não se conhece. A única ciência exata que temos não é exata o bastante para que a última decimal de pi – do velho pi – se revele em seu exato valor, no seu exato e único último lugar.

O silêncio que sucederá o desapontamento será quebrado pela língua, a traduzir-se em infinitos-enésimos idiomas:

- O último não é o primeiro, porque este, dado o generalizado desconhecimento daquele, não se faz conhecido.

Pi.

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