8.21.2008

MADE IN BRAZIL

Meu caro amigo Enrique:

Eu, na praia do Leme, com menos de 15 anos, como se fosse, agora, amigo de escola das nossas filhas, de peito, de cabeça, de letra ou sem querer, colocava na gaveta e afirmaria que, se Nelson Rodrigues houvesse consultado o Sobrenatural de Almeida, não teria afirmado, como afirmou, que Antônio Callado era o único inglês de verdade. Lá, onde a coruja dorme, teria deixado escrito:

- Há um segundo: ele se chama Enrique.

Fato é que você, London, London, no centro do mundo financeiro, comandante de transações transnacionais, sempre correto, sempre rigorosamente observando e respeitando as leis e as leis de mercado, como inglês de verdade e Made in Brazil, não consegue deixar de ser notorious às vistas da Scotland Yard. As a matter of fact, sequer se esforça a escondê-lo.

Você foi flagrado: um raro como legítimo botafoguense.

O agente da Scotland, de súbito revelando o secreto chapéu coco sob o arranjo de jardim que secularmente brotou na cabeça dele, sobrepondo-se ao rubro tórax cheio de dourados botões, guardiões do palácio de Buckingham, brande sobre sua brasileira e botafoguense face o britânico distintivo - que venta terríveis, tamisentos, brumosos ventos. Acintosamente, ele acusa:

- Filipão is ours, thank you very much, sir.

E você, inglês de verdade, segundo e único, altivo, seguro, afirma:

- O Botafogo está no G4 do brasileirão. Ocupa agora o 3° lugar. Hoje, quem perdeu do fogão foi o Cruzeiro; domingo passado, quem, mesmo? I bag your pardon, Mr. Policeman: I do not remember.

Mr. Scotland joga ao chão seu chapéu coco e se retira. Nelson Rodrigues entra em cena trazendo Shakespeare pelo braço, um, em tricolores, outro, em rubro-negras vestes. Uma faixa preta com uma cruz vermelha surge do nada, cheia de bigodes. Baixa o pano e, neste, se lê, preto no branco:

FIM DO PRIMEIRO ATO.

Alvinegros abraços,

Mario.

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