6.04.2007

PAULO JOSÉ, FALCÃO E QUANDO MENOS VALE MAIS: QUANDO?

O ator Paulo José, administrando bem os sobre-movimentos que lhe são exigidos (mal de Parkinson), com a mente e o caráter tão caracteristicamente seus – brilhantes - a lhe saírem pelas palavras e silenciosas e rápidas e fulminantes pausas, com seus jovialíssimos setenta anos de vida, é entrevistado no Programa Roda Viva. Às tantas descreve uma cena do filme adaptado e homônimo do romance de Fernando Sabino, “Faca de dois gumes” - ainda que não exatamente com essas palavras:

“Eu fazia o pai de um jovem seqüestrado que acabava de receber um estojo com o pedaço do dedo do filho dentro. Como reagir? Como fazer a cena?”.

O ator, então, faz umas duas ou três tentativas de uma possível dramatização do choque de um pai vivendo tamanha tragédia, repetindo a mesma frase com diferentes entonações (todas dignas do grande ator que é): “MEU FILHO.”. “MEU FILHO!”. “MEU... FILHO...”.

E conclui por dizer o seguinte:

“Em certas horas, o melhor é não fazer nada.”.

Agora – dirá você, para este narrador de entrevistas alheias -, lá vem você falar de futebol e – pior - de mais de vinte anos atrás.

Brasil contra Rússia, Copa de 1982. Um jogador brasileiro dispara um chutão, da intermediária, de frente para o gol. Falcão está na meia-lua, esperando pela bola. O que ele faz? Não faz; abre as pernas e a bola passa, ligeira, implacável, reta: gol do Brasil.

Na mesma Copa, em um outro fatídico e inesquecível jogo, o Brasil precisa de um empate, contra a Itália. Está 2 a 1 para a que viria se sagrar campeã; só que, naquele momento, ninguém sabe disso (a não ser o Sobrenatural de Almeida - não é, Nelson Rodrigues?). Da mesma meia-lua, o mesmo Falcão dispara, de canhota, um chute mortal: gol do Brasil.

Era hora de fazer - e não de não fazer.

Depois, como se sabe, o time deixou de fazer quando deveria ter feito e Paolo Rossi marcou o terceiro gol da Itália, que tirou o Brasil da Copa, com uma das suas melhores seleções de todos os tempos.

Voltando à entrevista do Paulo José: em outro momento, ele comenta sobre o desejo de muitos da presença de soldados do Exército nas ruas, para combater a violência; e pergunta:

“E se eles gostarem de ficar nas ruas?”.

Pois é, Sheakspeare: há momentos em que ser ou não ser vira fazer ou deixar de fazer. E a questão passa a ser: - Quando?

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