8.02.2008

SÁBADO, HOJE, AGORINHA MESMO

A previsão era chuva e de fato o dia começou com um vento Sul daqueles, chuva, frio. De repente, o Nordeste – o vento que leva seu nome porque é de lá que ele vem. Mudou tudo: um início de tarde ensolarada, quente, o apartamento se torna opressor, vamos para a rua, caminhar na Beira Mar.

Devagar, por favor. Se a caminhada tem como um dos objetivos queimar gorduras e toxinas, hoje, tudo o que menos se quer é objetivo. É dia de adjetivo, dos mais banais, batidos - lindo dia, lindo mar, puxa, que sol maravilhoso. Uma gaivota tem seus dois pés de gaivota sobre as costas de outra gaivota, um duplex de gaivotas na areia mirando o mar da Baía Norte de Florianópolis. Mais adiante, uma outra sobre a pedra admira a regata, lá fora, perto do continente; estamos na imensa Ilha de Santa Catarina.

De repente, um casal visivelmente humilde, duas crianças, seu cão, que desconhece humildade e soberba, sabe o que é bom: o mar. Poluído? Para ele, não - negro cão, pelo curto, descendente de labradores, invejável vagabundo. O pai de família, seu casaco quadriculado de descendente de lavradores, fora de lugar; a mulher, mestiça, a corrente que serve de guia ao cão quando ele precisa pertencer à outra raça – a humana – brandindo nas mãos. Ele, o pai:

- Um tarado, filho da puta, com o pinto na mão, estava no banco se exibindo para menino pequeno. Um tarado, filho da puta, desrespeitou minha família, tem que prender.

- Onde ele está?

- Foi embora, foi pra lá, tem que prender ele.

A mulher:

- Eu dei com essa corrente nas costas dele, ele saiu correndo.

Vamos embora, vamos em frente, vamos, porque já íamos, na mesma direção do tarado, que já deve ter sumido. Cadeia, para ele, será pena de morte; manicômio judiciário, o que seria? Cortar o pinto dele, seria boa sugestão? Mutilar seu cérebro?

Anos antes, no Aterro do Flamengo, Rio de Janeiro, um camarada masturbava sobre o banco da bicicleta parada. Uma moça, despachada e revoltada, disse a ele:

- Cara, vai procurar uma mulher de verdade! – e o tal cara pôs seu objeto de prazer solitário e ostensivo, invasivo, para dentro das calças e se foi, pedalando – não se sabe se para, de fato, procurar uma mulher de verdade.

Uma água de coco. Um gaúcho, muito educado, é quem conta que a manhã começou tenebrosa e depois veio o vento Nordeste, mudando sua história. Um policial passa devagar com sua moto na ciclovia; é notificado. Sobre o tarado. Sobre a família ultrajada e ameaçada, seu nobre cão vagabundo e contente, sua mais marcante referência.

É hora do almoço.

Nenhum comentário: