6.04.2007

NU

NU

Era muito especializado

Vivia de bico de boca do que desse e viesse
Namorava quem se desse
Não tinha nome não tinha cara
Nem cara de pau ele tinha
Cara nenhuma
Parecia disfarce topete chapéu capa guarda-chuva

Não era moleque nem bandido
Marginal no sentido literal
Vivendo à margem
Do rio
Da linha do trem
Da sala de visitas
Do anfiteatro
Da pista
De alta velocidade

Ia lento
Ritmo
De quem passa a vida observando e deixando
Não mais que a própria sombra
Na lembrança de quem fosse
Que tivesse encontrado
Beijado
Esbarrado

Ninguém sabe se deixou filhos mulheres amantes viúvas
Diplomas

Deixou sapatos sua capa e o guarda-chuva
Sumiu de repente
Ninguém sabe se morreu
Ou se foi embora nu
Pela porta dos fundos

Da vida.

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