9.22.2008

A CRISE

Do pré-sal ao colapso financeiro mundial, passando por Bolívia e Venezuela aqui ao lado, há um leque de opiniões e manifestações, de sábias a sabidas, sem esquecer a dos sabichões – sempre de grande impacto emocional, revestindo o mesmo conteúdo das mais sábias opiniões sobre a crise e o aquecimento global: ninguém sabe ao certo onde isso tudo vai dar. A não ser as capas de algumas revistas, cujas manchetes garantem que sabem, que mostram caminhos e soluções, a nos deixar perplexos quanto à burrice da maioria, especialmente a sabida, que ou não lê as revistas ou as lê e não as compreende.

O vendaval do crédito era mesmo feito de vento e, afinal de contas, de que são feitos os vendavais? E o que fazem os vendavais, a não ser nos dar a esperança de uma boa transformação e de verdade nos jogar areia e poeira nos olhos?

A crise de 1929 é o fantasma que arrasta suas correntes aos pés das camas dos casais e das mesas dos financistas e investidores, além de levar de roldão cama e mesa dos duros de sempre, Opa, cadê meu prato? Ih, minha casa voltou no mesmo caminhão do prêmio que a trouxe, Querida, aonde vai você, ah, aonde não importa, e sim com quem, tudo bem, mas de algemas, bem?

Somos ou não à prova de crise – é a questão do momento. Onde é que estávamos em 1929, alguém produziu um manual dela, que servisse para outras que viessem depois?

Há. Um romance de William Kennedy que virou um filme de Hector Babenco. Ironweed. No filme, Jack Nicholson e Meryl Streep nos papéis principais, dramas particulares, antigos, revividos nos anos da terrível depressão, e um magistral Tom Waits, figurante, interpreta um sujeito que, logo no começo, comemora: descobriu que tem um câncer.

A associação do pré-sal brasileiro com o câncer do personagem de Tom Waits seria de todo precipitada, ou pior: rasa - ao contrário das profundezas do óleo, não se sabe ainda se tão promissor quanto, desde já e tanto, festejado.

Mas uma coisa é certa: se as crises são dos bancos, quem sofre de medo, de dor, quem se dobra aos ventos, é arrancado e atirado às pedras pelos vendavais, somos nós.

Alguns, de algemas; outros, sem.

Um comentário:

Edson Junior disse...

um texto profundamente rodrigueano. e agradável.