9.06.2008

AINDA SOBRE A GUERRA

É gente ilustre que defende que o Brasil só progredirá se aqui houver uma guerra.

Curioso, porque gente ilustre teve – e tem - acesso à escola, à História, Geografia, Matemática...

A guerra uniria. Pense aí em supostas uniões decorrentes das guerras: a soviética; a alemã (isto é, sua desunião, só recuperada mais de 40 anos depois da Segunda Grande Guerra); tente, tente, vá em frente, você, acompanhado dessa porção de gente ilustre que quer – prega - a guerra.

A guerra desenvolveria tecnologia; ocorre que, sua ausência, também. Assim tem sido – ou não?

Mas, vamos ao Brasil, veja se o que falta ao país são mesmo as guerras: à sua história.

Foi guerra entre português e índio, português e francês, português e holandês, branco e preto; índios fuzilados nos anos sessenta e setenta do Século, qual, mesmo?, Vinte (ou agorinha mesmo, no Vinte e Um?); Guerra do Paraguai, Guerra dos Farrapos – com direito a degolas em série -, Guerra de Canudos; Revolta da Armada, Dezoito do Forte, Revolução Constitucionalista; o Brasil foi à Segunda Guerra, você sabia, gente ilustre? Sabia que morreu gente, naquela guerra? E gente brasileira, rapaz! Morre gente em guerra, ih, você nem sabia disso, - e morre violentada, decepada, sem perna, explodida, queimada. Duas ditaduras; guerrilha urbana e rural, repressão, tortura, meninas deitadas em um campo de futebol e soldados fazendo xixi em cima delas. Você sabia, gente ilustre? Se sabia...

Essa “gente ilustre” costuma dizer também que o brasileiro é passivo, que o brasileiro não tem memória; e tome estudantes pernambucanos, Tiradentes aos pedaços pendurados por aí, passeata dos cem mil, porões, edsons, vladimires enforcados, caras pintadas, tudo isso é passivo e sem memória, porque a história oficial a elimina, como elimina autores brasileiros das bibliotecas das escolas; igualmente porque há essa suposta gente ilustre que a tudo ridiculariza - mas, esta, atenção: já está devidamente catalogada nas bancas, livrarias e em laboratórios especialistas em parasitas.

A história acabou coisíssima alguma, porque a do Brasil, pelo menos, continua. Balas perdidas, balas achadas - em corpos infantis, inclusive. A guerra continua, percebe, gente ilustre? Pobreza medida a duzentos e cinqüenta reais por mês: quem ganha isso é pobre; menos que isso, miserável. Seja pobre com duzentos e cinqüenta reais por mês e grite, alto e bom som, Eu quero uma guerra!

O Brasil pode precisar de um monte de coisas para progredir; mas não é de guerra que o Brasil precisa, porque já a teve e a continua tendo. Não é de guerra, nem dessa gente que diz que a deseja, confortavelmente, em seus pufes, frente às câmeras, sorrindo, debochada, balançando-se, como a sofrer de hemorróidas ou a tentar, inutilmente, unir, sem guerra, seus dois únicos e inúteis neurônios. Não, não é de guerra, nem desse tipo de ilustre que o Brasil precisa.

Nenhum comentário: